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Em meados de 1979, uma criança maranhense de apenas 10 anos, filha de um trabalhador rural de uma fazenda em um distrito da pacata cidade de Alto Parnaíba, enfrentou seu primeiro grande desafio na vida. Seu pai, que sofria de Doença de Chagas, começou a apresentar sinais de que sua saúde estava se deteriorando. Sentindo-se extremamente cansado, foi até a cidade em busca de tratamento, mas o médico foi direto: o fim estava próximo.
Desesperada e sem aceitar esse destino, sua mãe, sabendo que teria que cuidar sozinha de sete filhos, decidiu continuar lutando. Partiu então para uma cidade vizinha, conseguindo uma carona em um jipe, levando consigo o marido doente e duas das crianças, na esperança de encontrar um alívio para seu esposo. Naquela época, as estradas rurais eram precárias, e, após algumas curvas, aconteceu a fatalidade: o carro perdeu o controle, capotou e sua mãe perdeu a vida. Apenas ela faleceu naquele acidente, mas deixou para trás sete filhos órfãos, com um pai doente e sem perspectivas. Pouco tempo depois, o pai também partiu, vítima da doença. Agora, aquelas crianças estavam completamente sós.
Não conto essa história para assustar, mas para apresentar uma trajetória de superação que se iniciou naquele momento. Um senhor muito querido na cidade, sensibilizado com a situação, encontrou lares para as crianças entre pessoas de bom coração que ele conhecia. Assim, a filha mais velha foi enviada para Goiânia, na esperança de agarrar a única oportunidade que a vida lhe oferecia.
Chegando à nova cidade, foi acolhida com carinho por um casal, que lhe proporcionou estudo, educação e valores, ensinando-lhe a diferença entre o certo e o errado. Além disso, ela tinha um papel na casa: ajudava como babá dos filhos do casal.
Com o tempo, aquela menina cresceu, formou-se com um caráter irrefutável e conquistou seu espaço. Hoje, é Técnica em Higiene Dental, concursada pela Prefeitura Municipal. Tem uma filha cursando Enfermagem na UFG, possui sua casa e seu carro quitados e, sempre que pode, ajuda seus irmãos.
O senhorzinho que interveio na história era meu avô, o casal que a acolheu são meus pais, e essa menina é a Arlete, que foi minha querida babá. Todos os domingos, ela vem à nossa casa, ansiosa para dar um beijo no meu filho (na foto). Ela é a nossa Leth, minha irmã de coração, ainda que não de sangue.
Compartilho essa história hoje, no dia 8 de março, para, em nome da Arlete, cumprimentar todas as mulheres. Vocês são força, inteligência e coragem, assim como ela demonstrou ser, enfrentando todas as adversidades sem jamais desistir. Que esse exemplo inspire todos que o lerem. Feliz Dia da Mulher! Que possamos, juntos, construir um mundo mais justo, com oportunidades iguais para todos, onde cada mulher possa ser quem quiser, sem medo e sem limitações.
