
O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, pediu aos seus aliados ocidentais que apresentem uma "posição clara" sobre as garantias de segurança que estariam dispostos a fornecer na forma de uma força de paz, caso seja alcançado um cessar-fogo com a Rússia. A cobrança foi feita durante uma entrevista coletiva após uma reunião de líderes de 25 países, conduzida pelo premiê britânico Keir Starmer, em que se discutiu o cenário do conflito iniciado por Vladimir Putin há três anos.
Zelenski, ao que parece, percebeu o tom das discussões como um retorno a um padrão antigo: falas grandiosas sobre responsabilidades europeias, mas no final, as decisões seriam tomadas pela vontade ou não dos Estados Unidos. O presidente ucraniano participou da videoconferência.
"A paz será mais confiável com contingentes europeus no solo e o lado americano como um seguro", afirmou Zelenski, reiterando de forma mais incisiva o tom das discussões das últimas semanas. Nesses debates, ele enfrentou forte pressão diplomática do presidente americano, Donald Trump, que se alinhou à visão de Putin sobre as origens da guerra e defendeu a ideia de que Kiev precisaria aceitar perdas inevitáveis para alcançar a paz. Em entrevista, Zelenski admitiu não saber "o que os russos e os americanos conversam".
Sem condições militares para sustentar a resistência por conta própria, Zelenski acabou cedendo e submetendo-se à vontade de Trump. Dessa negociação surgiu um encontro entre delegações americana e ucraniana em Jeddah, na Arábia Saudita, onde Kiev aceitou um cessar-fogo de 30 dias. Em seguida, os Estados Unidos passaram a responsabilidade para Putin, que respondeu na quinta-feira (13), aceitando a trégua desde que ela não fosse temporária e que já houvesse acordos sobre os temas a serem discutidos para uma negociação definitiva.
Em resumo, Putin exige a paz em seus termos, que incluem a desmilitarização ucraniana, a neutralidade de Kiev e a aquisição definitiva dos 20% do território ucraniano que controla, sendo 7% deles desde 2014, quando anexou a Crimeia.
Embora essa postura possa ser considerada uma tática de negociação, o Kremlin já deixou claro diversas vezes que não aceita a ideia de uma força de paz europeia na Ucrânia, visto que isso colocaria tropas da OTAN, a aliança militar liderada pelos EUA, em território ucraniano. A principal justificativa de Putin para invadir a Ucrânia foi a intenção de Kiev em aderir à OTAN, o que colocaria o país sob a proteção do artigo 5 da aliança, obrigando os membros a defender um aliado caso seja atacado. A presença de armas nucleares torna esse cenário um obstáculo para Putin.
Em apoio à ideia de uma força de paz, Trump manifestou-se favorável, pois deseja ver a Europa lidando sozinha com questões de segurança, mas não foi contundente. Agora, Zelenski faz um apelo para que seus aliados fora dos Estados Unidos se posicionem.
Starmer, por sua vez, afirmou que está sendo formada uma "coalizão dos dispostos" a ajudar Kiev, garantindo a paz na Ucrânia "em terra, mar e ar", caso um cessar-fogo seja alcançado. Ele, junto ao presidente francês Emmanuel Macron, já expressou apoio à formação de uma força de paz, mas não deixou claro como isso seria implementado, convocando uma nova reunião para a semana seguinte.
Por enquanto, a situação permanece sem mudanças. Putin sugeriu que Zelenski quer os 30 dias apenas para dar um respiro às suas forças, enquanto o presidente ucraniano afirmou que o russo está apenas prolongando os combates para evitar a trégua. A desconfiança de Moscou em relação à iniciativa de Trump também continua elevada.
Zelenski procurou minimizar a pressão militar que suas forças enfrentam. No X (antigo Twitter), ele afirmou que seus soldados não estão cercados em Kursk, no sul da Rússia, apesar das evidências, incluindo imagens de satélite. "Cumprimos nossa missão", disse, destacando que a ação continua, embora as forças ucranianas tenham se retirado. Trump chegou a escrever na sexta-feira (14) que o cerco era completo e pediu a Putin que poupasse a vida dos ucranianos, o que foi rejeitado pelo russo, que afirmou ser magnânimo com os "terroristas" se eles se entregassem.
O fato é que Kursk já está sob o controle de Zelenski. Os defensores da operação, iniciada em agosto passado, argumentam que a Rússia foi forçada a abrir uma nova frente de batalha, o que teve um impacto positivo na moral de Kiev. No entanto, os críticos apontam que Zelenski não conseguiu sair dessa situação com nada para barganhar nas negociações e que perdeu considerável pessoal e equipamento de alto nível para essa operação. O desvio de recursos russos só se concretizou neste ano, com avanços em outras frentes.
Na madrugada deste sábado, as duas partes trocaram intensos ataques com drones. Ao menos 130 drones foram lançados pelos russos e 126 pelos ucranianos, resultando em danos diversos.