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ACERJ e ABI são contra a possível troca de nome do Maracanã

A proposta dos deputados estaduais do Rio de Janeiro na mudança do nome do Estádio Mario Filho para Rei Pelé causou surpresa e espanto à Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e à Associação de Cronistas Esportivos do Rio de Janeiro (ACERJ). A Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) aprovou projeto de lei, que está agora nas mãos do governador interino Claudio Castro.

Na terça-feira (9), a Alerj aprovou, de forma urgente, projeto de lei que prevê que o jornalista Mario Filho nomeie todo o complexo esportivo do Maracanã, composto pelo estádio, o ginásio do Maracanãzinho.

O historiador, formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, Luiz Antônio Simas, rebate a decisão da Alerj, “A mudança de nome é absurda. Mostra um desconhecimento da história e isso não tem nada a ver com a importância do Pelé. O Mário Filho foi uma figura importante para a construção do estádio. Dono de um jornal de esportes, ele assinava uma coluna chamada ‘Batalha pelo Estádio’. Tinha gente que defendia a ampliação de São Januário, estádio do Vasco. Mudar o nome não faz o menor sentido em uma votação em regime de urgência em meio à pandemia”.

Estádio do Maracanã - Rio de Janeiro Foto/Divulgação - Estadão Conteúdo

No Palácio Guanabara, Claudio Castro tem 15 dias para aprovar ou vetar o projeto que muda o nome do Maracanã. Em caso de veto, a legislação voltará a ser debatida e os deputados podem derrubar ou manter. “O Brasil, em geral, só reconhece os seus ídolos depois que eles morrem. Fazer esse reconhecimento ao Rei Pelé em vida, de certo um dos brasileiros mais reconhecidos e admirados do planeta, é uma demonstração de que o nosso país é tão generoso quanto grandioso”, defendeu o presidente da Alerj, André Ceciliano (PT).

O projeto tem recebido muitas críticas. O principal questionamento ate dos torcedores tem sido "para quê a troca?", uma vez que o estádio é conhecido no Brasil e no mundo como Maracanã e o "Estádio Rei Pelé" já existe, em Maceió.

Em meio a essa decisão, a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e a Associação de Cronistas Esportivos do Rio de Janeiro (Acerj) encaminharam cartas ao governador pedindo que ele não aprove a proposta.

"Para a ABI, independentemente de questionamento jurídico quanto à legalidade de homenagear pessoas vivas, o que importa, neste momento, é não permitir mais uma mutilação no Estádio do Maracanã, com a retirada do nome do Jornalista Mario Filho", escreveu o presidente da ABI, Paulo Jeronimo.

A ACERJ também destaca o papel de Mario Filho na construção do imaginário do futebol carioca e brasileiro, ao criar, por exemplo, a expressão Fla-Flu. A entidade lembra que ele também "colaborou para a popularização da cobertura jornalística do futebol trocando os termos rebuscados da época por expressões mais populares e o Maracanã muito contribuiu para isto".

CONFIRA A CARTA NA ÍNTEGRA:

Excelentíssimo Governador Cláudio Castro,

Foi com absoluta surpresa que a ACERJ – Associação de Cronistas Esportivos do Rio de Janeiro – Entidade centenária e atuante no cenário esportivo do Rio de Janeiro desde 1917 recebeu a notícia de que a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro decidiu de modo inexplicavelmente urgente trocar o nome do Estádio Mário Filho para “Estádio Edson Arantes do Nascimento – Pelé”. Com que propósito? Com quais argumentos?
Sabemos todos – cronistas esportivos e torcedores em geral – que Pelé é o maior jogador de futebol do mundo em todos os tempos e que jamais haverá outro igual. Ao Rei Pelé todas as homenagens devem ser prestadas, menos essa, que surrupia o nome de quem idealizou a construção do maior estádio do mundo no bairro do Maracanã, que foi o jornalista Mário Filho.

Um pouco de história, senhor Governador: a construção do estádio foi muito criticada por Carlos Lacerda, na época deputado federal e inimigo político do então General de Divisão e Prefeito do Distrito Federal do Rio de Janeiro, Marechal Ângelo Mendes de Moraes, pelos gastos e, também, devido à localização escolhida para o estádio, defendendo que fosse construído em Jacarepaguá.

Depois de muitos debates a respeito de onde ele seria construído, decidiu-se que deveria ficar num local de acesso fácil por vários meios de transporte. Desta forma, o local escolhido pertencia ao Derby Club, onde eram realizadas corridas de Turfe até a década de 1920, quando perdeu espaço para o Hipódromo da Gávea. Para que isto ocorresse, foi realizada uma campanha pelo Jornal dos Sports, com a assinatura de Mário Filho. Muitas capas do JS foram feitas pedindo que o Maracanã deveria ser o local para o maior do mundo, futura sede da Copa de 1950.
Mário Filho defendeu um estádio que pudesse ser popular, fosse parte da cidade, com melhor localização, contando com os espaços para o trabalho da imprensa, por isso também pediu uma tribuna de imprensa e vinte cabines de transmissão, com o apoio de Célio de Barros, então presidente de nossa associação de classe (ACD, à época). Tanto que o estádio de atletismo depois passou a se chamar Célio de Barros.

Mário Filho foi um profissional importante para a identidade do Rio de Janeiro, criou aqui o primeiro jornal brasileiro dedicado apenas ao esporte. Colaborou para a popularização da cobertura jornalística do futebol trocando os termos rebuscados da época por expressões mais populares e o Maracanã muito contribuiu para isto. Foi Mario Filho quem cunhou a expressão Fla-Flu, um dos mais destacados clássicos jogados no estádio.
São 70 anos de aprovação popular, Governador. Por isso os cronistas esportivos do Rio de Janeiro, aqui representados por sua associação de classe – ACERJ – repudiam a iniciativa da ALERJ e rogam ao senhor que não aprove o projeto, por ferir a memória do jornalismo e contrariar a quase unanimidade (pois que “toda unanimidade é burra”, já dizia Nélson Rodrigues, irmão de Mário Filho) do pensamento do torcedor brasileiro.

*Com informações do Metrópoles, terra e Yahoo!

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