A ausência de recursos intelectuais não nos inibirá de render carinhosa e merecida homenagem, ao venerando embaixador da saúde em Jataí doutor Gilberto Inácio Cardoso. Singelo e despretensioso este descolorido artigo de nossa humilde lavra deseja tão somente trazer a lume diminutos fragmentos de sua brilhante e profícua trajetória. Tarefa fácil não será retratar em espaço tão minguado e com a necessária fidelidade a vida e a grandeza da veneranda obra deste homem sensível, generoso e exímio profissional da medicina.
A história e as tradições de Araguari que encanta sublimando de generosidade o triângulo mineiro registram que logo depois da chegada da primavera quando floresciam os campos verdejantes de Piracaíba então distrito daquele próspero município, os sinos da igrejinha badalavam noticiando a presença em solo brasileiro de mais um filho do glorioso Estado das Minas Gerais.
A 27 de outubro de 1924 aportava ao mundo físico no lar humilde e generoso do pequeno produtor rural José Inácio Cardoso e de sua bela Emiliana de Godoy o caçula de seus nove rebentos que também haveria de “crescer em estatura, graça e sabedoria”.
Revestido na indumentária física masculina o robusto garoto de origem católica recebeu na pia batismal e no cartório de registro civil o nome de Gilberto Inácio Cardoso que haveria de imortalizá-lo eternidade afora. Em tenra idade aquele garoto quase campesino viu despertar em sua memória um enorme interesse pela agropecuária e pela vida no campo, bem próximo da Natureza, filha de Deus e nossa mãe.
O tempo corria célere quando inesperadamente emergiu de sua interioridade um imenso e quase incontrolável desejo de aperfeiçoar-se na sublime arte de curar. Até parece que a voz inarticulada de sua intuição lhe segredada nos refolhos da alma que ele aportara à nossa nave planetária vocacionado para desempenhar uma sublime e sacerdotal missão no campo da ciência médica. Aquela voz emudecida que não calava nos escaninhos de sua intimidade prenunciava que audacioso e determinado aquele jovem das Alterosas não “minguaria sua toada” enquanto não realizasse seu acalentado sonho de ser médico.
Emulado pela doce energia própria daqueles que se entregam totalmente à sublime missão de salvar vidas deixa a casa dos pais, ausenta-se da terra natal e demanda a cidade grande perseguindo obstinadamente seu sublime objetivo. Estudioso, perspicaz e inteligente assim que chegou à bela, hospitaleira e maravilhosa capital da República passou no vestibular e matriculou-se na Universidade Federal da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Daquela laureada e veneranda instituição, para gáudio de seus familiares e amigos, só sairia em 1953 trazendo em sua bagagem o diploma de graduação em medicina especializando-se em clínica médica e cirurgia geral.
E naquele mesmo ano recebe fraternal convite de seu colega médico e também araguarino doutor Joaquim Martins para vir conhecer a bela, doce e hospitaleira cidade de Jataí incrustada nas barrancas do Rio Claro, no sudoeste goiano. Ele próprio estratifica a experiência vivenciada quando desembarcou na cidade apiária: “Vi, gostei, apaixonei e mudei logo para cá começando em seguida a clinicar.” Nesta época ainda garoto tímido e franzino de 12 anos recém-chegado da fazenda tivemos a grata ventura de conhecê-lo no antigo Hospital Regional onde clinicava e viria a ser ao depois diretor por mais de uma década. Antes da consulta perguntou-nos se na fazenda de nosso pai tinha vaca e se gostávamos de gado. Envergonhado e cabisbaixo respondemos afirmativamente e encerrou-se aquele simples e amistoso diálogo. O que jamais se poderia imaginar é que sob o pálio generoso da Divina Providência, por seu esforço pessoal e com as lágrimas do próprio sacrifício, aquele sábio profissional ainda jovem e inexperiente viria se transforar antes de deixar a medicina em 1987 em um dos mais gabaritados e famosos facultativos do interior do Brasil.
Finda a sacerdotal e veneranda missão de médico prestativo e humanitário nosso ilustre homenageado volta às origens não como pequeno produtor rural mais como notável e bem sucedido fazendeiro. Agropecuarista renomado o dr. Gilberto, o médico dos pobres da periferia e da zona rural de Jataí é um dos maiores produtores do gado vacum na fazenda Santo Inácio de sua propriedade incrustada no Vale do Jurigue no estado de Mato Grosso.
Agora prestes há completar 91 anos continua bafejado por um forte e sublime sentimento de religiosidade. Sem ostentação fazia, católico de crença fervorosa e inquebrantável fé é pai extremoso, avô e bisavô coruja de oito filhos, dezesseis netos e sete bisnetos. De regresso ao passado as seguras informações de seus familiares dão conta de que, assim que chegou a Jataí, seu colega, amigo e conterrâneo doutor Joaquim Martins, desde há muito radicado na cidade o convida a visitar e conhecer um dos casais mais importantes da sociedade jataiense: Waldemar Zaiden e Armênia Barros Zaiden. Arrimado no acolhimento fraterno e carinhoso dos anfitriões e “trabalhando em silêncio” em perfeita sintonia com o costume das tradicionais famílias mineiras o jovem visitante sentiu-se logo atraído pela exuberância da beleza física e moral da formosa e encantadora Maria Amélia Zaiden.
Ao aportar no orbe planetário em 04 de fevereiro de 1937, vindo a lume em solo goiano, a bela e graciosa Maria Amélia já ostentava indizível beleza física. Seduzida pelo cupido viu-se envolta em uma doce energia de amorosidade e encantou-se sobre maneira com a beleza escultural daquele jovem de fino trato, elegante, corpo esbelto, músculos ágeis que mais parecia um galã de novela. Depois do namoro e do noivado não tardou chegar o dia 3 de setembro de 1955 e antes da brisa perfumosa da primavera anunciar o florescer das campinas verdejantes da doce terra do mel os dois se uniram matrimonialmente na presença de Deus e dos homens, para nunca mais se separar. Desta união harmoniosa e feliz adveio o nascimento dos seguintes filhos: Gilberto Inácio Cardoso Filho que em 1974 quando aos 18 anos cursava medicina na cidade mineira Barbacena, vitimado por um trágico acidente automobilístico fora amoravelmente convidado pela Divina Providência a regressar à pátria espiritual. Depois dele vieram Renato Inácio Cardoso, agrônomo; Emiliana Zaiden Cardoso, advogada; Márcia Cardoso Zaiden, formada em Belas Artes; Fernando Inácio Cardoso, agropecuarista; Maria Cristina Zaiden Cardoso, advogada; Ana Paula Zaiden Cardoso, advogada; Armênia Zaiden Cardoso, administradora de empresas.
Sua trajetória pelos árduos caminhos da vida física e por ele percorrida com passo estugado e firme haveria de ser como efetivamente foi, espinhosa, difícil, mas extremamente abençoada. Em sua longeva e produtiva carreira este profissional de escol, amado e querido pelo seu povo como ilustre benfeitor da humanidade deixou um exemplo digno de ser seguido, além de marcas de amor e um rastro de luz pelos caminhos percorridos. Ao exalçar suas incontáveis virtudes morais e espirituais de homem de bem referenciamos uma figura humana extraordinária, amável e encantadora. Anelamos apenas estratificar o sentimento dominante do inconsciente coletivo da sociedade apiária, tributando-lhe humildemente o preito do nosso reconhecimento e da gratidão. Estimulando e aplaudindo a prática do amor incondicional o reverenciamos a bem-aventurada obra realizada em solo goiano por este embaixador da saúde, missionário da vida, da luz, da esperança e da paz.
Aplaudimos com alegria e entusiasmo esta personalidade ilustre e invulgar, precioso exemplar humano de raríssimas qualidades morais, que fez da medicina um sacerdócio vivenciando com os exemplos que arrastam o evangelho do amor e da caridade.
Bem-aventurada sua sublime missão de salvar vidas distribuindo saúde física e espiritual à imensa mole humana que desprotegida buscava abrigo seguro em suas mãos abençoadas e generosas. Cumpre-nos ressaltar que na formatação do ambiente relacional de fraterna convivência que presidiu nosso último encontro na intimidade de seu lar, a nossa ousadia de espírita irreverente permitiu-nos indagar do doutor Gilberto se ele recebia alguma ajuda espiritual quando na prática de suas intervenções cirúrgicas. Sua resposta precisa e objetiva pacificou nossa justa curiosidade: “Quando a coisa estava apertada eu pedia ajuda e meu guia lá de cima me ajudava a desapertar.” Agradecemos a Deus nosso Pai de extrema bondade e infinita misericórdia pelo dom precioso da vida e por tantas outras bênçãos recebidas. Jubiloso e feliz ousamos tomar a liberdade de, em nome do povo de Jataí, sobretudo de sua imensa mole de clientes financeiramente pobres saudar calorosa e efusivamente o médico e cidadão jataiense Gilberto Inácio Cardoso. Salve o este homem de bem, cidadão digno e honrado, católico fervoroso e de firmes convicções, bom filho, excelente marido, pai de família exemplar, fraterno, generoso e um cristão incansável na arte de bem servir ao próximo.
(Irani Inácio de Lima, advogado, espírita e conselheiro da Associação Jurídico Espírita do Estado de Goiás - [email protected])