O poço petrificante
Diário da Manhã
Publicado em 21 de fevereiro de 2018 às 00:17 | Atualizado há 4 meses
A cidade histórica de Knaresborough, localizada no nordeste da Inglaterra, possui vários atrativos turísticos. Dentre aquilo que se pode observar na cidade, estão os restos do antigo castelo, várias cavernas e uma famosa Casa da Rocha. Além de tudo isso, existe ainda, na cidade fundada por volta do século XII, um poço capaz de realizar um estranho fenômeno – transformar objetos em pedra em questão de semanas. Ao longo dos anos, vários brinquedos, roupas e acessórios foram deixadas no famoso poço, que acabou tendo suas dependências transformadas em uma espécie de museu popular –tendo em vista que foi aberto ao público pela primeira vez ainda no século XVII, mais especificamente no ano de 1630.
De acordo com David Goran, colaborador do site The Vintage News, o poço, durante muito tempo, envolvia muita mística, e muita gente acreditava tratar-se de um local encantado. “O poço petrificante dá aos objetos a aparência semelhante a de uma pedra. Se um objeto é colocado e deixado lá por um período de meses ou anos, ele adquire um exterior rochoso”, explica. A ciência explica o fenômeno baseando-se na quantidade de minerais contidos na água do local. “Em determinado momento, acreditava-se que essa propriedade do poço era resultado de magia ou bruxaria, mas é um fenômeno totalmente natural que ocorre devido ao processo de evaporação e deposição em águas com conteúdo mineral excepcionalmente elevado.”
O autor ressalta que o processo a qual os objetos colocados no poço é submetido altera apenas a parte externa. Na prática, as águas do “Este processo não deve ser confundido com outro, em que as moléculas constituintes do objeto original são substituídas (e não apenas sobrepostas) com moléculas de pedra ou minerais.” Existem vários poços com essas propriedades espalhados pelo mundo, mas nenhum possui a fama do de Knaresborough, que tem exemplares de coisas de vários séculos petrificadas em seu recinto. Outro elemento que contribui para a reputação deste poço é uma grande rocha que fica na entrada dele se assemelha com um crânio. Os moradores da região, por muito tempo acreditaram que o lugar era amaldiçoado pelo diabo.
RELÍQUIAS
O poder petrificante do poço, por muitas vezes, foi associado ao mito da medusa, e os moradores da região viveram, durante muitos anos, o medo de tocar a água e acabarem petrificados. Esse poço, especificamente, possui a capacidade de petrificar coisas mais rápido do que se espera. “O que realmente impressiona é a rapidez desse fenômeno geológico. Alguns aventureiros deixam objetos nas águas que escorrem, apenas para observar a transformação, que em alguns casos não leva mais que algumas semanas.” O que acontece no posto impressiona vários turistas, como Monty White. “Quando eu vi objetos como ursinhos de pelúcia, roupas, sapatos e chapéus, me dei conta de que estava observando um incrível espetáculo geológico”, conta.
Algumas pessoas aventureiras deixaram objetos cotidianos nas águas escorrendo, apenas para testemunhar a transformação. Os objetos lentamente se transformam em pedra em apenas algumas semanas. “Existem relíquias que podem ser vistas até hoje, como um chapéu vitoriano e uma touca do século XIX – ambos convertidos em pedra sólida. Mais recentemente, as pessoas deixaram ursos de pelúcia, chaleiras e até uma bicicleta no poço, com resultados semelhantes.” O processo ao qual as coisas deixadas no poço são submetidos assemelha-se àquelas estruturas pontiagudas encontradas em cavernas. “Na verdade, o objeto apenas adquire uma concha dura de minerais, da mesma forma que estalactites e estalagmites se formam nas cavernas.”
Não é aconselhado a ingestão de água da região, exatamente devido à concentração de minerais, o que de fato explica o estigma de amaldiçoado lançado ao posto pelas populações antepassadas. “Na verdade, os níveis de calcita na água são tão altos que os visitantes estão proibidos de beber”, conta David Goran. Por outro lado, existiam aqueles que acreditavam no poço como um lugar milagroso. “A história mostra que o poço nem sempre foi conhecido por suas qualidades petrificantes. A referência escrita mais antiga sobre ele foi feita por John Leyland, que visitou o local em 1538. Ele escreveu que o poço era muito conhecido e que os visitantes tomavam banho em suas quedas d’água, pois acreditava-se que ele tinha poderes de cura milagrosos.”