Os combates entre Israel e o grupo terrorista Hamas na Faixa de Gaza continuam nesta quinta-feira, 23, apesar da esperada trégua de quatro dias na guerra para a libertação e troca de reféns e prisioneiros. Segundo as Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês), as tropas terrestres continuam operando dentro do enclave e mais de 300 ataques aéreos foram realizados no último dia. Os israelenses também prenderam o diretor do maior hospital de Gaza, o Al-Shifa, sob a acusação de permitir operações militares do Hamas no local.
Negociada na terça-feira, 21, a trégua na guerra chegou a ser marcada para esta quinta, mas logo foi adiada para sexta-feira, 22. Os detalhes para a operação continuam sendo acordados, e os combates não devem parar enquanto isso. "O início da liberação ocorrerá seguindo o acordo original entre as partes, e não antes de sexta-feira", disse o conselheiro de Segurança Nacional israelense, Tzachi Hanegbi, em um comunicado.
O governo dos Estados Unidos, que junto com o Catar ajudou a intermediar o cessar-fogo, confirmou que os detalhes seguem em negociação. Segundo a porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, Adrienne Watson, eles se concentram na logística da troca, principalmente para o primeiro dia de trégua. "Isso está no caminho certo e estamos esperançosos de que a implementação comece na manhã de sexta-feira", disse.
O acordo prevê a libertação de 50 mulheres e crianças reféns capturadas por terroristas que invadiram Israel em 7 de outubro, em troca de 150 palestinos detidos de prisões israelenses. Israel afirma que a trégua pode durar além dos quatro dias iniciais, desde que o Hamas liberte pelo menos 10 reféns por dia. Uma fonte palestina disse à agência de notícias Reuters que uma segunda libertação pode fazer com que até 100 reféns sejam libertados até o fim do mês.
Enquanto isso, as tropas israelenses seguem na Faixa de Gaza. Nesta quinta-feira, o diretor do hospital Al-Shifa, Mohamed Abu Salmiya, foi detido enquanto viajava em um comboio de retirada de pacientes gerenciado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). As operações de retirada de civis com a OMS foram suspensas após a detenção.
Um comboio da organização Médico Sem Fronteiras (MSF) também foi alvo de um ataque e duas pessoas morreram, informou a organização.
Israel disse que seus ataques no último dia atingiram "centros de comando militar, túneis terroristas subterrâneos, instalações de armazenamento de armas, locais de fabricação de armas e postos de lançamento de mísseis antitanque". Um vídeo de tropas em patrulhamento a pé em ruas esburacadas cercadas por ruínas bombardeadas foi divulgado nesta quinta-feira.
Os palestinos, que comemoraram o acordo de trégua entre as duas partes, seguem com a expectativa de cessar-fogo nos próximos dias, mesmo que breve. Shadi Hijazi, um trabalhador da construção civil de 23 anos, disse que o acordo oferece alívio dos ataques aéreos israelenses e permitiria que alguns habitantes de Gaza vivessem o luto de perdas que se acumularam nas últimas semanas. "Vou viver em segurança, mesmo que seja temporária e curta, sem ouvir explosões perto ou longe", disse Hijazi ao The New York Times em entrevista por telefone.
Em Israel, as famílias das cerca de 240 pessoas que se acredita terem sido mantidas reféns começaram a contar as horas, esperando que os parentes possam estar entre os libertados. Eles ainda não sabem exatamente quem estará entre os liberados, nem o estado de saúde deles. "Precisamos saber que eles estão vivos, se estão bem. É o mínimo", disse Gilad Korngold à agência de notícias Reuters.
Tal Idan, tia de uma criança de três anos que está entre os reféns, Avigail Idan, disse que a sobrinha faz aniversário nesta sexta-feira e espera ter uma boa comemoração. "Vamos ter uma boa celebração", disse. "Não desisto que somos capazes de fazer isso na próxima sexta-feira."
Os pais da garota, Roy Idan, irmão de Tal, e Smadar Idan, foram mortos a tiros no kibutz Kfar Azza pelos membros do Hamas no dia 7. Tal Idan diz agora que tem a missão de criar os irmãos de Avigail, Michael e Amelia, que sobreviveram à violência, e trazer a garota de volta para casa. "Tenho uma sobrinha de 3 anos que não tem mais pais", disse. "Eu sou a voz dela agora."
Médicos e psicólogos israelenses se preparam para o retorno iminente dos reféns. Na quarta-feira, 22, informaram que o tratamento dos libertados "será árduo e deve ser guiado com cautela". Segundo o médico Hagai Levine, aqueles que estão sendo libertados provavelmente não terão ideia da magnitude total do que aconteceu em 7 de outubro e terão que ser informados lenta e delicadamente. Muitos não têm mais para onde ir porque aldeias inteiras foram destruídas e podem não saber que muitos de seus familiares, amigos e vizinhos foram mortos, acrescentou. (Com agências internacionais).