Antônio Lopes,Especial para DMRevista
“Na verdade, homens e mulheres sem consciência do passado não podem construir o futuro. Pois, aqueles que não compreendem o passado estão condenados a repeti-lo, segundo Marx: ‘Primeiro como tragédia, depois como farsa’.”
(Vinicius Mansur)
A Região Metropolitana de Goiânia cochila juntamente com os eleitores, dentro e fora das igrejas, enquanto a memória de Attilio Correa Lima, arquiteto responsável pelo Plano Urbanístico da Capital – em transe nestes dias – assiste à proposta eufórica de, sob as bênçãos do papa, homem comum gestor da instituição religiosa de poder que agora agrega ao mandato o ambientalismo conveniente de época moldado na ideologia (in)sustentável.
Mudanças nos planos históricos e desenho arquitetônico da Capital destroçaram seus riscos mais originais. A realidade do caos urbano da metrópole, outrora pequena e romântica, destoa todo o processo histórico de interiorização do Brasil, a Marcha para o Oeste. A bucólica Capital, à época tocada e gerenciada pelo interventor, Pedro Ludovico, fora desenhada e planejada para abrigar – sob os auspícios da Art Déco – não mais que 50 mil habitantes.
Nos dias atuais, encurralada no funil da aglomeração urbana, mal organizada e violenta, em terreno destinado à especulação imobiliária, ‘seres sem razão’ retratam diferentes formas de desigualdade social expressas na ostentação de riqueza em um lado da moeda socioeconômica que denuncia e retrata a miséria humana em seu reverso.
O barril de pólvora (des)humano, armado em concreto, (des)abriga a estrutura do quebra cabeças da urbee. Impossível de ser montado, faltam-lhe inúmeras peças, as ferramentas sociais. A cidade mais desigual da América Latina encurrala mais de um milhão e meio de seres sociais descoloridos, grande parte longe de alcançar direitos e parcer humanos.
Significativa parte da população detém cargos e moeda, se isola e esconde dentro dos aquários sociais. Famosos e midiáticos os condomínios de luxo, os memos que se tornaram perniciosas manchetes de corrupção, levando a cidade a ocupar chamadas televisadas e impressas País afora.
A população trabalhadora se aglomera e espreme, correndo atrás dos ônibus da familiocracia escancarada, como no resto do Brasil, também da prestação do carro, dos juros exacerbados e da violência. Dirige em primeira e segunda marchas, recolhe dízimos e sortuda, adesiva o chassi 1.0: “Foi deus quem me deu”.
A gestão municipal é uma dama presunçosa e estadista, educada mas sofrida, mistura técnicos a compadres, pelegos e concursados. Nestas bandas do Centro-Oeste do País ainda misturamos o pequi com cerveja, multas, erva e prozac, espigões a obras abandonadas, terminais de corredores de ônibus insustentáveis, porta do inferno real mas negada pelos gestores que se sentam a sofás atirados em lotes baldios destinados à especulação imobiliária escancarada a qual alimenta o mosquito vetor da dengue.
Hipócrita, “endossa e perdoa” impostos a igrejas e bordeis. Condena e mas venda os olhos às centenas de bocas fomentadoras do lucro gerado na dependência química instalada em casas noturnas cinco estrelas, pela periferia, em escolas e motéis.
Histórica, a planta urbana, moldada à imagem da santa, hoje, sob a ingerência do diabo, traz o novíssimo Plano do Confessionário, presente não do grego, mas pior ainda... do papa. Onde é que se encontrava o Vaticano, à época do acidente radioativo do Césio? E os crimes das malas e envenenamentos de seus quadros, escondidos nas próprias culpas entre terços e pecados capitais?
A instituição se propôs a pagar o Imposto Territorial e Urbano (IPTU), na mesma proporção e assim como o fazem os fieis que também recolhem dízimos? E suas fontes de renda, passarão a ser declaradas? (Continua na próxima quarta-feira).
E o pulso... ainda pulsa!
(Antônio Lopes, assistente social, mestrando em Serviço Social/PUC-GO)