
Após exatos 12 anos sem que houvesse nenhuma convocação, aconteceu na cidade de Goiânia, em 23 e 24 de janeiro, a 5ª Conferência Municipal do Meio Ambiente, coordenada pelo Biólogo Antropólogo Pedro Baima em uma parceria empática da Prefeitura, AMMA e Sociedade Civil Organizada, foi formada a Comissão de Organização da Conferência, onde todos os dispostos , de maneira horizontalizada tiveram vez, voz e participação em todo o processo de realização da tão aguardada Conferência Municipal do Meio Ambiente de Goiânia.
A realização da Conferência foi definida para o Plenário Ipê do TRT 18ª Região, no setor Bueno, bairro este, recordista em crescimento vertical, com um dos m² mais dispendiosos da cidade, com suas fachadas espelhadas, baixa taxa de separação de recicláveis e gigantesca produção de resíduos, oriundos principalmente da Construção Civil embasada em antigos sistemas de não aproveitamento de materiais, grande número de descartes dos mesmos e uma despreocupação evidente das construtoras e imobiliárias, sem as devidas políticas e parcerias com as cooperativas de reciclagem e coletoras especializadas em resíduos para que haja o melhor aproveitamento possível de todo este material. Para onde vai todo este desperdício? Especialmente quando lembramos e tomamos consciência que não existe fora, que estamos todos dentro do Planeta (Água?).
Iniciada na manhã do dia 23 de janeiro, com inscrições no local e de brinde lindos mini-pacotinhos com sementes de pau-ferro, capitão-do-cerrado, ipê, crotalária e outras nativas. O Plenário Ipê, repleto de participantes sentados e em pé, no fundo e laterais. Com 244 inscritos e mais as autoridades presentes, seus assessores, fotógrafos, imprensa e servidores públicos das secretarias municipais, especialmente da Agência Municipal do Meio Ambiente, como por exemplo: Ana Paula Assis, Diretora de Gestão Ambiental e Mudanças Climáticas e Gabriel Tenáglia da Gerência de Mudanças Climáticas, esta, criada por Sandro Mabel, atendendo a importância atual das urgências e emergências climáticas na cidade e também já realizar o alinhamento para a COP 30.
Nossa 5ª Conferência Municipal do Meio Ambiente de Goiânia, com o auditório super-lotado foi iniciada a solenidade de abertura: A Presidente da AMMA, Zilma Peixoto, externou a múltipla dedicação à realização da conferência. Em seguida o desembargador e presidente do TRT 18ª Região, Geraldo Nascimento, evidenciou que a justiça climática e o meio ambiente são fundamentais para o desenvolvimento equilibrado das sociedades e que eles tem a satisfação em integrar e receberem a conferência.
A vereadora Kátia Maria, citou que “o desafio meio ambiente é gigantesco e os estudos e ações apontam para o importante papel das mulheres na transformação ecológica”. A presidente da Comissão do Meio Ambiente da Câmara Municipal de Goiânia, convocou o poder executivo municipal à ação de maneira integrada. Clamando aos colegas vereadores, à exercerem suas responsabilidades enquanto propositores e legisladores da cidade, lembrando da expedição Meia-Ponte, rio este que abastece 40% dos municípios goianos.
Goiânia, uma cidade idealizada e planejada inicialmente para ser a cidade das bicicletas, ecológica, organizada, um antigo sonho também de dona Gercina Borges, inspirada em bairros jardins, como exemplo nosso lindo setor Sul e vila Itatiaia com suas belas e amplas praças bem planejadas na época. Goiânia esta, que embora tenha um grande percentual de árvores por habitantes, tem matado e marginalizado diversos cursos d´águas e esquecido de suas nascentes. As ainda existentes, ao longo de seu curso, sofrem sobrecarga de lixos e entulhos, os mesmos que deveriam ter sua destinação adequada há décadas. Seus córregos lindos e cheios de vida (motivos da escolha do local da capital e chegada de muitos migrantes), muitas vezes recebendo descargas clandestinas e mal fiscalizadas (principalmente na gestão passada).
O vereador e professor Edward Madureira contou de sua participação na Conferência Intermunicipal dos municípios da bacia do Rio Piracanjuba (nome de origem Tupi: Peixe de Cabeça Amarela, pirá-peixe/ akanga-cabeça/ îuba-amarela), realizada no Parque Estadual da Serra de Caldas, no dia 22 de janeiro, onde “mais de 350 pessoas presentes, evidenciaram que o planejamento a partir das bacias, deve mudar toda a realidade trazendo a solução para os problemas ambientais e que o aumento do desafio pela convivência com o crescimento populacional, exige a conciliação da produção de alimentos e a restauração e preservação ambiental”. Salientando que nossos conhecimentos já existem e que é necessária ação: na nossa casa, nosso bairro e nossa cidade. Portanto, estamos atrasados em ações práticas de despoluição, educação ambiental, plantios, conservação das árvores e permeabilização das calçadas de ruas, casas e prédios.
A vice-prefeita Coronel Claudia Lira ressaltou a importância da conferência sobre emergência climática e que “é necessário agir urgentemente: o prefeito Sandro Mabel tem promovido ações de mutirões com uma série de ações voltadas para a limpeza e educação, na busca pela transformação que tanto almejamos e na convivência sustentável com o meio ambiente”. Convidando-nos à repensar nossa relação com o meio ambiente, onde todos contribuam e transformem a realidade. Sendo bastante aplaudida pelos presentes, oficializando o início da 5ª Conferência Municipal do Meio Ambiente.
Em cena agora, o Sexteto da Orquestra Sinfônica de Goiânia, ao som de Aquarela do Brasil, composta por Ary Barroso em 1939. Em seguida, Yesterday, composição de Lennon e McCartney, lançada pelos Beatles em 1965. Um contraste entre as fontes onde matamos nossa sede e outra com problemas que pareciam distantes mas que agora parecem que vieram pra ficar. Qual das duas escolheremos? Eu sinceramente escolho viver numa eterna Aquarela.
Os inscritos se agruparam por eixos, com os temas: mitigação, adaptação e preparação para desastres, justiça climática, transformação ecológica, governança e educação ambiental foram realizadas propostas, debates e discussões. Em cada grupo surgiu minimamente 2 propostas para votação em plenária e no máximo 5 propostas por eixo. Após a leitura de todas as propostas houve votações para a escolha ou até mesmo agrupamento de propostas pertinentes à se juntarem, elaborando assim as melhores possibilidades à serem levadas pelos delegados eleitos e natos, para a Conferência Estadual do Meio Ambiente, prevista para os dias 11 e 12 de Março.
Sendo Goiás, um estado com territórios de fontes inesgotáveis de desenvolvimento sustentável, por que a morosidade em organizar campanhas ambientais ostensivas e intensivas para frear o desmatamento, potencializar a educação ambiental, despoluir nossas águas, incentivar os municípios em práticas lixo zero? Como, por exemplos, a reciclagem, a compostagem, não jogar lixo no chão, aplicar as devidas multas: desde os terríveis papéis de balinhas e canudos às sacolinhas de plástico e embalagens das diversas compras e consumo.
Realizar políticas e programas amplos e massivos de uso de sacolas ecológicas para nossas compras diárias. Incentivo das compras à granel e estimular as prefeituras à estas e outras ações como notificar os moradores sobre os dias de passagem dos caminhões de coleta seletiva, que apitam por aí e em muitas ruas, pelas ausências de notificações e orientações das prefeituras (nos raros municípios que realizam a coleta), pouquíssimos moradores à fazem. Incentivar as Cooperativas e cooperados, para que juntos à assessorias de saúde mental, secretaria social e ações educativas e até de mini-cursos financeiros. Estas pessoas são de suma importância para toda a sociedade , sendo necessário se estruturarem e terem garantidos seus direitos fundamentais de vida, saúde, moradia, lazer, segurança, igualdade, trabalho e dignidade.
Na Sexta-feira, 24, fomos agraciados pelo maravilhoso texto-poema de Cora Coralina, recitado pela servidora da AMMA: Cida Magalhães, que também recitou na seqüência Pablo Neruda, numa poesia que registrou sua vinda em Goiás, exaltando as belezas de nosso Preservado Cerrado. Em seguida foi dado início à Plenária com a eleição dos delegados.
Eleitos os delegados, seguindo exatamente o sistema de Cotas, representantes do setor produtivo, destaque de catadores representantes de cooperativas e de Gregor Kux, guardião por décadas da Cerrado Alimentos Orgânicos e agora com sua proposta da utilização do conhecimento da Terra Preta dos Povos Originários, abrigando atualmente inclusive, em sua residência 8 indígenas da etnia Krahô. A representação indígena, com o devido destaque para Leandro Mamirawá, convidado pelo Instituto Santa Dica, que ao fazer questão da presença de povos originários, junto ao Centro de Audiovisual indígena (CAUD indígena) e ao Observatório Indígena do Estado de Goiás, com Renato Sanchez, designado pelo Professor Pedro Wilson como representante do Observatório, juntamente à Leandro Mamirawá.
A representação negra, com destaque para Nina da Costa, assessora do vereador Fabrício Rosa. Em se tratando de justiça climática e extinção do racismo ambiental, também foram eleitos dois representantes da periferia, dentre outros, com o mínimo de 50% de mulheres. Os suplentes foram elencados por número de votos.
Chegaremos esperançosos na Conferência Estadual. Sedentos por Justiça Climática, pelo fim do racismo ambiental, pela adaptação e preparação para os desastres climáticos que fatalmente ainda virão e que podem ser mitigados através do exercício diário da educação ambiental e por ações verdadeiramente sustentáveis dos governantes dos municípios, estados e da união, aliando-se ao que já realizam estas ações, tanto os povos originários, quanto as comunidades quilombolas, kalungas, ribeirinhos e caiçaras juntos aos demais ambientalistas-cidadãos, para que todos possamos superar o mais rapidamente possível, estas alterações provocadas na corrida desenfreada e impensada pelos lucros e supremacias.
No caminho da transformação ecológica, é preciso passos rápidos e largos, pois é realmente necessária uma corrida de cada um e de todos para este caminho ou continuaremos perecendo de calor e sedentos. A agrosintropia e agroecologia são os melhores aliados. Pra quê continuarmos morrendo de cânceres em função do uso do agrotóxico se podemos ingerir alimentos saudáveis e em favor da natureza?
Lucília Maria Amaral, especialista em Docência, Educadora Ambiental e Presidente do Instituto Santa Dica