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Pedacinho de Brasil

Diário da Manhã

Publicado em 25 de janeiro de 2018 às 22:42 | Atualizado há 4 meses

Saindo da cidade de Belo Horizonte demoram-se cerca de três horas até che­gar na região banhada pelo Rio das Mortes. A paisagem da jane­la lateral do carro é parte impor­tante desse roteiro: vales e mon­tanhas que dão contexto visual ao visitante. A região é rica, desde sempre, atualmente conta com belas igrejas, casas com arquite­tura colonial, pinturas em barro­co e muita história, marcada por grandes personagens do Brasil. As cidades de São João Del Rei e Tiradentes são heranças da ex­ploração do ouro e também um terreno fértil para intelectuais e pessoas com a cabeça à frente do seu tempo, mas com o corpo e presença no período correto. Em 1702, foi descoberto o ouro na re­gião e logo ergueram o Arraial de Santo Antônio do Rio das Mor­tes, que mais tarde se chamaria São João Del Rei. Muitas vilas fo­ram criadas nessa época e, poste­riormente, se tornaram cidades, como Ouro Preto e Mariana.

Enquanto o ouro durou a re­gião teve muito movimento. Construíram igrejas com deco­rações em ouro que permane­cem até os dias atuais. Os ca­sarões demonstram como a ostentação era algo comum para alguns moradores destas cida­des. Uma vila próspera e com diversas pessoas ricas, graças à extração do ouro, logo daria trabalho para os pensamentos opressores da coroa. A obrigação do pagamento do “quinto”, uma espécie de tributação para a ex­tração do ouro, não agradava os moradores da região. Não se tra­ta de ganância, a coroa cobra­va estes tributos e esta era a úni­ca relação que mantinha com a colônia. Num desses casa­rões imensos da cidade de Tira­dentes, supostamente, em uma reunião entre esses intelectuais surgiu a questão: porque não se­parar o Brasil de Portugal? E pela primeira vez se falava em inde­pendência.

O casarão pertenceu por 12 anos ao Padre Toledo, um dos mais ativos personagens da In­confidência Mineira e senhor de grandes posses. Não existem muitos registros sobre o movi­mento Inconfidente, com a pri­são de Padre Toledo em 1789 boa parte dos seus pertences foram confiscados pela coroa, sobran­do os detalhes do casarão, hoje restaurado, que já demonstram a inteligência e poder aquisitivo do paracó. O refinamento da cons­trução é compatível com habita­ções nobres da Europa e de algu­mas igrejas do século XVIII. São quinze salas, destas nove con­tam com forros pintados com obras primorosas em detalhes, porém de autor desconhecido.

DETALHES

Atualmente a casa funciona como um Museu, tanto sobre a vida do Padre Toledo e o mo­vimento inconfidente, como o Brasil daquela época. Em uma das salas, chamada de Sala dos Cinco Sentidos, várias pintu­ras representam alegorias dos cinco sentidos do homem, com personagens da mitologia gre­co-romana desenhados. Essa evidência mostra o interesse do Padre Toledo por culturais e até religiões distantes do cris­tianismo, demonstrando que mesmo sendo um membro da igreja ele conseguia assimilar que existem outras formas de expressar amor à Deus. A con­formação do teto desta sala faz com que o espaço tenho uma acústica melhor. Por esse fato, acredita-se que o local era utili­zado para saraus literários, mu­sicais e até mesmo reuniões da Inconfidência Mineira.

FESTIVAL

A cidade de Tiradentes rece­be nestes dias (entre 19 e 27 de ja­neiro) a Mostra de Cinema de Ti­radentes. O evento já faz parte do calendário da cidade há 21 anos e movimenta o cenário do cine­ma brasileiro. Toda programa­ção é gratuita e conta com filmes de Goiás, Alagoas, Rio Grande do Sul, São Paulo, Minas Gerais e ou­tras federações. A noite de abertu­ra contou com a presença do ator carioca Babu Santana, conhecido por participar dos filmes Estôma­go, Uma Onda no Ar e Tim Maia. O ator foi um dos homenageados desta edição da Mostra. Neste ano os filmes que concorrem no festi­val vão na temática das políticas contemporâneas e do cenário so­cial do Brasil.

Monumentos e locais históricos:

 

MATRIZ DE SANTO ANTÔNIO

Tiradentes tem dentre suas igrejas a Matriz de Santo Antônio, construída em 1710 é a segunda igreja em ouro do Bra­sil, sendo a primeira em Salvador (BA), é uma das mais belas construções barro­cas do país. No interior do templo há um órgão datado de 1788, considerado um dos quinze mais importantes do mundo.

PREFEITURA MUNICIPAL

Único da cidade com dois andares e uma água-furtada.

CÂMARA MUNICIPAL

Localizada próxima à Matriz, na la­deira que é caminho para esta, cons­truída em meados do século XVIII, servia para abrigar a administração pública no período colonial e impe­rial. A Câmara Municipal de Tiraden­tes foi construída longe da cadeia pú­blica, o que é incomum na maioria das cidades do século XVIII.

ANTIGA CADEIA PÚBLICA

Construída em 1833 e 1845, no lo­cal da velha cadeia incendiada, é um prédio sólido e austero com janelas de cantaria protegida por pesadas grades. A Vila de São José foi uma das poucas a possuir a cadeia em prédio próprio, separada do prédio da Câ­mara Municipal.

CASA DA CULTURA

Foi construída no século XVIII, possui microfilmes de 280.000 do­cumentos do acervo da Arquivo Ul­tramarino de Portugal e referentes ao Brasil Colonial.

FUNDAÇÃO OSCAR ARARIPE

Realiza exposições de pintura tempo­rárias e permanentes de seu acervo.

CALÇAMENTO

Várias ruas da cidade contam com cal­çamento singular, em pedra capistrana.

PONTE SOBRE O RIBEIRÃO SANTO ANTÔNIO

Ponte em duas arcadas romanas, construídas em pedra sobre o Ribeirão Santo Antônio, em fins do século XVIII.

MONUMENTO A TIRADENTES

Localizado no Largo das Forras, se­gundo monumento a homenagear o he­rói da Inconfidência, construído 1892, pelo povo tiradentino, quando se cele­brou o aniversário da morte do Alferes.

NOSSA SENHORA DAS MERCÊS

Capela rococó do final do século XVIII, com um único altar multico­lorido, dois belos forros com pintu­ras em estilo rococó, cenas alusi­vas à Virgem Maria e imagem da padroeira. Pertencia à irmandade dos pretos crioulos, ou seja, os pre­tos nascidos no Brasil. Toda a pin­tura da capela foi executada por Manoel Victor de Jesus, pintor mu­lato, falecido em 1828, é datada do início do século XIX.

SÃO JOÃO EVANGELISTA

Capela pertencente à irmandade dos Homens Pardos (mulatos), tem fa­chada simples e três altares em seu in­terior. Os altares laterais são em estilo rococó, datáveis do princípio do século XIX e o altar-mor possui fragmentos de talhas de vários estilos. Guarda a Igreja um conjunto de imagens de um mes­mo santeiro, sendo o seu calvário com­posto por peças de mais de dois metros de altura. Ali está enterrado o compo­sitor Capitão Manoel Dias de Olivei­ra. A capela só foi concluída no século XIX, quando foi aberta ao culto.

CAPELA DO BOM JESUS

Capela de dimensões modestas e de­coração singela, mas notável pela sua estatuária e como exemplo da interpre­tação popular do estilo Barroco.

NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO

Capela construída em cantaria (pe­dra), em lugar da capela primitiva, tem três altares de talha de meados do sécu­lo XVIII e os santos negros São Benedi­to, Santo Antônio de Cartagerona e San­to Elesbão.

CASA DO PADRE TOLEDO

Hoje Museu Casa de Padre Toledo é um museu da Fundação Rodrigo Mello Franco de Andrade, ligada à UFMG. O prédio é uma construção do final do sé­culo XVIII, com esquadrias em cantaria lavradas, sete forros pintados, destaca-se aquele que representa os cinco sentidos, com figuras da mitologia grega. Nesta casa morou Padre Toledo, um dos cabe­ças da Inconfidência Mineira. Foi um dos locais onde se conspirou em 1789.

Santuário da Santíssima Trindade

Sua construção data de 18 de outubro de 1822. Nesta igreja ocorrem anualmen­te o Jubileu da Santíssima Trindade.

 

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