Riad Younes,Especial para Opinião Pública
“Quase todos os dias eu me sentia horrível. Quase todos os dias sentia o peso insuportável da vida. Tudo era difícil. Tudo era obstáculo. Até meus passatempos, antes preferidos e divertidos, não mais me trazem qualquer prazer. Sempre ansioso, sempre à beira da explosão. Me odiava e odiava tudo e todos que estavam ao meu redor. Parece que perdi a esperança.”
Assim se descreveu um adolescente a um médico amigo meu. Em conversas sobre os jovens e suas ansiedades, ele me relatou esse caso como emblemático de um problema frequente, intrigante e muito preocupante: o progressivo aumento do número de adolescentes com diagnóstico de depressão. Muitas vezes graves. Às vezes levando a atos de automutilação e até suicídio.
As causas dessa incidência cada vez mais elevada não são claras, mas os números não deixam dúvidas sobre a importância desse problema. Vários estudos realizados por pesquisadores do Instituto Nacional de Saúde Mental dos Estados Unidos estimam que entre 7% e 11% dos adolescentes apresentam sintomas claros de depressão, e que de 2% a 3% têm quadros graves da doença. No Brasil, as estatísticas científicas estimam que os jovens apresentam incidências semelhantes, sendo a depressão mais comum nas meninas adolescentes (12%) do que nos meninos (5%).
A depressão tem um peso enorme não somente nos jovens pacientes, com grande impacto na qualidade de vida dos adolescentes e de seus familiares, associada ao aumento dos riscos de desfechos graves. O uso frequente de serviços médicos e hospitalares e a necessidade de tratamentos prolongados também sobrecarregam os sistemas de saúde e elevam os custos desses cuidados.
Os tratamentos atuais, apesar de melhorarem substancialmente em relação ao passado, ainda deixam de controlar totalmente a maioria dos pacientes.
Os sintomas mais comuns, que podem alertar pais e amigos para um caso de depressão, são: tristeza por longos períodos, choro frequente, dificuldade de tomar decisões, perda de energia, irritabilidade, dificuldade de concentração e de trabalho, e autocrítica constante.
Mesmo não parecendo haver correlação entre depressão na adolescência e sua persistência na idade adulta, muitos dos adultos com a doença apresentaram seus primeiros sintomas na adolescência. Os adolescentes acometidos são frequentemente filhos de pais ou familiares imediatos com depressão.
Identificar o problema precocemente e tratá-lo de forma adequada, utilizando tanto as abordagens comportamentais quanto medicamentosas, é fundamental. Melhora a qualidade de vida do adolescente e de sua família, e reduz o risco de evolução grave, por vezes fatal.
Os especialistas do Instituto de Saúde Mental dos Estados Unidos recomendam a atenção, o cuidado e a prevenção nas crises de depressão. A incidência de uso abusivo de álcool, drogas e de comportamento antissocial é muito mais comum em pacientes com depressão. O custo social dessa doença mental é alto. O sofrimento individual, incalculável. E nenhum adolescente está imune. A atenção aos sintomas e sinais de alerta pode salvar a vida de muitos jovens.
(Riad Younes, médico, diretor clínio do Hospital Sírio-Libanês e professor da Faculdade de Medicina da USP - Texto originalmente publicado na CartaCapital)