A Globo foi condenada a indenizar a Veruska Donato por impor uma "ditadura da magreza" que a deixou doente. Condenada em primeira instância, a emissora poderá ter que pagar mais de R$ 8 milhões à repórter.
Em janeiro de 2023, a ex-jornalista da casa abriu um processo por direitos trabalhistas, denúncias de misoginia (ódio às mulheres) e etarismo (preconceito por idade). A jornalista foi contratada pelo canal por mais de duas décadas, mas se desligou da líder de audiência em novembro de 2021, após ficar 77 dias afastada por ter adquirido a síndrome de burnout.
Segundo Veruska, ao se aproximar dos 50 anos de idade, ela passou a receber críticas da chefia da área de figurino "quanto a flacidez, ruga ou gordura fora do lugar". Ela se queixou que o "ambiente misógino" a levou a "apresentar variação de humor com agressividade, isolamento, irritação, ansiedade e depressão".
No processo, os advogados da jornalista anexaram um comunicado distribuído pela direção de jornalismo da Globo, em 2017, com regras de beleza apenas para mulheres. A lista ia desde a cor de esmalte até a vedação do uso de franjas, porque dariam um "visual frágil e infantilizado".
O juiz Adenilson Brito Fernandes, da 37ª Vara do Trabalho de São Paulo, reconheceu que "a perseguição estética [da Globo] importava na ditadura da magreza", configurando "misoginia intoleravel. “O empregador pode impor padrões mínimos em seu ambiente de trabalho, mas não pode exigir condutas, comportamentos, padrões de vestimenta, de peso, de idade, aparência, de cor do cabelo, penteado, etc., pois isso tem a ver com autodeterminação individual e privada do trabalhador".
"Ainda que existam estudos, estatísticas de que a televisão pode ditar padrões, esse tipo de conduta se encontra superado atualmente, o próprio reclamado tem procurado se adaptar a essas mudanças”, escreveu o juiz. O magistrado determinou que a Globo pague apenas R$50 mil de indenização, além de uma multa de R$3,5 milhões referentes a direitos trabalhistas.
A Justiça exigiu que a emissora assine a carteira de trabalho de Veruska de 2022 a 2019, tempo em que ela foi PJ, com um salário de R$52.582, e que receba também adicional por tempo de serviço, residuais de aviso prévio e 13º, vale refeição, FGTS, multa de 40%, horas extras e adicional noturno.
No entanto, os advogados da jornalista consideram o valor extremamente conservador e afirmam que a soma final deverá ficar acima de R$ 8 milhões.