
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou a suspensão de US$ 400 milhões (aproximadamente R$ 2,3 bilhões) em verbas destinadas à Universidade Columbia, localizada em Nova York. A medida foi justificada pela suposta omissão da instituição diante do antissemitismo em protestos estudantis contra a guerra na Faixa de Gaza e o apoio dos Estados Unidos a Israel.
Esse montante representa 8% dos US$ 5 bilhões que o governo federal planeja repassar à universidade nos próximos anos, sendo destinado principalmente a contratos de prestação de serviços e financiamentos para pesquisas. Em 2024, Columbia obteve uma receita de US$ 6,6 bilhões, maior parte proveniente de mensalidades e cobranças médicas de seus hospitais universitários. Os gastos da instituição somaram US$ 6,3 bilhões, e a universidade conta com US$ 14,8 bilhões em seu fundo mantenedor.
Em um comunicado conjunto, os departamentos de Educação, Justiça e Saúde anunciaram que o corte representa o início de uma série de medidas, acusando a universidade de "omissão diante da perseguição persistente contra estudantes judeus". Embora o comunicado não tenha fornecido exemplos específicos de tais perseguições, a secretária de Educação, Linda McMahon, afirmou que "desde 7 de outubro de 2023, data do ataque terrorista contra Israel realizado pelo Hamas, estudantes judeus têm enfrentado violência, intimidação e perseguição antissemita implacável em seus campi, sendo ignorados por aqueles que deveriam protegê-los".
A Universidade Columbia ganhou destaque internacional em 2024, ao tornar-se um dos principais cenários de manifestações estudantis contra a guerra na Faixa de Gaza, a destruição causada por Israel e o apoio dos Estados Unidos a seu aliado no Oriente Médio. Estudantes da universidade montaram barracas no campus para protestar contra a guerra, e esses protestos se espalharam por outras instituições acadêmicas nos Estados Unidos, além de países como Austrália, França, Reino Unido, Canadá e Brasil. Em resposta, a administração da universidade autorizou a polícia a entrar no campus para desmontar os acampamentos e reprimir as manifestações, decisão que remeteu a forma como a instituição lidou com os protestos contra a Guerra do Vietnã na década de 1960.
"Todas as universidades precisam obedecer às leis antidiscriminação se quiserem receber verbas federais", declarou McMahon. "Columbia vem abandonando sua responsabilidade com estudantes judeus há tempo demais em seu campus. Hoje, mostramos para esta universidade e outras que não toleraremos mais sua chocante omissão."
Embora o comunicado não forneça detalhes, membros do Partido Republicano frequentemente caracterizaram os protestos estudantis em Columbia e outras universidades como manifestações favoráveis ao extermínio de judeus, em parte devido ao uso da frase "do rio ao mar, a Palestina será livre". Para apoiadores de Israel, a expressão sugere a remoção dos israelenses da região, enquanto os manifestantes pró-Palestina negam essa interpretação e afirmam que a frase pede liberdade para o povo palestino. Muitos dos estudantes que participaram dos protestos eram judeus, o que contribui para a divisão de opiniões sobre o significado da frase.
Além disso, críticos alegam que republicanos e o governo Trump buscam rotular qualquer crítica a Israel como antissemita, com o objetivo de restringir a liberdade de expressão nas universidades. O corte de verbas anunciado é, até o momento, a ação mais drástica tomada pelo governo Trump contra uma instituição de ensino superior, com o objetivo declarado de pressionar a Universidade Columbia e outras universidades a agirem contra os estudantes que participam desses protestos.
A universidade, por meio de nota, afirmou que está "analisando o anúncio do governo federal e promete trabalhar com as autoridades para reverter a decisão". O comunicado reafirma o compromisso da instituição em combater o antissemitismo e garantir a segurança de seus estudantes, trabalhadores e docentes.
Nas últimas semanas, Columbia expulsou três estudantes envolvidos em protestos, dois por interferirem em uma aula de "História de Israel Moderno" ministrada por um ex-soldado das Forças Armadas israelenses e um terceiro por participar da invasão de um prédio em abril de 2024.
A pressão do governo Trump também incluiu ameaças contra estudantes estrangeiros que frequentam universidades americanas. O secretário de Estado, Marco Rubio, afirmou: "Aqueles que apoiam organizações terroristas conhecidas, como o Hamas, ameaçam nossa segurança nacional. Os EUA têm tolerância zero para visitantes estrangeiros que apoiam terroristas, e quem quebra a lei, incluindo estudantes internacionais, pode perder o visto e ser deportado."
Além disso, a imprensa americana revelou que o Departamento de Estado estuda a possibilidade de usar inteligência artificial para analisar postagens de estudantes e identificar aquelas que possam ser consideradas "pró-Hamas", com o objetivo de deportar os alunos estrangeiros envolvidos.