As regras rígidas de confinamento e distanciamento social adotados pela França para conter o avanço do coronavírus criou uma dificuldade a mais aos pais de crianças autistas. Ficou mais difícil manter a rotina caracterizada por rituais que os autistas precisam para se sentir seguros, evitando frustrações e crises de angústia. Afim de dar um alívio à estas famílias, o presidente Emmanuel Macron anunciou nesta quinta-feira (2) uma flexibilização das medidas de isolamento desse público especial.
Nesta quinta-feira (2), Dia Mundial de Conscientização do Autismo, o chefe de Estado francês declarou que os 700.000 autistas da França poderão sair de casa com mais frequência, “para ir aos locais que representam referências tranquilizadoras” para eles.
"Desde o confinamento que começou em 16 de março, seus hábitos mudaram e você pode estar um pouco perdido", disse Macron falando diretamente aos autistas. "Você costumava ir trabalhar ou estudar todos os dias em algum lugar, e da noite para o dia não foi mais possível. (...) Eu sei que você só quer uma coisa: recuperar a vida que tinha antes", acrescentou. “Para alguns de vocês, ficar trancado em casa é uma provação que às vezes provoca uma ansiedade difícil de controlar, tanto para você quanto para suas relações próximas", disse o presidente.
O governo criou um formulário especial que permitirá aos autistas sair de casa com mais frequência. Contudo, Macron alertou sobre os cuidados que as famílias devem ter, como respeitar o distanciamento de um metro em relação a outras pessoas e a lavar as mãos com frequência, entre outras recomendações sanitárias.
O ator Samuel Le Bihan, presidente-adjunto da associação “Autisme Info Service” e pai de uma menina autista de 8 anos de idade, disse que as famílias têm vivido “situações de grande angústia". Desde o início do confinamento, a plataforma que ele dirige "tem recebido quatro vezes mais ligações do que no ano todo". O ator conta que os principais pedidos dos pais de autistas são "poder sair para tomar um pouco de ar fresco e desestressar”.
Centros de atendimento paralisados
Antes da pandemia de coronavírus, crianças e adolescentes autistas, na França, costumavam frequentar unidades do Instituto Médico-Educativo (IME), uma instituição pública que oferece atendimento multidisciplinar durante o dia.
Porém, com a crise sanitária do coronavírus, as atividades foram suspensas. "Tudo o que havia para aliviar as famílias está paralisado", constata Le Bihan. "Uma criança autista requer muita energia e o fato de não termos mais nenhum descanso torna as coisas muito complicadas", afirma.
Christine Meignien, presidente da federação "Sesame Autism" disse que a flexibilização anunciada pelo presidente Macron “era aguardada com ansiedade por associações e famílias".
"Quando você altera os horários de uma pessoa com autismo, gera ansiedade e problemas comportamentais que podem ser extremamente violentos", explicou Meignien. E completa, "tivemos casos em que equipes de paramédicos tiveram de intervir em crises violentas".
"Para alguns, o que vai agradá-los é um passeio de carro ou uma caminhada de várias horas a pé. Por isso, dissemos desde o início que precisávamos de permissão para ir a lugares mais distantes do que o quilômetro autorizado perto de casa, para correr ou gritar em uma floresta. Caso contrário, não seria sustentável para as famílias nem para os estabelecimentos", disse Meignien.
*Com informações da Rádio França Internacional