"Gente sem terra, corrupção, desemprego: mundo em guerra." (Carlos Seabra)
Grande parte da população trabalhadora urbana, hoje, ultrapassando 80% da população, articula-se a seu modo pela sobrevivência. É a luta de classes, eterna peleja por uma pataca de sal, retrato vivo e cru das desigualdades sociais. O País estampa, este mês, gráficos avermelhados que ultrapassam a marca de mais de meio milhão de desempregados, escancarando mais uma expressão social latente.
Outro meio milhão de seres, sacados do exército de reserva do mercado capitalista, pulula sufocado dentro do jacá da miséria humana, o presídio. Na sua grande totalidade, histórica, a exclusão prende e mata no Brasil representativa parcela da população de desempregados, cuja fotografia retrata 75% dos encarcerados representados por jovens negros, na faixa etária entre 16 e 27 anos de idade. Fato que açoita a ética, também a propalada boa intenção em torná-lo Pátria educadora.
Enquanto o País lava (a jato) almas covardes de um Congresso retrógrado e armado, botas latifundiárias vestem bancos, oligarquias, empresas de capital transnacional, funcionários públicos detentores de poder, assim como o tráfico, o jogo e as igrejas organizadas. O franchising da corrupção se espalha e suas esporas fazem rastro num terreno apolítico enlameado que provoca a ebulição do lobbie nefasto, capitalista e covarde atado a grandes empresários, em sua maioria, sócios majoritários do capital transnacional.
Do lado de fora da bolha administrativa que reza, peca, rouba e pratica o lobbie das vantagens, o mundo insiste, cruel e voraz que enquanto arrota a realidade denuncia o gueto social, analfabeto funcional, o qual entra na fila abortada por um ‘evento cultural’ na disputa por vaga na TV, em atração conhecida por Banheira do Gugu.
A Bolsa da conjuntura social no Brasil, hoje, oscila verticalmente para baixo e concretiza a banalidade bem remunerada e dividida entre os poderes Legislativo, o qual lava roupa e gente suja e a Jato. A ineficiência cômoda, influenciada e de época, alcança também o Judiciário preso aos bastidores do poder. Na inércia do Legislativo, engessado pelo lobbie das comissões corruptas e corruptoras de almas, devidamente representadas por homens engravatados, todos eles ‘de bem’.
Aos domingos, 70% dos canais de TV estão ocupados, dia e noite, por programas pagos, divididos entre a missa do padre e o culto capitalista evangélico. O almoço na casa da sogra que sobrevive na periferia, engorda números da violência familiar, enquanto quem tem juízo e bebeu menos, não dirige aguardando o futebol. Caindo a tarde o cinquentenário Baú do Abravanel disputa audiência com o inconveniente Faustão. Enquanto a roda roda e a bailarina enfeitiça a audiência pelo poder de suas pernas, mais de um milhão de brasileiros, seres sociais expropriados em seus direitos, escondem-se de si mesmos e correm da fome e miséria encarcerados no sistema prisional. Do lado de fora dos muros da prisão desempregados enganam a fome segurando um cachimbo de crack. Que guerra futura se pode esperar na potencialidade de exércitos como estes?
Se “um país é feito de homens e livros”, conforme o escritor Monteiro Lobato, o poder de compra, da mídia e de interação nas redes sociais, aliado à política de favores, aniquila suas bases. Se ao inverso, busca-se realizar a revolução, dê a seus homens livros e retire deles a ração – que já anda escassa – da panela.
Por enquanto e sabe-se lá até quando, a miséria da razão amealha alguma esperança maqueada com o baton da crença banalizada, na comissão e intenção dos homens de bem que exercem e mantém o poder, banalizando o povo com podres ideologias e também falsas moedas.
E o pulso, ainda pulsa!
(Antônio Lopes, assistente social, mestrando em Serviço Social/PUC-GO)