Verões cada vez mais chuvosos, invernos mais secos e rigorosos e primaveras escaldantes, assim tem sido o clima em Goiás ao longo dos últimos anos, os goianos têm sentido na pele os impactos das mudanças climáticas e a tendência é de que o cenário piore. Somente em dezembro de 2022, Goiânia registrou chuvas acima da média histórica, com uma média pluviométrica que variou entre 330 mm e 458 mm. Nos dias 29 e 30 de janeiro de 2023, a capital goiana registrou 71% da chuva esperada para todo o mês. Segundo o Centro de Informações Meteorológicas e Hidrológicas de Goiás (Cimehgo), choveu 179 mm nos dias em questão, uma pessoa morreu durante uma enxurrada.
Já em relação ao tempo seco, Goiânia chegou a registrar apenas 8% de umidade em setembro de 2021, índice extremamente abaixo do recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que é de 60%. Em outubro do mesmo ano, a cidade registrou 41,1ºC, a maior temperatura já registrada na história da capital. São cenários climáticos como estes que levantam questionamentos sobre os efeitos do aquecimento global no cerrado, segundo maior bioma do Brasil.
De acordo com o relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), o mundo sofreu aquecimento de 1,1ºC no último século e meio. Pode não parecer muito, mas de lá para cá, houve um aumento no número fenômenos climáticos que deixaram vítimas fatais.
O gerente da Cimehgo, André Amorim, conversou com o Diário da Manhã sobre o aquecimento global e seus impactos no cerrado e na vida dos goianos. Ele descreve que "aquecimento global é o termo usado para descrever o aumento da temperatura média da atmosfera e dos oceanos da terra.
"Levantamentos demonstram que os últimos anos estiveram entre os mais quentes já registrados, sendo que este cenário de desequilíbrio possui potencial para um futuro sombrio", alerta.
Secas mais severas estão previstas para os próximos anos. (Foto: Reprodução)
De acordo com André, isto é algo sério pois a elevação das temperaturas gera um desequilíbrio de fenômenos que podem levar ao aumento da frequência e intensidade das secas e desertificação ou a intensidade de chuvas que provocam alagamentos e inundações, bem como foi visto na capital nos últimos dias, em que avenidas mais pareciam rios e enxurradas levavam tudo o que encontravam pelo caminho.
"Além da ameaça a biodiversidade as preocupações com o desenvolvimento econômico devem ser pautas pois toda esta variabilidade no clima afeta também a produção agrícola e consequentemente o desenvolvimento de nossos municípios comprometendo o PIB do Estado, sendo que podemos no futuro enfrentar secas mais intensas ou chuvas muito volumosas sendo um ou outro cenário os excessos são sempre impactantes", afirma o gerente.
Processo natural do clima x Aquecimento global
André alega que "as situações de chuvas intensas e secas severas demonstram tanto reflexos de questões que envolvem o aquecimento como também o processo natural do clima, a somatória dos fatores está gerando grandes impactos vistos no mundo, consequentemente Goiás não fica fora deste cenário de problemas decorrentes do clima."
Questionado sobre tendência do clima da região para os próximos anos, o gerente afirmou que "o cenário mais provável é de secas persistentes."
Tanto as secas severas, quanto as chuvas mais intensas, oriundos do aquecimento global, fazem com que os prejuízos para a biodiversidade e o setor econômico, como a agropecuária, podem ser grandes, sendo afetados diretamente e com impactos econômicos ainda não mensurados financeiramente.
Marginal Botafogo intransitável após a via expressa virar praticamente um rio. (Foto: Reprodução)
Para diminuir os impactos do aquecimento global, é mais que necessário ter consciência do que está ocorrendo no clima não só em Goiás, mas no mundo todo. É preciso pensar em soluções simples para que futuras gerações não percam a qualidade de vida, é egoísmo pensar apenas no hoje.
"No atual cenário, que por sinal é bem complexo devemos pensar rapidamente e adotar estratégias de como mitigar os efeitos da crise climática, como, por exemplo, se enfrentemos muitas secas, amplia-se o número de reservatórios, recuperam-se as bacias hidrográficas entre outras ações que seriam inúmeras, se tivermos chuvas intensas [devemos pensar em] como prestar socorro as pessoas que estão sofrendo por conta das fortes chuvas, mas qualquer que seja o cenário, temos que planejar e buscar a resiliência em encontrar soluções", finaliza André.