À época da primeira edição do livro “Educação do espírito”, em 1952, não se falava ainda de crianças índigo, daí que Walter de Oliveira, o autor, refere-se a crianças-prodígio, apontando como tais, alguns gênios que a humanidade já conhecera. Poderiam ou não ter sido índigos, enquadrando-se ou não nas características dos índigos atuais, classificados em pelo menos quatro tipos (humanista, conceitual, artista e interdimensional), conforme apresentados em artigos precedentes.
Quanto às crianças-prodígio, o autor cita exemplos, como o de Mozart, que aos 4 anos já tocava piano com maestria, e aos 8, compunha sua primeira peça musical. Paganini, que ainda criança, dominava o violino, e Pascal, que aos 12 anos, descobriu a geometria plana. Assim, recorrendo a Léon Denis, extrai de sua obra “O problema do ser, do destino e da dor”, outros exemplos admiráveis, tais como Willian Hamilton, que aos 3 anos já estudava hebraico e aos 7, igualava-se em conhecimento aos seus professores. Já aos 13 anos, conhecia 12 idiomas. Willy Ferreros, com pouco mais de quatro anos, dirigia a orquestra Folies-Bergère de Paris e logo após, a do Cassino de Lyon. Willie Gwim, aos 5 anos, foi diplomado como médico pela universidade de Nova Orleans. E assim sucessivamente.
O fato de terem sido superdotadas, essas crianças geniais teriam sido índigos? Por outro lado, os índigos atuais seriam gênios ou apenas indivíduos talentosos com aptidões múltiplas? E os índigos atuais, continuariam com suas faculdades especiais pela vida inteira, como os antigos gênios? Quaisquer que sejam as respostas, levam elas às explicações apresentadas por Walter de Oliveira. Ou seja, de que “somente os renascimentos sucessivos nos fazem compreender a facilidade apresentada por certas crianças chamadas ‘prodígios’ de assimilarem certos conhecimentos ou de demonstrarem tremenda habilidade física ou mental para certas áreas do conhecimento e das artes”.
Possíveis bloqueios
Assim pondera o autor em foco, que cada indivíduo é um ser particular que renasce com sua bagagem própria, mas que deve ser acompanhado e educado cuidadosamente em sua nova experiência existencial, para conservar sua genialidade, como as crianças-prodígio. Mas do contrario, não recebendo motivações positivas, poderão sofrer sérios bloqueios ao longo de suas etapas evolutivas.
Como as faculdades são do espírito e não dos órgãos em que o espírito se agasalha, se não trabalhados os meios não serão alcançados os fins. Além do mais, os espíritos não evoluem simultaneamente em todas as áreas, podendo avançar, por exemplo, numa etapa em ciência e em outra, em moralidade, segundo adverte, a propósito, Allan Kardec em O livro dos Espíritos.
Geralmente um defeito físico com efeito inibidor tem como causa uma dívida espiritual. Gênios do passado podem renascer com bloqueios nas áreas em que profanaram seus dons. Isso indica que quem utiliza mal sua inteligência em determinada área, pode tê-la bloqueada em nova existência até quando se desperte para a necessidade de seu desenvolvimento moral.
Recapitulação de experiências
Assim como a criança ao renascer, ainda na fase embriogênica recapitula a evolução filogenética da vida animal, após seu nascimento reconquista gradualmente sua experiência de vidas passadas. E se desenvolve vencendo etapas tal como começou o ciclo evolutivo da humanidade. É como se a criança recomeçasse sua vida desde uma fase primitiva.
Conforme vimos em Piaget, até os 2 anos de idade a criança desenvolve sua percepção sensório-motora. Dos 2 aos 4 anos, passa ao período preconceitual, ligando seu eu ao mundo exterior e vice-versa. Dos 4 anos aos 7, entra na fase do pensamento intuitivo, aprendendo a pensar de modo próprio. Dos 7 aos 12, desenvolve o raciocínio ligado aos objetos concretos. A partir daí começa o desenvolvimento da razão lógica e das abstrações formais. (Isso sem falar nas crianças-prodígio, nos gênios ou nas crianças-índigo de hoje, que saltam etapas ou superam rapidamente essas fases evolutivas).
Com o desenvolvimento tecnológico e com os meios de comunicação virtual de hoje, não estariam sendo modificadas também as estruturas mentais das crianças? A relação do homem com a natureza foi completamente modificada depois de instaurada sua relação com a máquina, influenciando, certamente na sua forma de aprendizado. Mas não é o caso da evolução do espírito, que há de ser integral e não setorizada, visando ao desenvolvimento de todas as potencialidades humanas e especialmente aquelas de seus pendores naturais. À parte, é claro, as habilidades individuais, conforme dito acima.
Renascimento espiritual
Os recursos tecnológicos de hoje favorecem, mas não provocam o despertar de certas habilidades especiais. A máquina não altera a tendência inata de cada criatura, não faz, por exemplo, um artista, nem transforma um poeta em cientista, se já não tiver habilidade própria. Por sua vez, o conhecimento especializado não substitui a visão holística e universal das coisas, que é inerente à evolução do espírito humano. Há quem utilize a máquina para o bem e quem a utilize para o mal. Eis o motivo por que Einstein, que descobriu o átomo, irritou-se quando soube da invenção da bomba atômica e por isso aparece botando língua pra humanidade.
Walter de Oliveira, em seu livro Educação do espírito, observa curiosamente que, após 500 anos de eclosão da cultura grega, quando nosso planeta recebera grandes espíritos missionários, Cristo veio trazendo as bases do seu evangelho de redenção e elevação. Quinhentos anos mais tarde tivemos o inicio da idade média e mil anos após, deu-se o renascimento da cultura clássica, quando ao mesmo tempo se iniciou a tendência científica da investigação da natureza e das grandes invenções.
Tudo leva a crer, conclui o autor, que novamente após 500 anos, teremos o renascimento da cultura espiritual, sob a égide do Cristo e com o advento da doutrina espírita, para a reestruturação, transformação e renovação das inteligências. Dentro dessa lógica, resta-nos indagar se o atual momento histórico não estaria reservado também para a chegada das crianças índigo?
(Emílio Vieira, professor universitário, advogado e escritor, membro da Academia Goiana de Letras, da União Brasileira de Escritores de Goiás e da Associação Goiana de Imprensa)