Essa reportagem é a terceira parte de uma série que aborda variados
aspectos sociais da prostituição na Alemanha. Confira as reportagens
anteriores: 1ª parte; 2ª parte.
Texto: Mariana Lacerda
Desde a legalização da prostituição e dos bordéis em 2002, a indústria sexual não para de crescer na Alemanha. Como foi apontado na primeira parte da série de reportagens, os mais de 5 mil bordéis do país já renderam ganhos bilionários em um único ano. Com isso, a publicidade e propaganda desse tipo de comércio também vem crescendo.
A RTL II, canal da TV aberta alemã tem em sua grade de programas o ‘’RTL II Spezial. Das Magazin’’ (RTL II Especial. A Revista), um programa que funciona como uma revista eletrônica, trazendo informações detalhadas sobre variados temas. Em uma das edições do programa acompanharam as atividades de George McCoy, um escritor inglês que trabalha testando bordéis na Alemanha.
Essa ocupação, um tanto peculiar, ganhou a alcunha de bordelltester e McCoy escreveu diversos guias de casas de prostituição, fazendo uma espécie de análise sobre a qualidade dos estabelecimentos e dos serviços sexuais prestados.
Em 2011, o reality show sobre a vida de Bert Wollersheim, popularmente conhecido na Alemanha por ser dono de uma famosa rede de bordeis, também foi exibido no canal RTL II. "The Wollersheims - Uma família terrivelmente estranha” mostra a vida familiar de Bert e seus negócios. Em 2012, o famoso cafetão foi preso em uma grande operação da polícia, que deflagrou que em um dos bordéis de Wollersheim havia um esquema para drogar os clientes e roubá-los. Mesmo após o escândalo, o grande empresário da indústria sexual continuou nos holofotes e ainda participou de outros programas de TV.
Ainda no mesmo canal, foi exibido o programa “Pimp my Puff’’, o nome é uma espécie de trocadilho com o programa “Pimp my Ride’’, da TV americana, onde especialistas recuperavam automóveis velhos e detonados. Porém, nessa ocasião se trata de bordéis, dois especialistas da indústria do sexo assumem o papel de recuperar casas de prostituição acabadas e falidas.
Para Paula Licursi, psicóloga e coordenadora do setor de saúde mental do Coletivo Feminista Saúde e Sexualidade, esse tipo de programas de entretenimento podem reforçar uma visão negativa das mulheres: “A naturalização desse tipo de conteúdo na mídia pode afetar a sociedade na medida em que reforça o lugar da mulher apenas como objeto sexual e a associa à realização das fantasias masculinas. Isso é um reducionismo que não ajuda a mostrar o real lugar que a mulher ocupa na sociedade, que na verdade é muito mais amplo e diverso do que isso’’.
É possível encontrar prostíbulos com propagandas chamativas em diversos pontos da cidade, carregados de fotos com apelo sexual em banners enormes nas fachadas. ‘’Em algumas cidades, como em Hamburgo, a prostituição é vista nas vitrines dos bordéis. As mulheres ficam nuas nas vitrines, onde podem abrir parte da janela para conversar com os pedestres’’ relata a brasileira Karina Finke, que vive na Alemanha há 8 anos.