Opinião

Morto assistiu ao próprio velório

Redação

Publicado em 13 de maio de 2015 às 02:46 | Atualizado há 10 anos

 

De vez em quando, se ouve falar em morto que assistiu ao próprio velório e até acompanhou seu sepultamento. Recentemente, quando familiares e pessoas piedosas velavam os restos mortais de um amigo nosso, no Memorial Parque de Goiânia, uma pessoa afirmou que vira o falecido, sentado numa cadeira próxima ao caixão, contemplando, na maior tranquilidade e até sorrindo, com fina ironia, das expressões dos presentes.

Se foi mesmo verdade, é porque quem viu é médium vidente e muito bom médium vidente. Se aconteceu mesmo, ele presenciou um fenômeno incomum porque, regra geral, a libertação do corpo físico não é instantânea nem mesmo rápida e o espírito atravessa um período de perturbação, perdendo a noção de tudo, como se dormisse para despertar no novo plano da vida.

Richard Simonetti, no livro Quem tem medo da morte?, observa que a progressiva debilidade de um doente, levando-o à inconsciência, representa uma espécie de anestesia para o espírito que, com raras exceções, dorme profundamente, não tomando conhecimento da grande transição. Já aqueles que viveram uma existência voltada para o bem, no respeito e na solidariedade ao próximo, superam essa anestesia da morte e podem até acompanhar o trabalho de desligamento efetuado pelos benfeitores do Mundo Maior, como acontece a um paciente presenciando delicada intervenção cirúrgica em si mesmo. Consumada a liberação da alma, estarão cientes do novo estado, o que não ocorre com o homem comum, que se sente aturdido ao acordar em dimensão diferente e ainda mentalmente atado às impressões grosseiras das coisas terrenas.

O despreparo para a morte caracteriza multidões que regressam todos os dias à pátria verdadeira, sem a mínima noção do que as espera, após decênios de desinteresse, neste mundo, pela realidade do além-túmulo. São homens e mulheres que jamais refletiram seriamente sobre o real significado da jornada terrestre, de onde vieram e para onde vão. Sem a bússola da fé e a bagagem das boas ações, ficam perplexas, confusas e apavoradas.

Nesse aspecto, é forçoso reconhecer no Espiritismo um abençoado curso de iniciação às realidades do invisível. O espírita, em face das informações amplas que recebe, tem muito para chegar lá sem maiores problemas de identificação. Mas isto nada lhe representa como direito de ingresso em comunidades venturosas, que depende unicamente do que ele fez de bom e não do que sabe. Aliás, mais lhe será cobrado por haver recebido mais em termos de conhecimentos.

 

Allan Kardec repórter

Em O Céu e o Inferno,  sua  quarta-obra básica, Allan Kardec apresenta o primeiro conjunto de mini-entrevistas com espíritos, de que se tem notícia – com bons, maus, santos e criminosos – contando suas experiências pós morte.  Lá temos um fato por ele mesmo constatado com J. Sanson, antigo membro da Sociedade Espirita de Paris, que morreu em 21 de abril de 1862, depois de uma doença que lhe acarretou um ano de atrozes sofrimentos, aceitos com serenidade e conformação.

Sentindo o fim próximo, J. Sanson escreveu àquela entidade, repetindo um pedido que fizera no início da enfermidade, para ser atendido logo depois de sua morte: “É o de evocardes o meu espírito, o mais imediatamente possível e o mais freqüentemente que julgardes oportuno, a fim de que, membro bastante inútil de nossa sociedade durante a minha presença na Terra, possa servir-lhes para alguma coisa além-túmulo, dando-lhes os meios de estudarem fase por fase, em suas evocações, as diversas circunstâncias que seguem o que o vulgo chama de morte mas que, para nós espíritas, não é senão uma transformação, segundo os desígnios impetráveis de Deus, mas sempre útil ao fim que se propôs.”

 

Lucidez oito horas depois da morte

Relato do codificador, no livro referido:

– Para nos submetermos ao seu desejo de ser evocado o mais cedo possível depois da morte, seguimos para a casa mortuária com alguns membros da Sociedade e, na presença do corpo, ocorreu a conversa, uma hora antes do sepultamento. Tínhamos com isso duplo objetivo: o de cumprir uma última vontade e o de observar, uma vez mais, a situação da alma num momento tão próximo do desencarne e num homem inteligente e esclarecido, profundamente penetrado das verdades espíritas. Tínhamos que constatar a influência dessas crenças sobre o estado do espírito, a fim de compreendermos suas primeiras impressões. Nossa previsão não se enganou: o senhor Sanson nos descreveu, com perfeita clareza, o instante da transição, devido à elevação do seu espírito.

A resposta de J.Sanson, através de um médium de incorporação presente, foi objetiva: “Minha posição é bem feliz, porque não sinto mais nada das minhas antigas dores. Estou regenerado e restabelecido como novo. A transição da vida terrestre para o mundo espiritual me foi, de início, incompreensível. Mas antes de morrer fiz uma prece a Deus e Lhe pedi o poder de falar àqueles a quem amo, e Deus me escutou.”

J.Sanson acrescentou, sereno e consciente, que oito horas após o desenlace, já estava na plenitude de sua visão, lucidez e ideias.

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