Música erudita para todos
Diário da Manhã
Publicado em 22 de março de 2018 às 00:02 | Atualizado há 4 meses
- Um dos destaques da apresentação acontece hoje e amanhã, no CCUFG, com concertos de Thereza Bougard (EUA), Eliane Tokeshi (SP) e Ricardo Kubala (SP)
Com certeza a música clássica dos grandes compositores que o mundo já viu é muitas vezes considerada um prazer para poucos. Mas a boa notícia é que há opções que tem democratizado o estilo tornando-o mais acessível. Bons exemplos são projetos sociais que descobrem talentos na periferias do Brasil ou eventos como a 3ª Mostra Erudita do Estado de Goiás, que está acontecendo desde o primeiro dia deste mês em Goiânia, Corumbá de Goiás, Anápolis e Piracanjuba.
A programação é gratuita e, além de concertos, envolve também oficinas e segue até o dia 21 de abril. Seu maior objetivo é o fortalecimento e popularização deste cenário, além do intercâmbio de músicos regionais, nacionais e internacionais da música de concerto.
Para se ter uma ideia, nomes como o da pianista americana Thereza Bougard, da violinista Eliane Tokeshi e de Ricardo Kubala – que toca viola –, estão se apresentando desde ontem no Centro Cultural UFG (CCUFG UFG). Hoje, eles tocam no espaço obras de Kapustin e Henrique Oswald e amanhã, no mesmo horário, invocam obras de Dvorak e Mozart. Eles se apresentam em pequenos grupos de câmara e acompanhados ainda pelos músicos do cena local: Alessandro Borgomanero, Marcos Bastos, Mirela Righini, Sara Lima e Luciano Fontes.
Para registrar este encontro, ontem, acompanhamos parte do ensaio destes músicos. A pianista Thereza, que já havia concluído o trabalho, compartilhou primeiro um pouco de sua intensa história bem-sucedida junto à música erudita internacional, pois ela é uma performer e professora ativa que já rodou boa parte do mundo com sua música. No Brasil, após Goiânia, ainda faz concertos em Porto Alegre, Florianópolis, Brasília e Campinas e depois segue para Chicago, onde se apresenta no Ravinia Festival.
Uma das marcas registradas da sua atuação é de combinar interesses da música contemporânea, música de câmara e a música de compositores. Ávida por novidades, ela adicionou a música gamelan balinês tradicional a seu repertório e estudou wayang em Bali, na Indonésia. Com o Diário da Manhã, Thereza Bougard foi muito prestativa e, esforçando-se para falar português, contou que desde criança teve contato com a música.
“Sempre gostei do som do piano, aprendi a tocar aos três anos. Minha mãe era professora de música e cresci ao som da música clássica. Então, aprendi a ler partituras antes de ler palavras. Já tive a oportunidade de visitar Goiânia quatro vezes, mas é a primeira vez que participo desta mostra. Estou muito feliz em fazer parte disso tudo e me apresentar em um Estado rico de cultura”, contou a pianista, completando que o evento deu a oportunidade de conhecer músicos como Eliane Tokeshi e Ricardo Kubala.
VIDA MUSICAL
Mas a violinista Eliane Tokeshi e Ricardo Kubala já se conheciam de longa data e juntos até criaram um duo. Também de família de músicos, Ricardo Kubala aperfeiçoou seus estudos em Berlim e obteve os títulos de Mestre e Doutor em Música na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Depois disso atuou em diversos grupos de câmara premiados pela crítica, entre eles a Orquestra Solistas do Brasil (prêmio APCA de melhor conjunto de câmera) e Quarteto de Cordas de São José dos Campos (prêmio APCA de melhor conjunto de câmera).
Se apresentou também em diversas localidades do mundo, fez parte do CD “Sons da Américas”. Contudo, atualmente, é professor de viola no Instituto de Artes da Universidade Estadual Paulista (Unesp), ofício que classifica como um dos mais engrandecedores da carreira. “A sala de aula é onde eu me realizo mais”, afirmou o músico, que no começo da carreira tocava clarinete, mas em um evento nos moldes da Mostra Erudita se encantou pela viola.
E na academia Ricardo Kubala tem percebido boas novas, observando que continuamente nos últimos 30 anos aumentou-se a quantidade e qualidade de músicos eruditos no Brasil. O movimento, ele acredita que tenha acontecido graças a projetos sociais que democratizam este mundo das canções.
Eliane Tokeshi – professora universitária, mas da Unicamp –, diz que as periferias podem tornar-se um mar de talentos. “Cerca de 90% dos meus alunos tiveram contato com a música em algum projeto social”, disse a pianista que fez mestrado e doutorado em violino na Boston University e na Northwestern University.
Ela, que por sua formação e talento é muito solicitada em masterclasses e já lançou álbuns, como “Obras para Violino e Piano de César Guerra-Peixe”, se mostrou muito empolgada em participar de eventos como a Mostra de Música Erudita. Para ela, a proposta, além de ajudar para a massificação da música erudita, também colabora com a difusão da música de câmera, que segundo a pianista é um gênero em que quase não há oportunidade para tocar no Brasil.
“A mostra realmente é uma proposta muito importante para o crescimento e desenvolvimento da cultura e da música. E esta interação entre músicos de diversas localidades e estudantes é muito engrandecedora. Eventos como este precisam virar hábitos, pois não é só mais um evento, a mostra tem vínculo com a cidade e deixará frutos”, argumentou.
INTERCÂMBIO
Para o coordenador do projeto, Marcos Botelho, que é maestro, trombonista e professor da Universidade Federal de Goiás (UFG), o grande foco da terceira edição da Mostra Erudita do Estado de Goiás é essa troca entre os músicos, estudantes e comunidade, pois a arte para ele faz parte de qualquer “grande sociedade”. Sua meta é desmistificar o velho clichê de que a música erudita é para poucos e bons, e mostrar a todos essa prática musical que se estendeu pelos séculos.
“Costumo dizer que não há nada mais popular que a música de Mozart, ela está nos toques dos celulares, nas propagandas, nos toques de espera das empresas etc. Ou seja, faz parte na nossa cultura e da nossa história enquanto sociedade. Democratizar este tipo de música é dar acesso à grande parte da sociedade, a sua própria história e herança cultural”, disse Botelho.
A MOSTRA
A 3ª Mostra de Música Erudita do Estado de Goiás é um projeto contemplado pelo Fundo de Arte e Cultura do Estado de Goiás 2016 e apresentado pela Secretaria de Estado da Educação, Cultura e Esporte (Seduce) e pelo Governo de Goiás. Tem o apoio da Universidade Federal de Goiás (UFG), da Escola de Música e Artes Cênicas (Emac-UFG), da Pró- Reitoria de Extensão e Cultura (Proec), do Centro Cultural UFG, da Secretaria de Estado de Desenvolvimento (SED), do Instituto Tecnológico de Goiás em Artes Basileu França e da Orquestra Sinfônica Jovem do Estado de Goiás (OSJG). A realização é da ArteBrasil Projetos Socioculturais e da Botelho Produções.
CONFIRA A PROGRAMAÇÃO DA MOSTRA:
convidados (Thereza Bougard, Eliane Tokeshi e Ricardo Kubala)
Amanhã – 20 horas – Centro Cultural da UFG – Concerto com músicos residentes e convidados (Thereza Bougard, Eliane Tokeshi e Ricardo Kubala
De 9 a 13 de abril | Oficina de regência -Maestro Thiago Santos (RJ)
6 de Abril – 20 horas – Teatro Basileu França – A História do Soldado (Récita aberta ao público)
12 de abril – 15h30 – Teatro Basileu França – A História do Soldado (Récita fechada para alunos)
15 de abril – 11 horas (horário a confirmar) | Teatro Basileu França – Concerto da Orquestra Sinfônica Jovem de Goiás
21 de abril – 20 horas – Teatro Goiânia – Concerto com camerata de jovens talentos
CONCERTOS NO INTERIOR
Anápolis | 17 de março | 20 horas | Sesc Anápolis – Quinteto Vazavento
Piracanjuba | 13 de abril | 20 horas | Auditório Paulo França – Quinteto Metais do Cerrado