Elas estão sumindo. Umas morrendo, outras pegando fogo e o mais sério de tudo: várias cortadas. Goiânia já recebeu o título de capital mais arborizada do Brasil. Pode estar perdendo ou mesmo já perdeu. Não sei. Mas ao correr aos domingos bem cedo, sinto falta de várias gameleiras. Por exemplo, a que vicejava atrás da Clinica Isabela, na Praça do Ratinho.
Cheguei a tentar conversar com vários comerciantes, foram unânimes em dizer que árvore frondosa cobre a fachada. Aos poucos percebo que em frente as casas elas ainda resistem. Mas sucumbem diante do comércio. Será que a sombra e o frescor do vento não atraem também o cliente? Será que ao barrarem a barulheira dos carros, motos e ônibus, elas diminuam a circulação local? Será que as pessoas não gostam mais de oxigênio?
Tenho um pequeno trecho de 8 quilômetros de corrida a pé que faço aqui no Setor Oeste em que fico vigiando as enormes sibipirunas do trajeto, uma delas está na Rua R-11, em que a moça que varre a calçada o faz com louvor devido a beleza do tapete amarelo. Quando passo no Bosque do Buritis vive um flamboyant lindo demais. Floração vermelha, floração alaranjada. Não está sofrido como os da rua Araguaia.
Lá pra dentro do Bosque há um jatobá enorme que é uma tentação para subir. O menino que mora em mim sempre me chama para tal. Resisto. Na passagem sombreada do Bosque, sempre grito. Amigos que já me acompanharam até acostumaram. A Natureza torna-me efusivo. As seis da manhã no mato não acordo ninguém. Só um casal de tucanos que moram ali pertinho.
Outro dia fui pedalando até o Aldeia do Vale, na curva da Pecuária com a avenida que ruma ao Setor Jaó há uma gigantesca árvore na esquina. Suas folhas vermelhas parecem flores. A saudei com tanto entusiasmo que uma lufada de ar quase me derrubou da bicicleta. Foi presente dela. Aumentei o ciclo do pedal. E retomei meu passo. É bom vê-la e logo na frente duas grandonas a beira do rio Meia Ponte. Daí para frente, só subida.
Destaque para os parques de Goiânia que conservam os maiores exemplares. Só não encontrei ipê amarelo que supere o do terreno ao lado do supermercado Tatico. Mas já vi garapeiras com seus frutos em forma de gotas, aos quais não me furto de abaixar e apreciar o desenho tão perfeito. Uma pena terem derrubado uma barriguda que ficava à direita de quem sobe a Avenida Mutirão quase chegando na avenida 85. Ainda temos muitas ao redor do Lago das Rosas, destaque para as duas que ficam praticamente em frente a antiga Maternidade de Maio (rampa árdua para quem corre, diga-se de passagem).
Ficaria páginas e páginas a discorrer sobre plantas e pássaros que habitam nossa cidade. É muito bonito parar e apreciar. Precisamos fazer mais isso. Até nas minhas corridas eu diminuo o passo para ver o belo. Nossa cidade guarda surpresas de mognos, mongubas de flores brancas (bem mais raras do que as de flores vermelhas) e palmeiras de várias espécies, até Jerivá. Que tal um “tour ecológico” pelos parques de Goiânia? Convide seus pais, seus avós. Escolham um pedacinho qualquer. Tenho certeza de que a surpresa de que ao ouvir os mais velhos lembrando de trechos, passagens de suas vidas, elas estarão cheios de árvores, sombras, flores e frutos. Precisamos de ar, de verde, de vida mais contemplativa, para seguirmos com nossas raízes fortes frutificando e lançando sementes de paz a todos. Principalmente os mais novos.