Aconteceu faz algum tempo (quando escrevi estas linhas). Adentrei no prédio do Tribunal Regional Eleitoral. Beleza de edifício, construção nova. Na portaria ótimo atendimento. O funcionário digita meu nome no computador, pede gentilmente meu telefone, e uma identidade, etc. Tudo bem. É preciso controle. A marginalidade anda solta. Não tenho estrela na testa informando quem sou. Talvez um louco disfarçado, um barnabé revoltado decidido a colocar uma bomba em algum lugar do Tribunal como protesto por não concordar com os critérios legais de elegibilidade dos candidatos... Tudo é possível. Não se pode confiar.
Disse que não carrego identidade na testa, mas no momento até que porto um lindo broche, alfinetado no lado esquerdo da camisa, com o número 13 gravado, designando candidato a prefeito de Goiânia. Ao chamar o elevador um funcionário uniformizado, educado até (isso é possível) adverte-me: deve tirar esse broche da camisa.
– O quê? Perguntei. Esse eu não tiro, a lei me garante o direito de usá-lo em qualquer lugar, até dentro da Seção eleitoral no dia da eleição.
Mas o doutor juiz não admite que o senhor fale com ele assim - ponderou o funcionário.
– Bem, por enquanto não desejo falar com o doutor juiz. Só vou ao primeiro andar, ver se consigo instruções do Tribunal sobre as eleições. Não que eu seja candidato, ou fiscal de partido. É mais uma curiosidade, digamos, cidadã.
– Sendo assim, pode subir - aduziu o humilde servidor.
Subi, apenas não encontrei o que procurava.
O incidente me fez lembrar situações bem parecidas vividas por mim tempos atrás. Duas vezes no Brasil e uma nos Estados Unidos. Foi assim: Estávamos visitando Manaus a linda cidade amazonense, pela primeira vez. Eu estava vestido de acordo com o clima local, quente e úmido: bermuda, camiseta e tênis. Precisava mais?
– Sim, precisava. Pois é. Quis subir com minha esposa em um prédio muito alto. Não sei quantos andares, talvez 15, 16, por aí. Queríamos informações sobre movimento de navios para Belém e aproveitar para admirar a cidade lá de cima, do alto do edifício. Negativo. O ascensorista não permitiu que entrássemos no elevador.
Estranhei – por que não podemos entrar? A resposta veio em cima – porque o senhor está de bermuda. Sugeriu-me que usasse outro elevador, o de serviço, mais ao fundo do prédio. Meio descontentes, mas conformados com a hospitalidade, aceitamos o conselho do funcionário como a única alternativa que nos restou.
O segundo caso foi parecido. Eu estava na cidade de Coroatá, no Maranhão, onde morava meu irmão “L”. Precisei falar com o juiz da cidade. Um guarda fardado atendeu-me. Identifiquei-me como advogado. O senhor guarda olhou-me de cima para baixo, afastou-se e entrou em uma sala próxima. Não demorou e voltou com um recado nada interessante: o doutor juiz não pode atendê-lo porque o senhor está de bermuda. Tem que estar vestido de calça comprida.
O terceiro caso aconteceu em Washington, nos Estados Unidos. Eu queria ver tudo biblioteca do Congresso, Casa Branca, Capitólio, a Corte Suprema (do Poder Judiciário), alguns parques, etc. Meu filho era o cicerone. Como fazia muito calor andávamos a maior parte do tempo de bermuda, camiseta e tênis. E pasme: ninguém nos impediu de adentrar no austero salão de reuniões da Corte Suprema do Judiciário americano. Passamos pelos guardas, entramos, vimos a biblioteca, o recinto onde se reúnem os juízes. Nada proibido, nada de “não pode”. Ficamos maravilhados. Quanta diferença. Tudo isso aconteceu já há bastante tempo. Fica o registro das diferenças.
Oh! Nosso Brasil.
(Gabriel Ribeiro Soares Filho, advogado, procurador federal, membro da Associação Goiana de Imprensa)