Um extremista sueco-dinamarquês despertou a fúria do mundo árabe no último sábado, 21, depois de colocar fogo em uma cópia do Alcorão em público. O episódio aconteceu na cidade de Estocolmo, capital da Suécia, em frente a embaixada da Turquia no país. O livro, que é considerado instrumento sagrado para os seguidores do Islã, foi queimado pelo político Rasmus Paludan, de 41 anos. Ele é líder do partido de extrema direita "Stram Kurs" ("Linha Dura", na tradução em português).
Paludan, que já havia se envolvido com polêmicas envolvendo o islamismo outras vezes, alegou se tratar de uma manifestação pautada na liberdade de expressão. O protesto do parlamentar se deu em crítica às negociações suecas com a Turquia a respeito da Otan. O país europeu tenta angariar o apoio dos turcos para a candidatura de adesão à aliança militar. Declaradamente anti-imigração, o parlamentar alegou que aqueles que discordassem de que o ato em questão não se tratava de uma maneira de se expressar livremente, deveriam "morar em outro lugar".
Nesta segunda-feira, 23, dois dias após o incidente, a atitude do sueco despertou embates diplomáticos. O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, criticou a atitude do presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, que ameaçou bloquear a adesão da Suécia à Aliança Atlântica depois que o extremista queimou o exemplar do Alcorão.
"A liberdade de expressão, a liberdade de opinião, é um bem precioso na Suécia e em todos os outros países da Otan. É por isso que estes atos inapropriados não são automaticamente ilegais", disse Jens Stoltenberg durante entrevista à TV alemã Die Welt, condenando a posição de Recep Tayyip Erdogan.
A situação irritou Erdogan, que advertiu a Suécia que "não conte com seu apoio em sua candidatura a aderir à Otan". Stoltenberg, por sua vez, lembrou que o governo sueco condenou a conduta do político e também afirmou que ele mesmo é "absolutamente contra este tipo de insultos" e "totalmente contra este comportamento que vimos nas ruas de Estocolmo".
Os Estados Unidos qualificaram como "repugnante" a atitude do militante sueco, e acreditam que pode ter sido uma sabotagem para dificultar a negociação para ampliar a Otan. "Queimar livros que são sagrados para muitos é um ato profundamente desrespeitoso", disse a jornalistas o porta-voz do Departamento de Estado, Ned Price, que o qualificou o ato de "abjeto".
Price disse ainda que a queima foi obra de "um provocador", que "pode ter tentado deliberadamente distanciar dois parceiros próximos nossos: Turquia e Suécia". Junto a Finlândia, os suecos pediram no ano passado para fazer parte da Otan, depois que a Rússia invadiu a Ucrânia.
Desde maio, a Turquia bloqueia a entrada da Suécia, alegando que o país europeu abriga ativistas e apoiadores curdos considerados por Ancara, capital turca, como "terroristas", sobretudo os do PKK e seus aliados no norte de Síria e Iraque. Segundo Stoltenberg, 28 dos 30 países-membros da Otan já deram seu aval em seus parlamentos nacionais.