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OPINIÃO

COP 21 e os desafios para a agropecuária

Se os caríssimos leitores esperam que esta coluna aborde os temas que se enfileiram nos cadernos especiais dedicados ao agronegócio nas folhas e telas cotidianas, por favor, sirvam-se de outro canal.

Como? Ainda não viram? Perderam pouco. O tema central sempre diz que o planeta precisa aumentar a produção de alimentos. Formidável novidade. Alguém chegou a duvidar? Os subtemas seguirão um mesmo diapasão: investimentos em infraestrutura e inovação tecnológica; logística, crédito rural, competitividade e lucro insuficientes; et à cause sempre de governos ora ausentes ora muito presentes; exportações vivem ameaçadas, mas vão; crise na indústria de máquinas e insumos, mas também vão. Segue o jogo.

Os anúncios publicitários, pouco diversificados, oxigenarão as finanças da “edição especial”. Presentes, os infalíveis (?!) Banco do Brasil e Caixa, confederações, federações, associações e algumas multinacionais, hoje mais precavidas.

Se você fez uma inserção comercial ser-lhe-ão facultados opinião e foto sorridente. Outros recebem a honra mesmo sem gastar. Por quê? Ora, porque foram feitos para isso, que assim segue o jogo na Federação de Corporações.

Podem crer. Globo, Folha, Estadão, Valor, para ficarmos apenas no eixo Rio-São Paulo, pelo menos duas vezes ao ano, acham especiais os campesinos, sertanejos, caboclos e ruralistas (posso ter errado a ordem).

Sendo assim e seguindo minha admiração pelos papas Francisco (Vaticano) e José Graziano da Silva (FAO), nesta semana conversaremos sobre a COP 21, Conferência do Clima da ONU, aberta no dia 30, em Le Bourget, Paris, e irá até 11 de dezembro, com a presença de chefes de Estado e representantes de mais de 150 países.

Sei que muitos leitores são céticos a respeito de eventos dessa natureza. Com razão. “Rodadas” nunca arredondadas, “Protocolos” desrespeitados, “Objetivos Milenares” nunca alcançados. Rodízio de lugares aprazíveis onde se filma “Picnic/Férias de Amor” (Joshua Logan, 1955), sem as belezas de Kim Novak, William Holden e “Moonglow”.

As primeiras notícias vindas de Paris trazem alento. Fazem parecer a moçada tomando jeito ou dando ouvidos aos marqueteiros que sabem que o tema rende votos.

O Brasil, que nos últimos anos andou fazendo direitinho a lição de casa, começou entrando de sola, dando de galo, impondo mais obrigações do que intenções, que destas o inferno poluidor está cheio. Quer que os países pobres e em desenvolvimento sejam ajudados financeira e tecnologicamente por aqueles que mais estupraram a camada de ozônio.

Claro que no plano das intenções os temas se repetem: proteger as florestas, ampliar o uso de energias renováveis, definir um valor para o carbono.

Não pensem, no entanto, que será fácil. Como ficar otimista quando o líder da China, Xi Jiping, declara “ser imperativo o acordo climático levar em conta a diferenciação entre os países”, e Barack Obama responde “um dos inimigos que temos que combater nesta conferência é o cinismo”?

Sendo chato, acho que, desta vez, talvez o ofertório passe da página 9, mas não chegue à 32. Tanto que pobres e ricos já começaram a divergir sobre quem pagará a conta. Aposto nos pobres.

Chega-me aos olhos sequência de “Missão Impossível versão 49”, com Tom Cruise, Zhang Ziyi, Lucy Liu e Jackie Chan fechando a canastra.

Mas, vamos acreditar felizes. Até o dia 11 muita coisa pode acontecer.

Claro que a agropecuária tem enorme papel a representar nessa epopeia. Nada muito complicado. Ela já vem sendo cobrada há, pelo menos, três décadas e tem-se ajuizado.

Basta inteligência para entender que a floresta mantida ajuda a lavoura, o pasto e a alma. Daí dispor-se a reconstituir matas, recuperar córregos e nascentes. Criar coragem para impedir que altas aplicações de adubos químicos salinizem as terras e que os agrotóxicos façam rodízio de moléculas a cada nova praga ou doença, infeccionando bolsos agros. Entender o óbvio: um solo rico em matéria orgânica é condição básica de plantio e manutenção da vida microbiana, com lindos efeitos na produtividade. Deixar de lado a ideia de que a água é tanta que pode ser desperdiçada.

Simples, não? Talvez pouco mais, pouco menos. O resto não é conosco.

Se hoje falhamos com o meio ambiente e o clima é no essencial: o homem. Trabalhadores e trabalhadoras rurais respiram o mesmo ar e se afogam nos mesmos dejetos que nós. Com uma diferença: a pobreza continua incrustada em seus sonhos.

E com isso pouco nos importamos e nada aprendemos.

(Rui Daher, colunista de CartaCapital, criador e consultor da Biocampo Desenvolvimento Agrícola - [email protected] - Texto originalmente publicado na CartaCapital)

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