Ciência e Esperança é o título do segundo capítulo do livro O mundo assombrado pelos demônios: a ciência vista como uma vela no escuro, de Carl Sagan (2006). O título é sugestivo, atual e contundente. O autor inicia o texto com algumas lembranças de sua infância — uma fase em que, segundo ele, as crianças têm esperança, sonhos e curiosidade — e convida o leitor a refletir sobre o fascínio que a ciência desperta naqueles que se dispõem a conhecê-la.
Esse foi o texto que escolhi para fazer uma resenha para a disciplina de Jornalismo, Divulgação e Comunicação Científica na América Latina, do programa de Doutorado da USP, ministrada pelo professor André Chaves de Melo Silva. Professor livre-docente do Departamento de Jornalismo e Editoração (CJE) da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo, ele possui graduação em Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo (Bacharelado), pela Faculdade de Comunicação Social "Cásper Líbero", e em História (Bacharelado e Licenciatura) pela Universidade de São Paulo (1998), além de mestrado e doutorado em Educação pela mesma instituição.
Durante as aulas, realizadas todas as terças-feiras no período vespertino, discutíamos a importância do jornalismo, da comunicação e da divulgação científica, com base em teóricos como Warren Burkett. Logo no início de seu livro Jornalismo Científico: como escrever sobre ciência, medicina e alta tecnologia para os meios de comunicação, Burkett desperta nossa atenção para a diferença entre redigir ciência, redação científica e o interesse público.
Voltando à resenha sobre o capítulo Ciência e Esperança, de Sagan (2006), meu livro de cabeceira, um trecho que me chamou atenção — e que fiz questão de citar durante as aulas na USP — foi: “Não explicar a ciência me parece perverso. Quando alguém está apaixonado, quer contar a todo mundo”. Essa frase reflete o tom apaixonado do autor, que afirma que o livro é um testemunho pessoal do amor que ele sente pela ciência, um amor que dura toda a sua vida.
O capítulo traz várias reflexões, como o fato de a ciência ser um modo de pensar que está conectado a diferentes áreas da sociedade, como transporte, comunicações, agricultura, medicina, educação, entretenimento e muitas outras. Apesar disso, a ciência, assim como a tecnologia, é frequentemente incompreendida. O autor relaciona o termo conhecimento à ciência, apontando-a como o oposto da ignorância e da escuridão — a vela que ilumina, enquanto os "demônios" começam a se agitar.
No entanto, Sagan (2006) é sensato ao afirmar que a ciência não tem respostas para tudo e que muitos mistérios permanecem difíceis de compreender. Ele reconhece que a ciência está longe de ser um instrumento perfeito de conhecimento, mas assegura que ela pode iluminar. Sobre o método científico, enfatiza a necessidade de ser imaginativo e disciplinado, ressaltando que nenhum conhecimento científico é completo ou perfeito.
Ao longo do texto, o autor transmite importantes ensinamentos ao leitor, como a necessidade de desconfiar de argumentos de autoridade. Sagan reitera que a ciência deve ser independente, pois ela nos mostra o mundo como ele é, e não como gostaríamos que fosse. Quando aplicamos os métodos científicos e a ciência se torna clara para nós, “sentimos uma profunda satisfação”, como define Sagan..
O autor encerra o capítulo com destaque a importância da divulgação científica por meio de veículos de comunicação de massa, salas de aula e outros espaços sociais. Para ele, o método científico precisa ser divulgado em larga escala, pois a ciência tem o poder de alertar sobre perigos, esclarecer questões profundas e desmascarar aqueles que fingem ter conhecimento. Sagan (2006) nos provoca com uma reflexão final e que gostaria de compartilhar com os leitores: que tipo de sociedade teríamos se a ciência fosse incutida como um sentimento de esperança?