Um outro olhar para Vila Boa
Diário da Manhã
Publicado em 6 de fevereiro de 2018 às 23:27 | Atualizado há 4 meses
Como uma das primeiras cidades fundadas no Brasil Colonial, cada canto da cidade de Goiás deve guardar uma centena de histórias. Umas conhecidas e populares, outras jamais serão. Algumas de glórias, outras de muito sofrimento, sobretudo para o povo indígena e negro. Seu cotidiano popular inspirou a literatura de Cora Coralina, por exemplo. As areias da Serra Dourada deram novas possibilidades para arte de Goiandira do Couto e, seus casarios respinga uma realidade bucólica em qualquer lugar do mundo, se um quadro de Otto Marques estiver por perto. A fé e tradições religiosas foram exploradas na arte de Veiga Valle. Ou seja: através do antigo Arraial de Sant’Anna pode-se sentir não só do empadão e do arroz com pequi, como das origens, cultura do povo goiano.
No entanto, a forma como a cidade tem sido apresentada aos turistas para alguns setores do município, tem sido um tanto quanto incompleta. Pensando nisso, a Associação de Restaurantes, Pousadas, Hotéis e Similares da cidade de Goiás (Arphos) pensou em uma maneira de reinventar a maneira como os visitantes podem conhecer a cidade de Goiás. E para isso, procurou a faculdade de administração da Universidade Federal de Goiás (Regional Goiás) para um projeto, que implementasse o turismo na Cidade.
Assim nasceu o Passaporte Cultural, que foi lançado ontem, no Palácio Conde dos Arcos, na cidade de Goiás, com direito à recitação de poemas de Cora Coralina feita pelo grupo Mulheres Coralinas e apresentação de grupo de jongo. Houve ainda a exposição de trabalhos do artista plástico Di Magalhães, um artista plástico, que tem, aliás, uma colaboração ainda maior neste projeto: seus desenhos em bico de pena é que ilustram a cidade de Goiás, no Passaporte Cultural.
O projeto todo bilíngue (em português em inglês) traz as informações da cidade, bem como: mapa, localização e informações geográficas. A localização de museus, igrejas, arquivos e prédios, também pode ser acessada através do QR Code (código de barras que pode ser facilmente escaneado através da maioria dos telefones celulares equipados com câmera).
Mas o grande diferencial deste guia está em trazer aos visitantes mais opções de passeios, além dos obrigatórios museus e igrejas do centro histórico da cidade – a exemplo da Casa de Cora, Igreja da Boa Morte, Chafariz, etc. Dessa forma, o guia apresenta rotas fora do centro histórico da cidade, que incentivam o turista estender sua passagem pela antiga Vila Boa e voltar para casa repleto de novas experiências.
“O visitante que vem a Goiás, não costuma pernoitar na cidade, e quando o faz não passa mais que dois dias. O passaporte tem o objetivo de apresentar ao turista mais de 20 opções de visitação pagas e gratuitas fazendo com que ele permaneça mais tempo na cidade”, explica o professor da faculdade de administração da UFG Anderson Lemos, um dos idealizadores do passaporte.
Neste intuito, uma das novidades do passaporte é a inclusão de pontos como Caminho de Letras e Árvores, na Chácara D. Sinhá. Este local une literatura, história e ecoturismo, já que consiste em um casarão do XIX, que ainda guarda ruínas de muros de pedras construídos pelos escravos e tem vista para Serra Dourada. Junto à natureza a literatura de escritores vilaboenses Rosalita Fleury, Paulo Bertran, Bernardo Élis e José J. Veiga será exaltada.
Uma novidade também emocionante e introspectiva que o passaporte traz é uma visita ao Memorial Pedro Recoix. Instalado em 2009, em terreno pertencente ao Mosteiro da Anunciação, o local funciona como um museu de arte e tem como objetivo preservar a memória do humilde e brincalhão padre francês, Pedro Recroix, que adotou a cidade de Goiás e a comunidade Rio Vermelho como sua casa e coração. Era ainda um esculpidor de madeira e mantinha uma vida reclusa totalmente dedicada à caridade, oração e simplicidade.
RESTAURAÇÃO
Outro ponto interessante do projeto, cuja primeira tiragem é de mil unidades e será vendido a R$ 10, é seu plano de viabilidade econômica – financeiro, a fim de possibilitar um roteiro turístico autossustentável. Isto porque, os lucros do guia serão destinados à revitalização das igrejas de Nossa Senhora do Carmo, Nossa Senhora D’Abadia e Santa Bárbara.
“Pretendemos com a verba, também subsidiar recursos para estudantes bolsistas da escola pública local no exercício de orientadores culturais, dentre outras externalidades positivas”, conta o professor Anderson Lemos.
Após a comercialização do material, o professor Anderson Lemos, juntamente com os professores Denise de Oliveira Alves e Welson Barbosa Santos, ambos do curso de Licenciatura em Educação no Campo – Lecoc, da UFG (Regional Goiás) irão acompanhar o que chamam de externalidades geradas nos eixos econômico-financeiro, social e de acessibilidade do projeto e corrigir eventuais falhas.
“Vamos caminhando passo a passo. Foi muito difícil trabalhar sem recursos. O projeto saiu porque a universidade e Arphos demonstraram credibilidade e os parceiros contribuíram”, explica Anderson.
DESCONTOS
Para dinamizar ainda o turísmo e, consequentemente o comércio local, o Passaporte Cultural vai oferecer descontos aos turistas. Após o acesso aos locais de visitação pagos contidos no material o guia vai ganhar um carimbo de confirmação de visitação, que possibilitará descontos de consumo, nos estabelecimentos filiados a Arphos.
“Podemos citar como inspiração para o passaporte, os roteiros de Macchu Picchu e do centro histórico de Lima ambos no Peru, o da Rota Omíada (Europa), Rota dos Tropeiros (Paraná), e a Rota do vinho em São Roque (São Paulo). Com este passaporte, pretendemos o crescimento do turismo, que implica em geração de emprego e renda, arrecadação tributária, geração de imagem ao município, dentre outras externalidades”, analisa Anderson Lemos, sintetizando uma solução para problemas que fizeram muitas gerações abandonarem a cidade de Goiás: oportunidade profissional.
SAIBA ONDE ENCONTRAR O PASSAPORTE
Dedo de Prosa Café e Hostel (62) 3371-3309
Hotel Fazenda Manduzanzan (62) 99982-3373
Pousada Chácara da Dinda (62) 3371-4327
Hotel Vila Boa (62) 3371-1000
Pousada do Sol (62) 3371-1717