Aí você está chutando tampinhas com a mão nos bolsos sem botar fé que o rock morreu, como tem sido apregoado há uns bons anos - eu te ouço conversando, sua boca não se move, mas eu te ouço falar -, ou que a maturidade chega e seus ouvidos se tornam exigentes e por isso mesmo, dizem os caducos, não pega bem ficar curtindo durante anos a fio aquela pauleira de bateria, baixo, guitarra, às vezes piano, e um vocalista doidão. Rocks off, amigos!
Stones? Ah, faça-me o favor! Morrissey? Bom, coisa velha! Mas saiba o seguinte: as lendas estão cotadas pra tocar no Brasil neste ano. E o ex-Smiths tem duas datas mês que vem, dia 22 no Espaço Unimed, em São Paulo, e dois dias depois, Ópera Hall, Brasília. Isso mesmo, o rock está vivinho. Se era para o vocalista responsável por decretar a morte da rainha já ter se apresentado por aqui, os roqueiros anciões fizeram aumentar essa expectativa ao lançarem o disco “Hackney Diamonds”, com o qual começarão a correr os EUA, em abril próximo.
Sim, é apenas rock ’n’ roll, mas eu gosto. Ainda em fevereiro - me perdoem, leitores, pela traduçãozinha mequetrefe - os homens irão trabalhar. Men at Work, cara! Importante explicar aos mais jovens: a new wave deles, com verniz de music surf, estourou nos anos 80. Em 1979 na cidade de Melbourne, Austrália, Colin Hay (voz e guitarra) se juntou a Ron Strykert (baixo), Jerry Speiser (bateria) e Greg Hamna (flauta e sax), que tocarão os hits “Down Under”, “Overkill” e “Who Can Be Now” no Rio (17), Curitiba (20) e São Paulo (21).
Ô, yeah, um velho vaga sozinho! Aqualung, meu amigo! Vamos alucinar ao som do progressivo tocado por Jethro Tull, banda que ajudou a levar essa vertente erudita do rock para o mainstream, nos anos 70. O trabalho mais popular de Ian Anderson (vocais, flauta, violão e mais tarde diversos outros instrumentos), Mick Abrahams (guitarra), Glenn Cornick (baixo) e Clive Bunker (bateria) é o disco “Aqualung”, que expõe visão intelectualizada do grupo sobre a sociedade, sobretudo o desgosto dos compositores com religião organizada.
O público goiano poderá assisti-los caso se desloque, em abril, para Porto Alegre, onde tocam no dia 10. Não será a única data deles no Brasil, entretanto: Curitiba os recebe no dia 12 e São Paulo, dia 13. No entanto, prepare o bolso, porque os ingressos saem a partir de R$ 699. Segundo o vocalista, em comunicado oficial, o show revisitará músicas progressivas, especialmente as antigas, que o músico define como suas primeiras tentativas fora do blues com o qual começou - caso de “Aqualung”, “Cross-Eyed Mary” e “Locomotive Breath”.
Ian diz que, nos últimos 50 anos, houve algumas canções que nunca deixaram de lhe acompanhar com constância. “Embora pareçam difíceis de tocar, e algumas de fato são, é impressionante como caem sob meus dedos naturalmente, embora os arranjos gerais necessitem da minha memória”, afirma, sobre riffs elaborados, pontes certeiras e ganchos precisos. Naquele tempo, início dos anos 70, o ouvinte de rock esperava algo cabeça. Basta olhar pra cena goianiense da época: Akuarius Seven e Os Tarântulas eram progressivos.
Lenda e sensação
Celebrando seis décadas de carreira, o controverso mas brilhante guitarrista Eric Clapton cruza o Atlântico para demonstrar seu virtuosismo nas seis cordas elétricas. Ele será escoltado pelo músico norte-americano Gary Clark Jr., sensação da black music contemporânea. Tem enorme capacidade de misturar hip-hop, funk e rock ‘n’ roll num núcleo estético originado no blues, fazendo seus dedos elaborarem licks sensuais nos fraseados guitarrísticos. Daí ter sido comparado a Jimi Hendrix e Stevie Ray Vaughan.
Aos 37 anos - ainda vai criar bastante discos fodas, pode apostar -, é considerado um dos talentos da música produzida neste século. Clapton, fanático por blues, acerta ao condivá-lo para abrir seus shows no Brasil, mas faz ser inevitável fugir da polêmica: tornou-se alvo do movimento Rock Against The Racism após o mítico músico britânico apoiar o ex-ministro reacionário Enoch Powell. Depois, na pandemia, compôs uma canção bem arranjada com Van Morrison criticando a vacina, num episódio decepcionantemente confuso, ou nem tanto.
Mas Clapton, como bem sabemos, é Clapton. Essa é a terceira vez que toca no Brasil - a primeira foi em 1990, a segunda onze anos depois e, por fim, passou aqui na década passada. Em setembro próximo, o músico sobe ao palco do Ligga Arena, em Curitiba, no dia 24, e segue para Jeunesse Arena, Rio de Janeiro, dois dias depois. A passagem pelo País se encerra no Allianz Parque, em 29. Os ingressos custam a partir de R$ 460 pelo app Live Pass.
Outro guitarrista que aporta em solo brasileiro é Slash. O músico do Guns N' Roses está com quatro datas marcadas: Belo Horizonte, Arena Hall, 29 deste mês; São Paulo, Espaço Unimed, 31 próximo; Rio de Janeiro, Qualistage, 1° de fevereiro; e Porto Alegre, Pepsi On Stage, 4 de fevereiro. É possível comprar os bilhetes pelo Eventim a partir de R$ 340. A expectativa é que o instrumentista lance em breve single com a cantora pop Demi Lovato.
Madonna cotada
Ainda na seara, num show único, é certa a presença da banda Jonas Brothers, que se apresenta no Allianz Parque, em São Paulo, no dia 16 de abril. Pelo Ticketmaster, os ingressos saem a partir de R$ 175. Haverá ainda Louis Tomlinson, Karol G, Interpool, Ive, Blink-182, Arcade Fire, The Offspring, Paramore, Limp Bizkit, 30 Seconds to Mars, SZA, Sam Smith, Imagine Dragons, Ed Sheeran, Ne-Yo, Joss Stone, Simple Plan e The Calling. E Madonna e Beyoncé? Bom, resta-nos esperar pelos próximos meses. Estão cotadas.
No rock pesado, Bruce Dickinson, Paul Di'Anno e Iron Maiden estão confirmados no Brasil. Contudo, a lista pode ser ainda maior com as atrações a serem divulgadas nos próximos meses. Os festivais, como Lollapalooza, Summer Breeze Brasil, C6 Fest e Primavera Sounds, vão engordar roteiro de shows internacionais ainda mais. Roberto Medida, fundador do quarentão Rock In Rio, deve trazer AC/DC - além de nomes de peso para a música pop.