
Em entrevista exclusiva ao Diário da Manhã, o atual técnico do CRAC, Luan Carlos, falou de tudo um pouco no mundo do futebol. Além da trajetória como treinador e do Goianão 2025, o profissional comentou as diferenças de sua passagem no Goiânia e a presente oportunidade no Leão do Sul.
A experiência no CRAC está sendo muito positiva, muito importante essa vinda para cá. A gente foi muito bem recebido pelo grupo de jogadores, pela diretoria, pelo próprio torcedor, isso facilita muito o desenvolvimento de um trabalho. Apesar do pouco tempo, a gente conseguiu desenvolver boas ideias, a gente conseguiu entender o perfil do elenco, a gente já vinha acompanhando o Campeonato Goiano, então já tinha analisado bastante os jogos do CRAC, quais eram as características, quais jogadores o elenco estava utilizando mais.
Outras respostas de Luan Carlos
Qual a avaliação da campanha do CRAC no Goianão?
A gente tinha muita confiança em passar de fase contra o Goiás. Infelizmente tivemos um prejuízo com relação à arbitragem: tivemos um pênalti claro aqui em Catalão não marcado. Não estou responsabilizando a arbitragem, até porque a arbitragem do futebol goiano é muito boa, muito capacitada. Mas ficamos felizes em deixar clube numa divisão nacional, que era o grande objetivo deles (CRAC).
Quais as diferenças entre o Goiânia e o CRAC?
Cada clube tem o seu perfil, tem sua história, tem suas singularidades. Foi criada uma grande expectativa em cima do projeto que a gente vinha desenvolvendo no Goiânia, mas a mudança de gestão foi muito forte, muito rápida. O clube passou de associativo para SAF e houve um choque de gestão muito grande e aí esse choque de gestão gerou uma situação muito complexa para pouco tempo. O Campeonato Goiano é muito curto, então isso foi um fator negativo e a diferença entre os dois clubes nessa temporada, nesse início de temporada, é que CRAC já tinha uma gestão mais consolidada, já tinha uma diretoria mais definida, já tinha um pensamento mais claro do que queriam e isso facilitou o processo. No Goiânia era algo novo, era uma mudança e nós da Comissão Técnica acabamos sofrendo com isso porque a gente não sabia exatamente como era. Qual era o próximo passo a ser dado. Agora o clube já é 100% SAF, já se transformou numa gestão mais sólida no sentido de direcionamento do que eles pretendem enquanto instituição. Então isso com certeza vai facilitar o trabalho na sequência da temporada.
Qual é o nível do Campeonato Goiano?
Eu avaliei o Campeonato Goiano desse ano como um dos mais difíceis dos últimos anos. Eu tenho visto a grande imprensa falar que é um campeonato que não teve tanta qualidade, mas eu tendo a discordar disso. Acho que foi um campeonato bem equilibrado, um campeonato que teve boas ações técnicas, bons jogadores foram revelados. Claro que às vezes a gente não consegue olhar com muita atenção para isso, porque o nosso foco está no Goiás, no Atlético e no Vila Nova. Porém, a falta de rendimento desses clubes em alguns jogos nota-se não só um demérito deles, mas também um mérito dos times do interior que investiram, que tiveram boas contratações, que tiveram bons planejamentos. E o campeonato foi muito interessante para quem analisa o futebol, não só do aspecto torcedor, do aspecto emocional e analisa dentro de um conceito. A gente percebe que foi um campeonato bem interessante, bem disputado e, na minha opinião, um dos mais equilibrados, dos últimos anos.
Continuidade no CRAC é a prioridade?
A continuidade no CRAC ainda é algo aberto. O clube não tem calendário esse ano, a gente tá analisando o que é melhor para a sequência, tem muita coisa a ser analisada.
Como foi a volta para Goiás?
A volta para Goiás foi muito boa, mas para além da questão profissional, tem a questão pessoal também. Eu nasci com glaucoma nos olhos, a pressão ocular muito alta e tive que fazer uma cirurgia com meses, e até então eu venho sendo acompanhado desde a minha infância e esse ano passado eu tive uma um pequeno problema no olho direito devido a essa cirurgia. Então eu vou ter que fazer um novo procedimento cirúrgico no olho direito. Então nesse momento foi muito importante estar em Goiás, estar perto da família também para concluir esse procedimento.
Pressão no Goiânia foi a razão da demissão?
No Goiânia, acredito que não foi exatamente isso que comprometeu o trabalho. Eu tento bater na tecla muito em relação à gestão mesmo, não digo que a gestão anterior era melhor ou pior, era diferente, houve um choque de gestão, o que dificultou muito. Muito das ações de trabalho nossas e os resultados não iriam vir devido a todo o processo que estava sendo feito e o rebaixamento acho que foi consequência de tudo isso. Acho que o Goiânia não conseguiu se reabilitar dentro do campeonato acredito eu que a tabela inicial foi bem pesada.
Pretende dar sequência ao livro "Além da Área Técnica: o Percurso de Desenvolvimento do Treinador de Futebol"?
Então, a publicação do livro foi algo muito positivo para a minha vida pessoal. Eu sou apaixonado por leitura. Os livros me abriram portas absurdas. A leitura me ajudou de forma muito exponencial em relação ao crescimento pessoal, ao crescimento profissional, aos relacionamentos humanos, a questão de comunicação. Então, a leitura te abre portas que nenhuma outra ferramenta poderia abrir. Então, acredito muito na leitura e uma forma de devolver isso foi escrevendo o livro. Escrever o livro "Além da Área Técnica" foi para mim um marco muito importante. Foi bem especial na minha vida e é um livro destinado a pessoas que, assim como eu, são apaixonadas não só pela leitura, mas também pelo futebol, que têm sonhos de trabalhar com futebol. Pessoas que talvez não tiveram oportunidade de jogar futebol, mas que querem trabalhar com futebol é um livro voltado para eles. E um livro também voltado para atletas que querem trabalhar com futebol, que querem entender um pouco mais da área técnica, que querem entender um pouco mais sobre liderança, sobre o modelo de jogo. É um projeto que eu quero dar andamento nele, um livro que eu quero trabalhar em cima dele, palestras em cima dele, para que a gente consiga realmente desenvolver essa ideia que futebol vai muito além da área técnica.
Qual a importância do analista de desempenho no futebol hoje?
O Ederson (analista da sua comissão técnica) tem facilitado esse trabalho porque já entende já me conhece quais são as nossas filosofias para desenvolvimento de equipe então tá sendo muito importante e a análise de desempenho ela já ganhou seu espaço no futebol e ela vem crescendo cada vez mais porque porque ela consegue trabalhar não só o desenvolvimento da equipe como também o desenvolvimento individual do jogador.
Como você enxerga o processo de formação de treinadores no Brasil?
A formação de treinador no Brasil é algo muito novo, é recente. Falar sobre estudos no futebol é muito recente no Brasil. Nós estamos anos-luz atrás da Europa, atrás de Portugal, naquilo que é produção de conhecimento científico sobre o futebol. Nós ainda temos ainda uma resistência, hoje menor, mas existe ainda uma resistência sobre o conhecimento científico no futebol. Hoje mudou muito, hoje a gente vê áreas como a fisiologia, a fisioterapia, a psicologia, tomando conta do futebol entrando e somando para o desenvolvimento do atleta e do jogo. Mas essa resistência ainda existe e a formação de treinador no Brasil vem muito disso, porque nós estamos acostumados a ter ex-atletas assumindo posto de treinador e ponto final. Isso vem caindo, claro que hoje ainda é importante você ter sido ex-atleta. Seria ser treinador? Não, mas te potencializa muito a isso, mas o conhecimento vem sendo cada vez mais distribuído e facilitado nesse processo. A CBF, ao lançar essas licenças, ela tem facilitado a iniciação da formação do treinador. Nós não podemos entender a licença como a conclusão de formação. O profissional vai sair pronto depois de fazer uma licença da CBF. Isso é uma ilusão. O treinador não sai pronto depois que faz um curso da Conmebol. Ninguém sai pronto de uma licença. Ninguém sai pronto de um curso universitário, por exemplo, em educação física. Você fica lá quatro anos, você não sai pronto. Você vai se capacitando através daquele curso. Você vai melhorando e buscando recursos através daquela formação. E assim também tem que ser com o treinador de futebol. Então eu vejo muitas críticas em relação ao custo da CBF, achando que o curso tem que fazer com que o profissional sai de lá pronto para estar na beira do campo. Em nenhum curso., em nenhuma escola e nenhuma faculdade te deixa pronto para nada. Ela te encaminha para processos. Então acho que essas licenças são importantes e o pontapé inicial de um processo formativo do treinador.
Por que não há técnicos brasileiros fora do país?
A gente não sai tanto do país primeiro porque a gente não tem essa formação que nos potencializa e nos credencia trabalhar fora do país. Primeiro ponto: hoje a gente já tem mais profissionais em outros eixos talvez não tanto na Europa mas em outros eixos do mundo trabalhando vários treinadores brasileiros e outros profissionais de comissão técnica mas a gente ainda não tem esse espaço decretado primeiro por causa do nosso nível educacional e quando eu falo nível educacional, não só no sentido do futebol, a gente sofre um pouco até no nível educacional como um todo no nosso país, por exemplo, é muito importante o domínio de uma segunda língua. Então vejo que nós precisamos sim desenvolver nossos profissionais, precisamos sim crescer enquanto treinadores. Isso é um desafio constante. Quando a gente entender que a nossa maior ferramenta é entender que o jogador é o protagonista do jogo e nós começarmos a devolver o jogo ao jogador, nós vamos ter muita riqueza de trabalho no Brasil. Acredito que isso já está acontecendo e aos poucos a gente vai se fortalecendo dentro desse processo.
Como o treinador enxerga essa pressão por resultados no Brasil?
O futebol resume-se em resultado e o treinador ele precisa se adaptar a isso. Por mais que a gente reclama do pouco tempo, da dificuldade de gestão do tempo, a incapacidade de recuperar bem os atletas, essa é a realidade do futebol brasileiro. Nós não vamos conseguir mudar essa realidade porque o futebol é negócio e eles precisam que esse negócio gire. A gente precisa de jogos sábado domingo segunda terça a quarta precisa de jogos todos os dias para alimentar uma grade. Os grandes treinadores são aqueles que vão conseguir se adaptar a essa "nova realidade", que já é uma realidade antiga. Então nós precisamos nos adaptar. Essa realidade e fazer com que em um espaço curto a gente consiga o resultado porque o resultado vai nos dar tempo para trabalhar a nossa equipe e aí sim potencializar a nossa forma de jogar.
Diante dessa cultura "resultadista", como criar uma relação estreita com um clube?
É o nosso grande objetivo mas a gente sabe da dificuldade, que é devido realmente essa realidade do curto espaço de tempo do trabalho, as relações que a gente cria a gente pode fortalecer cada dia mais, passagens que a gente faz aí por clubes para deixar um legado. Costumo dizer que todo treinador, jogador e profissional do futebol tem que deixar um legado por onde vai e, a partir daí, construir algo que seja positivo para o clube, não só nível de resultado esportivo, mas também de estrutura física de potencializar ativos do clube jogadores que possam ser negociados, tudo vai criando vínculos com a instituição.