Lesão de Neymar e suspensão de Thiago Silva marcaram duelo das quartas de final. Treinadores evitam clima de revanche
SANTIAGO, Chile - O dia 4 de julho de 2014 foi um divisor de águas. Desde aquela tarde, em Fortaleza, um Brasil x Colômbia não é mais visto da mesma forma. Os jogadores badalados, valorizados nas principais ligas do mundo, não estavam mais de um lado só. A Colômbia perdera a sensação de que o desafio lhe era inacessível. Mas, outra vez, perdeu. O Brasil fez 2 a 1 e foi à semifinal. Mas é também naquele 4 de julho que se encontram algumas bases para a existência do 7 a 1: a lesão de Neymar, a suspensão de Thiago Silva...
Se até hoje a goleada alemã assombra o Brasil, muito se deve a acontecimentos daquele duelo. Para a Colômbia, que celebra sua evolução, sua geração badalada, falta subir um degrau: ganhar de gigantes, do Brasil, por exemplo. Na Copa do Mundo, sonhou e não conseguiu. Deixou marcas, deixou feridas naquele duelo. Hoje, às 21h, em Santiago, acontece o primeiro reencontro oficial.
Difícil encontrar na história um Brasil x Colômbia mais global. Juntas, as duas seleções têm 23 jogadores que, na última temporada, atuaram em uma das cinco principais ligas do mundo — Espanha, Itália, Alemanha, Inglaterra e França. O número vai a 25 com a inclusão de Portugal. Na Colômbia, por exemplo, o goleiro Ospina é do Arsenal, o defensor Zapata é do Milan, Zúñiga joga no Napoli, Cuadrado no Chelsea, Falcao trocou ontem o Manchester United pelo Chelsea e Bacca venceu a Liga Europa pelo Sevilla. Sem falar em James Rodríguez, estrela do Real Madrid.
— Há alguns anos, só brasileiros e argentinos estavam na Europa. Hoje não. Isso dá maturidade, aumenta a autoestima dos times. O futebol globalizado fica muito mais competitivo — alertou Dunga, técnico brasileiro.
A badalada geração colombiana precisa de uma confirmação, uma chancela. Na Copa, parou no Brasil. Vencer a seleção, seria o passo adiante. A seleção colombiana está engasgada.
— Revanche é uma palavra dura. Mas seria importante mostrar que podemos ganhar do Brasil. Em especial agora, que vivemos um bom momento, mas não ganhamos. Pelos nomes, pelos antecedentes, ainda somos aspirantes ao grupo de favoritos. Necessitamos desta alegria — disse José Pekerman, o argentino que dirige a Colômbia, país que não vence o Brasil desde 1991.
A eliminação colombiana, a perda de Thiago Silva, a entrada de Zúñiga em Neymar, o gol anulado de Yepes. Muitas histórias marcaram o 4 de julho de 2014. Desde então, as duas seleções seguiram caminhos bem diferentes.
Curiosamente, o Brasil eliminou a Colômbia no Mundial, mas a forma como saiu da Copa deixou gosto mais amargo do que nos rivais. Tanto que a seleção brasileira mudou de técnico, a colombiana manteve José Pekerman. Manteve também a base, enquanto Dunga, entre opções e necessidades geradas por lesão, conduz intensa renovação. A Colômbia deverá entrar em campo com sete titulares do jogo de Fortaleza: Ospina, Zúñiga, Zapaga, Armero, Sanchez, Cuadrado e James Rodríguez. Já o Brasil deverá repetir apenas as escalações de David Luiz, Fernandinho e Neymar.
Neymar e Zúñiga em clima amistoso
No ano passado, a vitória sobre a Colômbia cobrou do Brasil um preço alto. Thiago Silva levou cartão amarelo e foi suspenso da semifinal com a Alemanha. Marcante mesmo foi a entrada de Zúñiga em Neymar, que fraturou a vértebra e ficou fora da Copa. Estavam criadas algumas das condições para a existência do 7 a 1.
Neymar e Zúñiga já estiveram frente a frente num amistoso entre Brasil e Colômbia, nos Estados Unidos, em setembro, na estreia de Dunga. Os dois se abraçaram antes do início do jogo, vencido pelo Brasil por 1 a 0, com gol de falta do próprio Neymar. O brasileiro voltou a sofrer faltas duras em série. Nenhuma delas de Zúñiga, diga-se de passagem. Brasil e Colômbia cultivaram uma rivalidade. Mas, entre os dois, o clima parece amigável.
Ontem, Dunga evitou reacender a questão.
— Acho que foi uma entrada de jogo. O jogador perdeu a coordenação, não conseguiu frear e fez a falta. Eu parto do princípio de que nenhum profissional vai disposto a cometer uma falta desleal para tirar um adversário de campo — disse Dunga.
A derrota para a Venezuela fez com que a partida ganhasse ares de decisão para a Colômbia. O Brasil chega mais tranquilo. Mas o time de Dunga viverá um grande teste. Após dez vitórias seguidas em amistosos que transmitiam clara sensação de evolução, a vitória sobre o Peru, na estreia da Copa América, veio com atuação pobre.
Dunga manteve o hábito de não confirmar a escalação de véspera. É possível que haja uma mudança. Philippe Coutinho, recuperado de dores musculares, participou dos dois últimos treinos da seleção. Ele tem chance de começar jogando. Neste caso, poderia fazê-lo no lugar de Fred.
O jogo de hoje será no Estádio Monumental, do Colo Colo. Ontem, o local era a imagem do improviso. Cadeiras ainda eram colocadas na arquibancada e boa parte da estrutura montada pela organização estava inacabada.