Num texto recente publicado aqui no Diário da Manhã falei sobre a invisibilidade das delegacias sociais, elas não têm como ênfase e finalidade o patrimônio, algo valorizado numa sociedade mercantilizada, e sim a honra, a integridade moral, psicológica, física, a vida.
O Geacri - Grupo Especializado no Atendimento às Vítimas de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância do Estado de Goiás está no mesmo barco que as delegacias de atendimento às mulheres, idosos, deficientes, crianças e adolescentes, todas elas têm em comum um serviço menos bélico em que o atendimento, o acolhimento e a defesa das vítimas são mais importantes do que a técnica investigativa, as operações de busca, apreensão e mandado de prisão ou recuperação de bens materiais.
Notamos nos últimos anos um debate mais intenso sobre racismo, LGBTFOBIA, xenofobia, genocídio indígena, tanto a defesa quanto o desprezo por estas populações são colocadas com cores fortes, apelos emotivos e colorações políticas.
Se por um lado houve a intensificação dos discursos de ódio, de ataques a gays, transexuais, indígenas, negros, religiões de matriz afro e estrangeiros, houve também uma maior mobilização em movimentos sociais a partir da década de 1970, em participação política, na atuação do poder público com políticas públicas para estas “minorias”.
Dentre as medidas surgidas nos últimos há o Geacri, que começou a atuar em agosto de 2021, e já mostra o aumento de casos registrados em sua unidade, que além de delegacia social, funciona também como delegacia escola, situada no mesmo prédio que a ESPC- Escola Superior da Polícia Civil.
Visualizando suas estatísticas percebemos o número considerável de ocorrências, 312 em 2022, como por exemplo, 46 de injúria homofóbica, 120 de injúria racial/cor, 30 de racismo, e 22 de intolerância religiosa. Pode parecer pouco se compararmos com roubo e furto a residência e outros crimes patrimoniais, mas são muitas se pensarmos que são afrontas a dignidade humana e, em seu limite, levam a morte, o Brasil é o país que mais mata LGBT’s no mundo, tem um número enorme de mortes de indígenas e vivemos uma verdadeira necropolítica em relação a população negra, os jovens negros são os que mais morrem no Brasil, assim como são os mais encarcerados.
Seria correto afirmar que houve aumento dos casos de intolerância ou houve aumento do sentimento de injustiça e mobilização em relação ao racismo, LGBTFOBIA, xenofobia etc.? Difícil responder sem uma pesquisa sociológica e criminológica mais profunda, porém podemos afirmas que os registros e inquéritos policiais vem aumentando, e a resposta do Estado está sendo dada, mesmo com suas limitações devido ao conservadorismo e a invisibilidade das delegacias sociais.