
Mais de 340 civis foram mortos nos últimos dias na Síria, conforme informações divulgadas pelo membro do Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH), Rami Abdulrahman, à agência de notícias Reuters. A maioria das vítimas é alauita.
Os incidentes ocorreram após a noite de quinta-feira (6), quando apoiadores do ex-ditador Bashar al-Assad, deposto em dezembro após uma rebelião das forças atualmente no poder, atacaram agentes de segurança na cidade litorânea de Jableh. As autoridades locais confirmaram o ataque.
No dia seguinte, as forças de segurança iniciaram operações de busca na área de Latakia, um reduto da minoria alauita — ramo do islamismo que representa 9% da população do país e ao qual Assad e sua família pertencem. A repressão resultou na morte de, pelo menos, 340 civis na região costeira, incluindo mulheres e crianças.
A ONG, que possui uma rede de informantes locais, informou que as mortes ocorreram por "motivos confessionais" e foram perpetradas por agentes de segurança e combatentes pró-governo. Além disso, houve relatos de "saque de casas e propriedades". Os incidentes aumentaram o número de mortos desde quinta-feira para 553, incluindo 93 membros das novas forças de segurança e 120 combatentes pró-Assad.
Um membro do aparato de segurança sírio afirmou à agência de notícias estatal Sana que a mídia síria reconheceu a ocorrência de atos criminosos, mas alegou que esses episódios foram isolados e cometidos por multidões desorganizadas em retaliação ao "assassinato de vários membros da polícia e das forças de segurança". Ele ainda afirmou que estava trabalhando para lidar com os incidentes.
Depoimentos sobre crimes contra civis alauitas se multiplicaram nas redes sociais nas últimas horas, embora as agências de notícias não tenham conseguido verificar independentemente os relatos. Uma ativista, por exemplo, escreveu que sua mãe e seus irmãos foram "massacrados em casa", enquanto vários moradores de Baniyas e Tartus, mais ao sul, pediram proteção urgente. O OSDH e outras fontes divulgaram vídeos mostrando dezenas de corpos empilhados no pátio de uma casa e várias mulheres chorando nas proximidades.
A Síria é formada por diversas comunidades — sunita, curda, cristã, drusa —, e os alauitas têm forte presença no aparato militar e de segurança desde os mais de 50 anos de domínio da família Assad, primeiro com Hafez e depois com Bashar.
Após a queda de Bashar al-Assad, decorrente de uma ofensiva de apenas 11 dias, as tensões aumentaram na costa do Mediterrâneo e nas montanhas. Apoiadores do clã Assad e ex-soldados do Exército sírio passaram a atacar as novas forças de segurança.
O presidente interino sírio, Ahmad al-Sharaa, com um passado jihadista e ex-líder do grupo islamista Hayat Tahrir al-Sham, que liderou a rebelião, tentou tranquilizar as minorias do país e a comunidade internacional ao prometer uma gestão inclusiva. No entanto, essa abordagem não é necessariamente compartilhada pelas facções sob seu comando, que agora compõem a maior parte do Exército e da polícia. O analista Aron Lund, do think tank Century International, observa que "grande parte dessa autoridade está nas mãos de jihadistas radicais", que consideram os alauitas inimigos de Deus. Para Lund, os confrontos evidenciam a fragilidade do governo atual.
Em um discurso na sexta-feira, al-Sharaa pediu aos insurgentes no oeste do país que "deponham as armas e se rendam, antes que seja tarde demais".