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São Paulo Fashion Week comemora 30 anos e enfrenta desafios para alcançar projeção internacional

Edição atual reúne apenas 17 desfiles e aposta em temas sociais e ambientais

Imagem ilustrativa da imagem São Paulo Fashion Week comemora 30 anos e enfrenta desafios para alcançar projeção internacional

Com mais de 2.000 desfiles realizados desde sua estreia em 1995, a São Paulo Fashion Week (SPFW) inicia, neste domingo (6), sua edição comemorativa de 30 anos. Criada por Paulo Borges, a semana de moda paulistana foi responsável por estruturar o calendário nacional de lançamentos de coleções de inverno e verão, contribuindo para a consolidação de uma cultura de moda brasileira.

"Até então a gente não tinha uma cultura de moda estabelecida. Não tínhamos uma organização, uma conexão e um diálogo interdependente. Eram trabalhos muito solitários, muito individuais, o que fazia o processo muito mais difícil e muito mais lento, em todos os sentidos", afirma Borges, idealizador do evento.

A atual edição será mais enxuta, com 17 desfiles restritos a convidados, distribuídos entre o shopping JK Iguatemi e outros locais da cidade. O número é inferior ao das três últimas primeiras edições do ano, que contaram com 27 desfiles em 2024, 30 em 2023 e 38 em 2022. De acordo com a organização, a redução se deve à opção da maioria das marcas por realizar apenas um desfile ao longo de 2025.

Entre as estreias desta edição, destacam-se Leandro Castro, conhecido pela combinação de técnicas tecnológicas e artesanais; e a MNMAL, de Flávio Gamaum, que apresenta uma estética refinada aliada à sustentabilidade.

Apesar de ter vivido seu auge nos anos 2000 e 2010, a SPFW enfrenta atualmente dificuldades para manter sua projeção internacional. A jornalista e consultora de moda Lilian Pacce, que reside em Londres há três anos, aponta desafios estruturais e falta de apoio institucional como entraves ao crescimento global do evento.

"Fazer moda no Brasil não é simples. O mercado brasileiro é muito peculiar, porque ao mesmo tempo que ele é autossustentável, pela dimensão territorial do Brasil, ele fica muito dependente dele mesmo. Ele não consegue quebrar as fronteiras. Não há verba nem apoio do governo", afirma Pacce.

Borges concorda com a avaliação e destaca obstáculos fiscais e estruturais enfrentados pelo setor. "Todas as políticas tributárias estão muito desatualizadas. Tem todo tipo de dificuldade possível para criar marca global no Brasil. A gente tem quantas marcas globais? Havaianas, a Melissa, agora a Farm que está crescendo. É muito pouco."

Outro fator citado por Pacce é a natureza privada da SPFW, diferente das semanas de moda europeias organizadas por instituições como a Federação de Alta-Costura e Moda, em Paris, ou o Conselho Britânico de Moda, em Londres. Para a jornalista, isso compromete o foco no conteúdo apresentado nas passarelas.

"O ideal seria que evoluísse para uma coisa mais institucional, onde o importante é o conteúdo e não a marca SPFW", diz Pacce. Ela também destaca o impacto das transformações digitais no setor. "A imprensa do jeito que existia antes não existe mais. Então a cobertura é menos relevante do que antes e muito mais restrita do que antes. Quantos veículos sumiram, acabaram? Daí tem essa questão das redes sociais que colocou a moda num outro lugar."

Apesar das críticas, Pacce reconhece a importância do evento: "É muito importante existir. A gente precisa de um espaço que ajude o mercado a se organizar e se fortalecer."

A estilista Heloisa Strobel, da marca Reptilia, também destaca a relevância da SPFW. Em seu segundo desfile no evento, ela observa o impacto positivo da visibilidade obtida desde a estreia.

"É um propulsor desse setor econômico aqui no Brasil. Para um desfile como o nosso acontecer, que dura mais ou menos dez minutos, só de 'backstage' tem mais de 120 profissionais envolvidos. Sem contar o número de costureiras, modelistas que fazem aquelas roupas", afirma Strobel.

Sua nova coleção, intitulada "Tectônica", é inspirada na superfície terrestre e suas camadas internas, com uma paleta de tons terrosos. A estilista estreia o uso de estampas e inclui peças destinadas ao público masculino.

"A gente quer mostrar o novo homem, atualizado, com menos preconceito, com mais abertura para novas criações de moda. Ele gosta de experimentar, usar peças femininas, e aproveita o guarda-roupa da amiga, da namorada."

O estilista Walério Araújo também aposta na desconstrução de gênero com peças de alfaiataria fluida. Em seu desfile, leva à passarela a influenciadora Maya Massafera, que passou por uma transição de gênero, vestindo roupas consideradas masculinas.

"Com as roupas, podemos muitas vezes revelar lados que as pessoas não conseguem enxergar na gente", declara Araújo.

Já o designer Weider Silvério faz uma homenagem às figuras femininas com uma coleção inspirada nas Vênus da arte e em ícones da música como Madonna, Cher e Joelma. A proposta é resgatar o feminino ancestral como força transformadora.

"Acho que o futuro é ancestral e feminino. Eu o consigo ver assim. Olhar para trás, para a ancestralidade e para o poder feminino. Eu sou um profissional que estou sempre rodeado de mulheres e penso que só elas podem mudar o mundo", afirma Silvério.

Com o tema "Futuros Possíveis" e apenas três estilistas mulheres entre os participantes desta edição, permanece a questão sobre o compromisso do evento com a valorização feminina na indústria da moda.

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