Os dias passaram tão velozes. Ah! Que saudades do tempo de criança. Lá na zona rural tinha muitas árvores frutíferas para fazer a alegria e a satisfação dos meninos e meninas que iam e colhiam gabirobas, amoras, jenipapos, goiabas, mangas e pitangas dentre outras frutas deliciosas e saborosas. Ao me lembrar das apetitosas maravilhas saudáveis deu-me uma vontade de degustar novamente destas iguarias. Aqui na zona urbana pouco se vê destas árvores frutíferas. Aqui não tem pomar. Aqui tem em alguns quintais uma mangueira e ou uma goiabeira.
Os anos se passaram. É verdade. Também pudera são mais de meio século de caminhada na estrada. Muito se mudou lá e cá. Lá, as matas e pomares foram derrubados e em seu lugar, hoje, se vê pastagens para servir de alimento às vacas e aos bois. Cá, encontro-me em minha singela casinha que fica na região urbana, denominada Campininha das Flores, que de flores só há o nome. Bastante diferente das flores das frondosas árvores frutíferas e de tantas outras, como os ipês amarelo e roxo, do pé de beijo que era cultivado por mamãe à frente de nossa ruralíssima casinha, a qual mesmo após todo este tempo ainda teima em ficar de pé lá na beirada da mesma estrada, pertinho da moita de bambu, mais perto do pé de angico, do pé de jenipapo e do riacho, conhecido como Ribeirão, e da outrora porteira que não existe mais.
Lá, durante minha infância, os carros de boi eram o meio de transporte usado para levar os grãos de milho, de arroz e de feijão produzidos na região, denominada Ana Félix, à cidade, chamada por todos de Xixá que na realidade desde aquela época é a nossa querida cidade de Itapuranga. No retorno eram transportados os produtos industrializados, adquiridos nos poucos comércios existente no bairro xixazão e também na ponta grossa, necessários no complemento auxiliar na lida dura diária do sistema bruto da nossa roça. Cortavam aquela estrada vários carros de bois. Estes, mesmo estando longe de nossa moradia, já se ouviam a cantiga afinadíssima que saia do cocão (mancal rústico sobre o qual gira o eixo do carro de boi), de manhã, de tarde ou de noite e, principalmente de madrugada, hora de ida preferida dos carreiros viajarem devido o intenso calor diurno.
A melodia que se ouvia encantava-nos e encanta até hoje, quando temos a oportunidade de apreciar o cantarolar do carro de boi. Só para relembrar, anualmente, durante a festa do Divino, em Trindade/GO, é apresentada uma pequena mostra da beleza de dezenas de carros de boi desfilando no carreiródromo que se transforma em uma sinfonia harmoniosa, deverasmente especial, magnífica, que leva milhares e milhares de pessoas deste nosso rincão goiano e de tantos outros Estados brasileiros, até de estrangeiros, para ver, ouvir, admirar e recordar os tempos saudáveis e memoriáveis, no meu caso da época de criança lá, na estreita estrada que ficava repleta de poeira, quando os carros de bois passavam à frente de nossa morada e que o candeeiro (aquele que, seguindo na frente de um carro de bois, é responsável por direcionar os animais) corria para abrir a cancela ou porteira, antes que houvesse a parada dos bois, a fim de evitar a interrupção daquela melodia que somente os carros de boi são capazes de entoar tão bela harmonia, a qual chega aos nossos ouvidos que agradecem a perfeição de apreciar e de admirar o melhor canto desta beleza muito abençoada por Deus.
Oh! Que saudades do tempo que se foi e não volta jamais. Fica a lembrança. Coração apertado e cheio de emoção. Olhos se enchem de lágrimas, por alguns instantes, de saudades do bom muito e do melhor de se reviver e recordar. A vida me deu e continua dando tantas alegrias durante minha caminhada que com a graça de Deus prossigo adiante. São dádivas amorosas recebidas por este filho lá da roça que partiu e chegou à cidade e aqui, com determinação, conquistou um pouco de conhecimento e conseguiu trabalho para com dignidade adquirir o pão de cada dia para o seu sustento e de sua família.
Sua história viva continua. Seus passos ainda são largos em busca de melhorias. Seus pedidos e agradecimentos são apresentados, dia a dia, ao Papai do Céu que sempre está ao nosso lado. Ele que me carregou e carrega nos braços para levar-me e trazer-me onde não consigo ir sozinho. Sua força é suprema. Junto de Ti vitórias e mais vitórias virão em minha vida e de minha família. Ele que me deu o poder de pensar, de imaginar, de amar e ser amado, de criar, de crescer, de planejar, de agir e de rezar. Portanto está em mim e em você a capacidade de encontrar o caminho da felicidade e seguir, sempre, adiante. Avante!
Eu já escolhi. Quero sorrir em lugar de chorar. Crescer em lugar de diminuir. Criar em lugar de destruir. Agradecer em lugar de reclamar. Abençoar em lugar de renegar. Viver em lugar de morrer. E ainda estou aprendendo. Quero sentir a presença de Deus em todos os meus atos. Pois quem tem Deus no coração tem amor, tem paixão, tem alegria, tem capacidade, tem saudade sim do tempo de infância querida na terra natal e de todos os melhores dias do que se foi e não volta jamais. E, mais, tem tudo na sua vida: tem a luz, que é Jesus, para iluminar a sua estrada e, se preciso for, carregá-lo nos braços. A infância se foi, a juventude também. Cheguei à fase adulta. Que venha a melhor idade, seja aqui ou lá na terra natalina, com muito amor no coração.
(Paulo Alves da Silveira, amigo de Campinas. Empregado público)