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FIM DE SEMANA

Por dentro de um dos museus mais antigos do estado

Documentos de a partir de 1855 e objetos centenários fazem um recorte de como o estado foi organizado e trazem lições para os dias atuais

O turismólogo Matheus Santos é um jovem vilaboense de 24 anos. Mas todos os dias, quando cruza a grande porta do Museu das Bandeiras (Muban), na Praça Brasil Caiado, no Centro da antiga Vila Boa, onde trabalha como guia, entra em contato com uma história de quase 200 anos.

Há três anos trabalha como guia, deste prédio que de 1776 a 1946 funcionou como cadeia pública. Aliás, foi o primeiro presídio do estado. “Na parte de cima do prédio funcionavam os Poderes Judiciário, Legislativo e a Câmara de Vereadores. Já na parte de baixo era a cadeia”, informa.

As histórias e lembranças que Matheus lida diariamente, são pesadas. Uma das primeiras salas que mostra, por exemplo, é a chamada Enxovia Forte, uma cela coletiva, claustrofóbica e escura, que na época não tinha janela e era feita de madeira e ferro.

O guia explica que cerca de 60 a 90 homens condenados cumpriam pena neste espaço, que também não havia portas. “O acesso era feito por esta escada, o único que ficava presa ao teto. O soldado trazia o preso, que descia pela escada”, diz ele, apontando para a grande escada que liga o prédio à parte superior do local

Além da estrutura, o espaço guarda alguns registros do funcionamento do presídio, como a última lista de compras que foi feita antes do fechamento da cadeia no ano 1949. Há também uma carta de um dos presos que pede ao juiz pedindo para que possa tratar-se na enfermaria. “Ao final da carta ele diz: este ato não vai ser visto apenas pelos homens, como também por Deus”, ressalta Matheus.

Outro item guardado na Enxovia Forte está entre os mais chocantes de se ver: rata-se da carretilha da forca, o único vestígio da forca, que ficava no outro lado da cidade, onde atualmente fica a Praça da Manchorra. “A carretilha foi usada ate meados de 1885, quando foi extinta a pena de morte no Brasil”, informa Matheus.

Na cela em que ficava as mulheres, há mais registros de como se constitui o estado. Lá há objetos como imagens da antiga igreja de Ouro Fino, da primeira Igreja do Rosário.

A primeira Cruz do Anhanguera também está lá. Plantada pelo Anhanguera Filho, em 1726, nas margens do Rio Paranaíba, para assinalar a entrada no território que hoje constitui o Estado de Goiás. Ela foi carregada pela enchente do Rio Vermelho em 2001, mas foi encontrada e levada para o museu. Uma réplica ocupa o seu lugar e a original reside no museu.

parte da forca usada nos presos acusados de pena de morte.

O guia do Muban Matheus Santos, 24 anos, viaja no tempo diariamente para contar a história presente no museu

Arquivo do Muban guarda documentos a partir de 1755

Milena Tavares mostra grande acervo do museu.

A parte superior do Museu das Bandeiras é uma Meca para os pesquisadores e amantes de história, que bastam entrar em contato com a direção do museu para ter acesso ao rico acervo. Lá estão embrionários documentos, que remontam à origem, não apenas da Cidade de Goiás, como do próprio estado. Lá há documentos desde 1755.

Uma das responsáveis por organizar e preservar esse acervo é a arquivista do Muban Milena Bastos. “Este documentos estão aqui para as pessoas montarem e remontarem a história e desconstruí-la também”, diz.

Envolta à centenas de caixas de papelão onde parte dos arquivos estão guardados, ela conta que a maioria do acervo do museu vem da antiga Delegacia Fiscal e foi doado à instituição em 1937, quando a delegacia foi transferida para nova capital, Goiânia.

Tal documentação ficou muitos anos no Mercado Muncipal, esperando um futuro museu que seria criado. “Em 1949 o edifício foi doado para União e no finalzinho de 1950, essa documentação começou a vir para o museu. Mas ficou no arquivo, empilhada no chão e chegava até o teto. Começou a ser organizada no final de 1951 e, em 1952 começaram a chegar as primeiras peças para montagem do museu que em 1954 foi aberto ao público”.

Os arquivos da Delegacia Fiscal são de cunho fazendário, como tributos e taxas. Mas ressalta que no museu há muitas outras histórias. “No decorrer dos anos chegaram coleções de outros locais, como do Cartório, do Lyceu de Goiás, uma gama variada de documentos que as pessoas podem ter acesso”, explica.

Milena conta ainda que a diretora do órgão correspondente ao Iphan na época, em Goiás, na época, era dona Iêda Sócrates do Nascimento, que começou a organizar o acervo. A arquivista explica que o museu contou com pessoas de alta patente na organização dos arquivos, do nível de Rodrigo Melo Franco, Carlos Drummond de Andrade e Sérgio Buarque de Holanda.

Preciosidades do museu

Porém, o museu abriga diversos outros documentos, sobre diversos assuntos, como cartas de alforrias de escravos, cobranças de impostos, entre várias outras. Apaixonada por história, não é raro ela se emocionar ao se deparar com algum documento antigo.

Recentemente, encontrou documentos sobre a aquisição da famosa “casa da ponte da Lapa”, quando passou a ser da família da poetisa. “Ela era do recebedor do quinto real e houve denúncias sobre ele, que foi preso. A casa ficou como bem da família real e o trisavó de Cora adquiriu”, conta.

Milena também gosta de viajar no tempo com acervo, na época em que se pagava décimas e não IPTU e a cidade de Goiás se organizava de outra forma socialmente. Pois, se hoje, na Praça Brasil Caiado se concentram moradores de poder aquisitivo mais alto, por volta do ano de 1820, os moradores do local, eram pobres que não tinham condições de pagar a décima. “As margens do rio que era mais habitada”.

No museu há ainda o famoso Mapa de 1782, que traz todo traçado urbano da cidade na época. Ela explica que apesar de ter sido feito em duas cópias, muitos falam que o original está em Lisboa.

Mas o importante é que nele dá para ver o nome das Ruas Antigas, a Rua do Médico, hoje a Rua Felix de Bulhões, a Rua das Violas hoje, que hoje é a Rua Senador Caiado. “Esta rua, que fica aqui ao lado do museu, era uma rua muito movimentada e animada e podem ser que haviam casas de prostituição”

Box:

Veja 4 museus para saber mais sobre a história o estado

Museu Zoroastro Artiaga

Horário de Funcionamento - de segunda a sexta-feira, das 8 às 18 horas, e aos sábados, domingos e feriados, das 9 às 15 horas.

Endereço - Praça Dr. Pedro Ludovico Teixeira, 13 - St. Central - Goiânia

Museu Pedro Ludovico Teixeira
Horário de funcionamento: terça a sexta-feira, das 9 às 17h, e aos sábados, domingos e feriados, mediante agendamento das 9h às 12h e das 13 às 17h.
Endereço: Rua 25, no Setor Sul, próximo à Praça Cívica

Museu Ferroviário de Pires do RioHorário de Visitação: de terça a sexta-feira, das 8h às 11h e das 13 às 17h. Sábados, domingos e feriados, somente com horários agendados.Endereço: R. Francisco R. Naves - Centro, Pires do Rio

Palácio Conde dos Arcos
Horário de Visitação -
de terça à sábado, das 8h às 17h, e nos domingos e feriados, das 8h às 13h.
Endereço: Praça Tasso Camargo (Praça do Coreto), Centro- Cidade de Goiás.

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