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OPINIÃO

Sobre a reorganização sindical dos assistentes sociais de luta, em Goiás: avante, colegas!

Em nosso Seminário sobre a reorganização sindical dos assistentes sociais, no último dia 1º, tivemos as presenças honrosas de colegas do movimento nacional de trabalhadores do Serviço Social, e foi realmente desalienador ouvir sobre o “fechamento” do Sindicato de Assistentes Sociais de Goiás e outros, no Brasil, nos idos dos anos 80.

Zenit Vaz, nossa coordenadora da região Centro-Oeste, na luta pela aprovação do PL 5278/09 e de outros do nosso interesse, abriu as falas e convidou, para composição da mesa, as senhoras Maria Laura Carvalho Bicca, presidente da Fenas – Federação Nacional de Assistentes Sociais; Margareth Alves Dallaruvera, fundadora e ex-presidente da Fenas e presidente do Sindicato de Assistentes Sociais do Rio de Janeiro, e Rosalda Prado, presidente do Sindicato de Assistentes Sociais de Brasília.

Maria Laura C Biccas, da Fenas, iniciou as discussões lembrando que “cuidar de si é o primeiro passo para cuidar-se dos outros”, salientando que nossa categoria “precisa de apoio e de saber o que quer; de saber recuar e avançar; precisa de ter um processo de trabalho para as conquistas que almeja”, afirmando, dentro de uma fala humilde e ao mesmo tempo, grandiosa, que “quando se sabe o que se quer, se avança” e que “precisamos usar nossa potência para dar visibilidade ao Serviço Social e transformar a Assistência Social e a nossa sociedade”.

Já aí comecei a entrar em deliriuns tremens, pois aquilo parecia que saia do âmago do meu ser... Em nada, imaginava o que viria, em termos de informações e trocas e esperanças e reforços... Era como se ali eu estivesse em casa; há muito eu não me sentia tão entre semelhantes, no campo de minha práxis profissional.

Rosalda Prado, do SASDF, nos contou sua trajetória nesta lida sindical, suas dificuldades, alegrias e expectativas em Brasília, nos estimulando e nos provocando à auto-organização.

Margareth Alves Dallaruvera, mestre em Serviço Social, começou logo falando da importância fundamental de “transcendermos a consciência profissional e atingirmos a consciência mais ampla política, conhecendo, cada vez mais, a História”.

Mulher de presença forte e luta histórica no movimento cutista, assistente social consciente e combativa, Margareth explanou de modo contundente, mas muito interativo e alegre, sempre nos exortando ao entendimento do processo de desarticulação sindical dos assistentes sociais no Brasil e para a participação no atual movimento de rearticulação e luta por valorização da nossa categoria.

Contou-nos dos 15 anos de Fenas, que foi criada enquanto resistência de organização trabalhadora junto à nossa categoria, elencando, na linha do tempo, as lutas das antigas associações de profissionais, dos sindicatos, da Comissão Executiva Nacional das Entidades Sindicais de Assistentes Sociais - Ceneas, da Associação Nacional Pró-Federação dos Assistentes Sociais - Anas.

Surpreendeu-me a riqueza e a clareza de sua fala ao explicitar o acirramento de uma luta que surgiu no decorrer da História e que não nos é posta, em Goiás e no País, pelas poucas vozes que se ouvem, a respeito do Serviço Social. Pasmou-me saber, entender e traduzir os movimentos a favor e contra a organização sindical de minha categoria.

Sim, existem, desde os primórdios do “fim” dos sindicatos de assistência social no Brasil, um movimento a favor e um contra a nossa organização sindical por ramo de atividade.

É nauseabundo pensar que entidades que deveriam puxar e promover discussões, inclusive sobre esta temática, ao contrário, boicotam e manipulam o direito à informação e à organização da própria classe trabalhadora, estando esta, incumbida, em Código de Ética, de promover a organização das classes trabalhadoras.

Sempre ouvimos apenas sobre um lado da História!

Margareth Dallaruvera discorreu sobre “a distância entre o que se ouve como aluno e o que se vive, na profissão”; sobre os frutos do projeto neoliberal para as classes trabalhadoras em geral. Reconheceu que o trabalho da CUT não conseguiu ainda, derrubar o projeto neoliberal, mas afirmou categoricamente, que a Cut não fechou os sindicatos e mais: Que a Anas – Associação Nacional de Assistentes Sociais, “fechou” os sindicatos, porém, sem unanimidade, lembrando a professora Regina Marconi, ex-presidente do Saserj que diz que “o sindicato fechou por inanição”.

Nesse processo, quatro sindicatos de assistentes sociais resistiram e não fecharam suas portas: o do Ceará, de Caxias do Sul, de Alagoas e o do Rio Grande do Sul.

Margareth foi enfática ao questionar aonde estão os representantes da nossa categoria, lembrando que “ter cargo não significa ser legítimo representante da categoria” e que a representação exige o envolvimento das bases, que sempre tem que “dar a linha do Movimento”.

Evocou a contínua “luta pelo saber, pela verdade em sua totalidade”.

Relatou sobre os diversos sindicatos de categorias que não fecharam suas portas, falando de maneira crítica, sobre “os assistentes sociais marxistas-gramscistas-históricos-dialéticos”, que saíram da cena da luta sindical e do trabalho, na ponta, se trancafiando nas academias e nas produções de títulos que ilustram concursos públicos, além de seus currículos e/ou paisagens européias por onde andam vivendo.

Neste momento ela falou sobre congressos científicos estéreis e sobre o Serviço Social numa perspectiva fenomenológica, e tudo isto me deu um nó, pois eu sempre comento sobre o fato de que não temos, em Goiás, um momento nosso, profissional, já que em nossas atividades a maioria de participantes é sempre estudante e ainda, abrimos sempre, para profissionais de outras categorias. Mas pensei se eu estava por fora pelo fato de ser assistente social marxista-gramscista-histórica e dialética... Fiquei mais atenta.

Margareth Dallaruvera enfatizou a importância de conhecermos as nossas lutas neste momento, citando a “Carta Aberta ao 8º CBAS” e o livro O Novo Sindicalismo e o Servico Social e ressaltando que “não podemos partidarizar o Movimento”, na busca pelas imprescindíveis parcerias e articulações a favor da categoria, que só avançará a partir de “posicionamentos verdadeiros e do respeito às ideias”, reforçando nossa opção ética pelo pluralismo de idéias e lamentando a ausência do grupo contrário ao retorno dos sindicatos de nossa categoria, nos debates.

De maneira esclarecedora, a companheira Margareth fundamentou com exemplos, a importância dos sindicatos nos acordos coletivos, enfocando o fato de que “defendemos direitos e temos os nossos sem defesa”, sendo que esta não acontece dentro dos Cress e que “empregadores discutem questões trabalhistas é com sindicatos, pois os conselhos, sendo autarquias, não entram nas discussões”.

A mesma nos relatou brevemente, as histórias dos 16 sindicatos que estão atuando e as expectativas com mais 13, que como o de Goiás, estão avançando para efetividade.

Sempre surpreendendo, Margareth comentou que na verdade, os sindicatos sequer foram realmente “fechados”, pois no geral, as cartas sindicais vigoram e as contas bancárias continuaram, nos últimos 30 anos, recebendo seus subsídios legais.

As diversas falas após as explanações da mesa, parabenizaram o evento e a luta das colegas que para cá vieram, a fim de contribuir com nossa reorganização sindical; foram depoimentos e reconhecimentos diversos que acenaram para a necessidade do nosso Sindaseg. Todas as falas foram garantidas, respondidas a contento e sem formalidades desnecessárias; inclusive a minha, que foi breve e tentou explicar meu artigo anterior sobre este tema, pois embora eu não tenha condenado a CUT pela nossa desorganização sindical em Goiás, devido a falta de informações, imputei à ela a maior parte da responsabilidade, neste caso.

Considerando que apenas 20% dos cerca de 2500 profissionais inscritos elegeram o atual Cress em nosso Estado e também, nossas condições de trabalho, depois deste Seminário, concluo que nossa categoria precisa rever nosso Código de Ética, nossos princípios e fundamentos, inclusive dentro das universidades, pois eles exigem participação, mobilização, consciência histórica.

Fiquei muito aliviada ao dizer a Margareth, de público, do meu choque quando ela falou sobre “os assistentes sociais marxistas-gramscistas-históricos-dialéticos”, sendo eu uma assistente social fenomenológica que atua no entendimento da teoria marxista-gramscista-histórica e dialética, e ela, mui alegremente, me falou que também é exatamente assim.

Gargalhamos um pouco e entendemos, no coletivo, que afirmar que não temos sindicato porque isto foi resolvido assim para nós, há 30 anos atrás e pronto e acabou, é muita falta de, no mínimo, pensamento dialético. É vergonhoso ouvir ou ler isto nas altas cúpulas, que vivem longe das bases, contradizendo nossos preceitos éticos, teóricos e metodológicos.

Ah, e ainda pudemos ouvir e aplaudir efusivamente, Maria Laura, no encerramento, quando ela nos lembrou que “rompemos com a Ditadura no país e não queremos Ditadura no conjunto de nossas entidades representativas”.

Foi lindo! Eu fiquei deveras emocionada com a grandeza histórica deste momento. Que vibe auspiciosa.

Em 15 de agosto, Assembleia Geral pela reabertura do Sindaseg – Sindicato dos Assistentes Sociais do Estado de Goiás, na Câmara de Vereadores de Goiânia. Participe, divulgue, colabore! Toda a sociedade tende a ganhar com o fortalecimento e a valorização de nossa categoria!

(Alexandra Machado Costa, assistente social, poetisa, servidora pública concursada e membro do Coletivo de Assistentes Sociais em Luta pela Categoria, em Goiás)

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