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OPINIÃO

Para pôr um ponto final no Enem

Comecemos por diferenciar Doutrinação de Conscientização (sensibilização). A proposta de todo conteúdo programático, em educação formal, deve ser levada para a apreciação crítica e comparativa com a realidade (famosas parceiras: teoria e prática). Espera-se que a pessoa conclua o ensino médio com o desenvolvimento dessa habilidade crítico-interpretativa necessária para uma atuação social. O Enem propõe verificar justamente isso na dissertação, e aqui se aloja o nosso trabalho em sala de aula.

Uma jogada ideológica tem assombrado a internet sobre acusação do Enem e o ensino escolar fazer doutrinação. Basta desse barulho, por falta de interpretação e/ou para fazer espetáculo midiático, quanto as questões do Enem 2015? O ridículo chegou ao ponto da reflexão social de identidade de gênero-sexualidade ser compartilhada como interpretação genética e genitália no distorcer da expressão existencialista de Simone de Beauvoir... e outros absurdos como o trato da  problemática da violência ser reduzida em luta de “esquerda marxista”? Oi? Oi? Como vários já concluíram: não existe essa bidivisão de esquerda e direita no Brasil.

A abordagem didática (e a avaliação como seu reflexo – caso do Exame Nacional do Ensino Médio) não coloca autores para serem aceitos ou não em suas teorias. São apresentados para serem compreendidos em suas abordagens epistemológicas. Como professor eu não ensino/estudo o que eu acredito e sim o que é precisa ser conhecido. Simplesmente isso.

Não há doutrinação na Escola nesse Estado Laico em que vivemos, (ou ao menos espera-se que não...) pois não é ensinado religiões e sim o desenvolvimento histórico do pensamento racional científico, para que partindo do conhecimento de tais, seja elaborado habilidades e competências.

Não é de hoje que o conservadorismo se incomoda com reflexões contrárias de suas convicções culturais e religiosas, dado que pensar diferente do imposto é um risco para sua dominação conservadora do sistema de alienação. Causa essa que a teoria marxista que apareceu na prova, aqui em pauta, gerou indignação e mimimis dos verdadeiros alienadores. Não lembro de terem alegado que Tomás de Aquino (Santo Tomas de Aquino)? apareceu na prova como doutrinação...

O próprio filósofo cristão, Aquino, disse: “Tenho medo do homem de um só livro.” Ou seja, é preciso conhecer a pluralidade da produção de interpretações sociais (teorias epistemológicas), e mesmo quando adepto de uma só não significa a cegueira burra-intolerante ou perseguição aos que fizeram escolhas e experiências distintas das suas defesas...

Quem realmente é sábio não precisa sair pelo mundo querendo converter os outros para sua ótica interpretativa da realidade, ao contrário. Lembrando de Sócrates (o clássico sábio da Grécia antiga), ele promovia diálogos respeitando e compreendendo o outro para colocar argumentações reflexivas. Mais humanidade compreensiva, por favor...

Poderia passar a noite escrevendo, porém acredito que essas simples considerações é o meu ponto final nessa tensão criada na rede nesses últimos dias sobre a suposta doutrinação do Enem e do ensino escolar.

(Ítalo Silva, professor de Filosofia e Sociologia na Escola Sesi Jundiaí e no Núcleo Centro de Ensino em Anápolis, mestrando fazendo pesquisa em educação pela UEG no programa Mestrado Interdisciplinar em Educação Linguagem e Tecnologias – Miel - @italoalessandro)

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