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OPINIÃO

Polêmica sobre as mensagens psicografadas para Batista Custódio

O leitor Carlos Mariano diz, em artigo inteligente, bem escrito, bem intencionado (eu penso), publicado no Diário da Manhã de 5.8.15, que não acredita muito na fidedignidade das cartas enviadas do além por Alfredo Nasser (tio da ex-esposa de Batista), Fábio Nasser (filho de Batista). Diz que, apesar dos nomes diferentes, e das numerosas cartas, o conteúdo seria sempre mais ou menos o mesmo:  falando “sempre” que “os tempos estão mudados, que é preciso tomar decisões, com frases chocantes para prender a atenção de quem as lê, sempre com conotação de uma eminente tragédia, possuindo quase todas uma certa dose de revolta política, falando em “ordem final”.


Antes de abordarmos esta polêmica mais de perto, seria interessante tentar mitigar um pouco a perplexidade do leitor(a) que  acha toda esta discussão simplesmente absurda, por  absolutamente “não acreditar” em fenômenos de psicografia (um espírito “ditando” algo a ser escrito por um médium). Para estes leitores, ainda muito cépticos em relação à psicografia, eu remeteria aos estudos de linguística/ciência literária do professor da Unicamp, Alexandre Caroli. Ele tem dois trabalhos disponíveis na internet para quem quiser: são suas teses de mestrado e doutorado, julgadas e publicadas sob a égide e a autoridade do Instituto da Linguagem da Unicamp. Na tese de mestrado, Caroli esmiúça o livro  de  poesias  Parnaso de Além-Túmulo, contendo quase 60 poetas, psicografado por Chico Xavier, trabalhador braçal que, com 17 anos de idade, arrimo de família (nove irmãos), morador do interior de Minas, semialfabetizado (4º ano do ensino fundamental), o escreveu. Estas teses são estarrecedoras pela fidedignidade das informações que veicula sobre a composição altamente técnica das poesias psicografadas. O cientista literário escolhe cinco poetas, entre as dezenas outras, e mostra que até a composição silábica, acentuação tônica, versificação, composições aliterativas, ou seja, técnicas avançadíssimas de poética e composição, técnicas particularíssimas e pessoais de cada poeta, são fidedignamente reproduzidas pelo adolescente paupérrimo de Pedro Leopoldo. Para vocês terem uma pálida ideia do que estou falando, vejam uma das muitas análises que Caroli faz sobre a poesia de Antero de Quental (famoso poeta português). 1/ Quando era vivo, Antero de Quental escrevia versos , sobretudo com acentos na 6ª e 10ª sílabas (87%) e outros com acentos tônicos nas 4ª, 8ª e 10ª sílabas (12%). Veja agora a estatística dos versos que Chico Xavier psicografou:  89 % e 11 % respectivamente!! Outros exemplos: tipos de rimas nos quartetos: Antero – 44% de rimas adjetivo/substantivo; 28% de rimas substantivo/substantivo; 26% de verbo/substantivo. Já no Parnaso, de Chico Xavier, as percentagens respectivas são de 53%, 27%, 19%. A correspondência entre o “autor vivo” e o “autor psicografado”, mesmo nas mais mínimas sutilezas altamente técnicas é gritante. E são 230 páginas de tese , tudo sobre estas “coincidências”...!!  Para terminar, cito as “coincidências” mais gritantes, e irrefutáveis, agora entre o poeta Augusto dos Anjos e o Chico do Parnaso.  Os cientistas literários identificam 6 tipos de “silabação” na poesia de Augusto dos Anjos: de acordo com o crítico Cavalcanti Proença , são do tipo: 1- a vogal tônica se apóia num “s” e o som sibilante é obtido com a própria vogal ou ditongo tônico final; 2- a última vogal tônica não é apoiada em “s”, mas a sílaba seguinte se inicia por SS ou equivalente (ç, c). 3- À vogal Tonica , nas mesmas condições do grupo “2”, segue-se a consonância “z” ou “s” intervocálico. Enfim, caro leitor, como você já viu, são coisas altissimamente técnicas, resumindo, são seis os tipos de silabação encontrados no Augusto dos Anjos “vivo”. Só que Caroli teve uma desagradável surpresa: nos estudos literários de Cavalcanti, o “tipo silábico 6 era o que mais ocorria (1.014 vezes) e já no livro de Chico (Parnaso) era o tipo que menos ocorria. O problema é que, premido por esta tal discrepância entre o Augusto “vivo” e o Augusto “morto”, Caroli refez o estudo de Cavalcanti, descobrindo assim que este último cientista havia cometido um erro: de fato, o tipo 6 era o que menos ocorria no livro “Eu e outras Poesias” (80 vezes). Com esta correção técnica, a similitude silábica entre o Augusto vivo e o Augusto morto ficou espantosa. Vejamos: Augusto “vivo”: tipo 1 - 16% das ocorrências, 2º lugar em frequência; tipo 2- 14%, 3º lugar em frequência;  tipo 3- 13%, 4º lugar; tipo 4 - 8%, 5º lugar; tipo 5- 39%, 1º lugar; tipo 6- 7%, 6º lugar. Agora, comparando com o Augusto “morto”: tipo 1 – 17% 3º lugar;  tipo 2 – 5% 5º lugar;  tipo 3 – 12%, 4º lugar; tipo 4- 20%, 2º lugar; tipo 5- 40%, 1º lugar; tipo 6 – 4% , 6º lugar. Ou seja, resumindo, a silabação poética, altamente técnica, entre o Augusto “vivo” e o Augusto “morto” é praticamente idêntica (por exemplo, veja a  tipo 5, que é a primeira em frequência, em ambos [vivo e morto], tem, respectivamente 39 e 40%, ou seja, idênticas) !! Importante ressaltar que, quando o cientista literário viu grande discrepâncias entre o Augusto vivo e o Augusto morto, ele foi rever estas discrepâncias e viu que os cientistas que haviam estudado o Augusto vivo haviam cometido um equívoco na contagem da silabação! E todo esta congruência tecnicista, meus caros leitores(as), feita em 60 poetas, um por um, por um garoto de 17 anos, maltrapilho, carregador de sacos de algodão, sem tempo  para ler um livro, para assentar num banco de escola, etc, etc!! Tudo isto é indício fortíssimo de que a “mente do morto” comunicava-se, de fato,  com a mente do médium. E, como eu disse, são 230 páginas desta tese de Caroli, e mais quase 300 páginas de sua outra tese, a de doutorado, sobre os mesmos temas, mostrando, com elementos altamente técnicos, a congruência dos  quase mil autores mortos com aqueles   psicografados por Chico, em suas mais de 500 obras literárias.

MARCELO CAIXETA 1

Bem, espero ter mostrado a realidade científica da comunicação espiritual. Agora, voltando ao “caso Batista Custódio”. O crítico das comunicações “custodianas” não parece duvidar da psicografia; pelo contrário, se diz zeloso delas. Isso já é um avanço na discussão. Vamos pautar a discussão por pontos:

1.Em primeiro lugar, cada mediunidade é diferente uma da outra, assim como não há um só indivíduo idêntico a outro na face da Terra. Há médiuns “mecânicos”, que praticamente servem de “máquina” para os espíritos. Já há outros quase só “intuitivos”, que só “captam” a ideia, e não a forma. Esta variabilidade entre um tipo e outro é infinita.

2.Um outro dado é que a maioria dos médiuns não é “estritamente mecânica”, e isto quer dizer que há elementos imiscuídos na mensagem entre o psiquismo do médium e o psiquismo do espírito. Até o Chico Xavier, o maior médium que já existiu, colocava elementos  de sua própria mente em meio a dados psicografados... Nem ele conseguia ficar isento daquilo que, em linguagem técnica, denomina-se “animismo” (influência da mente do médium sobre a psicografia). Portanto, não há nada demais em que a forma, e mesmo o conteúdo, entre duas mensagens psicografadas a partir de espíritos diferentes para o mesmo médium possam ter um grau de afinidade acima daquilo que seria de esperar-se ao acaso.

3.Espíritos afins  renascem, “reencarnam”, em famílias e grupos afins. A afinidade mental, cognitiva, intelectual, afetiva, entre Batista (editor-geral do Diário da Manhã), Fábio Nasser (seu filho) e o jornalista Alfredo Nasser, são incontestes. Mesmo em vida essa afinidade era inconteste. A carreira jornalística de Batista deve muito, no plano idealístico, àquela de Alfredo, e o mesmo se aplica a Fábio, cuja carreira intelectual, profissional, escora-se enormemente naquela do pai. A afinidade de ideias entre os três, aqui no caso, entre os dois desencarnados, portanto, não deve, de modo algum, causar espanto.

4.Outra coisa que pode explicar um  maior grau de similitude conteudística entre as mensagens é exatamente o receptor a quem elas são dirigidas, Batista Custódio. As mensagens são dirigidas a este jornalista, cujas preocupações constantes e profundas  com o futuro sócio-econômico-político-espiritual e  com a governabilidade do País e do Estado são notórias. Os espíritos, todos, evidentemente, dirigem-se às preocupações que esfogueiam a mente do jornalista, daí seu conteúdo similar. Se estivessem comunicando-se com um jogador de futebol, com certeza o teor das mensagens, todos, referir-se-iam à “má campanha do Goiás”, “ao rebaixamento do Vila Nova”, etc.

5.As mensagens atestam, ao meu ver, sua fidedignidade, sua correição, inclusive pelo caráter “profético” de que elas se revestiram. Batista está sempre às voltas com graves dificuldades econômicas, advindas do parco hábito de leitura e de cultura da população brasileira, cujos veículos, para subsistirem, estão sempre à míngua de subsídios governamentais ou políticos. Vive-se, de modo geral, nos meios midiáticos, de uma “síndrome de montanha-russa”. Batista tenta preservar a isenção editorial de seu veículo, tanto quanto pode, inclusive publicando uma carta crítica e pessoal como esta; nenhum outro comunicador dar-lhe-ia  guarida. Batista é jornalista de alma , e publica a notícia mesmo que seja a seu desfavor, luta por uma transparência absoluta, absurda em nosso contexto sócio-político-cultural. Pode até ser que um  “poderoso X ou Y” não goste do que lê num veículo onde anuncia, mas quando diz respeito às próprias chagas, Batista corta na carne para veicular o pensamento, mesmo contrário a si .

6.Esta política editorial, plural, desinteressada, transparente, é  inédita e “kamikaze”, exige os mais ingentes esforços e preocupações por parte de Batista. A cabeça esfogueia de preocupações econômicas e políticas. É a sobrevivência do pensamento goiano que está em jogo, pois ele é o único, no âmbito da coletividade,  que lhe dá livre curso.

7.Os espíritos, portanto, há longos anos, aconselham-no e orientam-no para que continue sua espinhosa e sofrida missão de permitir, tanto quanto pode, uma imprensa livre de amarras. Os espíritos têm de mostrar-lhe o valor da transparência e da liberdade de pensamento coletivo para que ele não arreie com as cargas. E o valor desta liberdade é proporcional ao momento de enorme crise moral, institucional, política, econômica, em que vivemos. Isto os espíritos já lhe comunicavam há vários anos, atestando inclusive sua fidedignidade, fidedignidade esta que é proporcional à realização da “profecia”.  A crise política, econômica, e sobretudo moral, é sem-par, e é para isto que os espíritos vêm lhe apontando o dedo e a continuidade da missão.

8.Os que, como eu, acompanham esta trajetória “catastrófica” da política brasileira, por meio das mensagens psicografadas só podem ver nelas a mais lídima, escorreita e transparente materialização da “verdade profética”, muito antes de que os mais tarimbados analistas dela pudessem falar ou sobre ela pudessem debruçar.

9.Portanto, não há “catastrofismo” nas mensagens, há catástrofe mesmo. Ou alguém duvida? E, se há, de fato catástrofe, se esta, de fato, reluz à realidade, nada mais oportuno do que relembrar aquela frase de Kardec quando ele diz que “conhece-se à verdade por sua manifestação ubíqua e sincrônica”, todos dela reportam, nos mais variados rincões, e com o mais perfeito compasso temporal. A “profetização” da catástrofe, quando poucos – ou nenhuns – dela falavam, é, ao meu ver, mais um elemento que atesta a fidedignidade da mensagem espiritual. Tudo em direção a que os espíritos vêm alertando, tem ocorrido com precisão milimétrica. O tempo da “moralidade”, da “transparência”, do papel “espiritual” dos veículos de comunicação, vem-se atabalhoando com irresistível progressão. Vivemos o momento em que “a moral da transparência” é quem dá as cartas políticas no País. Moral e jornalismo, agora, mais do que nunca (e como nunca ocorreu) andam par e passo. É a “transparência moral” quem pauta a agenda política (e consequentemente, econômica) do País hoje em dia. Um cidadão comum, ao vir a público, por meio da imprensa, tem quase o mesmo impacto do mais poderoso governante. A “moral transparente da ágora pública” é hoje o parâmetro norteador dos rumos do País. Nada mais importante para o papel da imprensa, e consequentemente, o papel de Batista.

10.Portanto, não se trata de “monoideísmo”, “repetição de temática”, a qual se refere o nobre leitor Carlos Mariano. Trata-se de ubiquidade da mensagem, trata-se de gravidade do momento, trata-se da vinculação entre a moral e a mídia, trata-se do fortalecimento das posições do editor, tão alquebrado que está pelas lides de seus sofridos e solitários janeiros. A “verdade” e o “profetismo” das mensagens falam por si sós. Quem, no Brasil, exceto as mensagens do Fábio, do Alfredo, alertavam para o enorme papel dos comunicólogos na higienização moral dos tempos instáveis que se avizinhavam? Quem alertava para a necessidade da firmeza moral na divulgação do que é justo, doa a quem doer? Quem previa os momentos políticos-econômicos com ares de dissolvidã , “amoralidade”,  catastrofismo e “fim de mundo” que o Brasil atravessa hoje? Eles, os espíritos, já há quase dez anos, vêm “acertando na mosca”, e isto é mais uma prova de sua fidedignidade e da veracidade de sua mensagem. Como eles disseram, Fábio o fez há quase 10 anos, se não me engano, “os momentos estão chegando” onde tudo que é sólido desmancha-se no ar, onde a transparência vale mais do que o ouro, onde a divulgação vale mais que o poder. Ninguém falava, quando ele apregoava, que veríamos momentos como este, onde a transparência é que é o verdadeiro Juiz da Terra.

Nada mais verdadeiro do que isto, e, parafraseando Chico e Kardec, eu diria, que a “verdade” é maior que o conteúdo, a “verdade” é maior do que a forma. A “verdade” só não pode ser maior que o Amor.

MARCELO CAIXETA 3

(Marcelo Caixeta, médico psiquiatra)

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