Qual é o nosso lugar no mundo? Em que tempo vivemos? Tempo é lugar? Espaço passa correndo?
Enquanto a gente vai se questionando, quatro super músicos do rock nacional vão criando e, principalmente, vivendo tempo e espaço como sendo a mesma coisa. É? Será? Tempo e espaço são a mesma coisa?! Para quatro dos músicos mais requisitados do rock nacional são sim. Juntos, eles recriam o tempo sonhando no espaço. Explico melhor:
O ano era 1983 e Rodrigo Santos, Nani Dias, Ricardo Palmeira e Kadu Menezes formaram o Front, uma das mais promissoras bandas surgindo no Rio de Janeiro. Em 1984, são convidados pelo produtor João Augusto para participar da coletânea “Os Intocáveis” (CBS). Fazer parte de coletâneas, ditas “paus de sebo”, era o caminho para uma banda subir degraus. Eles subiram. Fizeram sucesso na coletânea e partiram pro próximo degrau: o compacto, mais uma praxe dos anos 80. No lado A, “Dengosa” entra na trilha sonora do filme Rock Estrela; e “Olhos De Gata”, o lado B, entra na coletânea da rádio Transamérica. Entrar em coletânea de rádio! Nos anos 80! Pronto, o caminho estava traçado. Que nada!
No meio do caminho tinha um Leo Jaime! Leo foi não só o produtor do compacto, mas também era o patrão: Rodrigo, Ricardo e Kadu faziam parte do João Penca e Seus Miquinhos Amestrados, a banda de apoio do Leo, um artista de grande sucesso desde essa época. É, além do Front ser uma banda promissora, seus integrantes eram músicos cada vez mais respeitados. E requisitados! Juntos e separados prestaram grandes serviços para Barão Vermelho, Kid Abelha, Cazuza, Lobão, João Penca, Leo Jaime, Blitz, Paulo Ricardo... tá bom ou quer mais? Era tanta estrada, tanto sucesso, tanto de tudo rolando que a banda foi ficando num segundo plano. Segundo não, o Front foi ficando num lugar de muito carinho no coração de cada um. Uma emoção adormecida, como uma daquelas garrafas com mensagens que se joga no mar até um dia alguém encontrar. E esse dia chegou!
Hoje, 40 anos depois, todos músicos pra lá de reconhecidos, produtores musicais de sucesso, seguem sendo amigos. Foi num encontro sem grandes pretensões, para tocar num festival, que eles perceberam que seguem sendo Front e que estava na hora de tirar a rolha da garrafa. Tá cheia de mensagens!! De cara, 50 músicas que serão transformadas em 5 álbuns. Os dois primeiros saindo agora em outubro e o terceiro pra ser gravado em novembro no estúdio mais famoso e inspirador do planeta: Abbey Road. Sairão de lá com o terceiro álbum e um documentário dirigido por Pedro Paulo Carneiro.
Falando do agora temos os dois primeiros trabalhos: “Tempo I Espazo” e “Espazo I Tempo”. São 14 faixas, 11 delas da parceria Rodrigo e Nani, todas num clima retrô-futurista que remete a David Bowie, Duran Duran, The Cure e LCD Soundsystem. Dois discos gravados em um mês. Uma banda faminta! Não é nem o caso de querer recuperar tempo perdido, até porque, para todos eles nenhum tempo foi perdido. A hora é agora, aqui é o lugar. É disso que eles falam. Tudo é destino. Tudo é busca. Presente, passado e futuro ao mesmo tempo. É urgente!
Canções como “Warning” alertam para o fim do planeta e o mal que fazemos uns aos outros. “Noite” é a busca de equilíbrio na corda bamba de ser feliz ou infeliz. “Redor do Radar” bota lupa na desumanidade, a falta de empatia, a ansiosa sensação de falta de tempo e estar perdido no espaço. Estaremos todos nós com os localizadores desativados como diz a letra da bela canção? É tudo pressa, urgência, um transbordar de músicas e letras que juntas dão a sensação de estrada, caminho, ainda que seja por um intricado labirinto. Um labirinto desses a gente não sai. Nem quer! Então sigamos em Front!
Merecem destaque as capas dos álbuns, ambas assinadas pelo designer gráfico Jampa. Segundo ele, o som da banda remete a “festas interplanetárias orbitando um pop solar”, e assim temos os quatro integrantes da banda transformados em entidades futuristas.
Front é uma banda do seu tempo querendo ocupar mais espaço aqui e agora sabendo que a estrada vem de longe. Amizade e música para viver as melhores recordações do futuro. Como diz a letra de “Me’n my Luv”: “O que virá, o que vai ser, não me pergunte, só sei que vai acontecer”.
Depoimento exclusivo Rodrigo Santos
“O mais interessante de toda essa história é nos redescobrirmos como músicos e produtores, nesta altura do campeonato, em que só nós temos uma história para contar. Isso é algo que nos motiva, nos inspira, e estamos focando bastante na cena eletrônica, nestes primeiros dias, nestes primeiros discos. Como serão vários álbuns, pretendemos criar conteúdo atemporal para entrar na discografia brasileira, como compositores, produtores e artistas. Apesar de ser uma celebração de 40 anos, na verdade, estamos olhando para frente, sem nostalgia.
É como se fôssemos uma banda nova no mercado, onde muitos reclamam da falta de novidade. Estamos aqui para provar que existe sim muita coisa boa para fazer, muita novidade acontecendo, e nós seremos parte disso. Não como uma banda mais jovem, como éramos antigamente, mas sim como uma banda madura e preparada para diversas experiências”.
Ouça aqui:
Álbum 1 - http://tratore.ffm.to/fronttempo
Álbum 2 - http://tratore.ffm.to/front
Ficha técnica:
Rodrigo Santos – voz e baixo
Nani Dias – voz, guitarra, violões, programações
Ricardo Palmeira – guitarras
Kadu Menezes – bateria
Direção Geral – Pedro Paulo Carneiro
DISCO 01 – TEMPO I ESPAZO
1 - Me’n’ my Luv (Nani Dias / Rodrigo Santos)
2 - Danza do fogo (Nani Dias / Rodrigo Santos)
3 - Redor do Radar (Nani Dias / Rodrigo Santos)
4 - Sábado em Saturno (Nani Dias / Rodrigo Santos)
5 - Outro mundo (Rodrigo Santos)
6 - Labirinto (Nani Dias / Rodrigo Santos)
7 - Sonhando no Espazo (Nani Dias / Rodrigo Santos)
DISCO 02 – ESPAZO I TEMPO
1 - Warning (Nani Dias / Rodrigo Santos)
2 - 3 Tá Legal (saudades) (Nani Dias / Rodrigo Santos)
3 - Noite (Nani Dias / Rodrigo Santos)
4 - Rubia Cumbia (Nani Dias / Rodrigo Santos)
5 - Duas estrelas (Nani Dias)
6 - Mais de 1000 páginas (Leandro Verdeal / Nani Dias Ricardo Palmeira / Rodrigo Santos)
7 - Eu sou do Front (Nani Dias / Rodrigo Santos)