Pode acontecer com qualquer pessoa. É difícil de explicar, mas às vezes ocorre uma momentânea falha de percepção, como por exemplo, a do homem que foi ao shopping para se encontrar com a mulher na praça de alimentação. O encontro estava marcado para as 13 horas. Antes ele tinha passado no banco, mas houve uma falha e sua conta estava devedora, o que lhe causou forte ansiedade. Envolvido com o problema, esqueceu-se da hora. Por fim, a situação foi regularizada e ao olhar o relógio, viu que já faltava pouco para as 14 horas. Apressadamente, saiu do banco.
Quando chegou à praça de alimentação não viu a mulher no local combinado. “E agora, onde vou encontrá-la”, pensou ele. Como estava com fome, resolveu que primeiro iria se alimentar e depois pensaria em como achar a sua mulher. Assim fez, foi ao balcão e entrou na fila para escolher os alimentos que a garçonete ia juntando no prato de forma mecânica. Acomodou-se numa pequena mesa, mastigando de forma apressada e pensando no desencontro. Olhando em volta, notou as mesas com resíduos, mal higienizadas, com pessoas displicentes em volta delas, comendo, bebendo sem se preocuparem de onde vinha tudo isso, pensando apenas no que poderiam comprar e no que não poderiam.
O homem olhou para os alimentos e pensou em como a natureza é generosa. Apesar de tantos descuidos, ainda concede alimentos para os seres humanos que poluem rios e mares, e destroem grande parcela de solos bons para a agricultura. Satisfeito, juntou o prato e talheres para deixar no local destinado, e foi andando a esmo. De repente avista a mulher que estava caminhando em direção ao restaurante. “Ei, onde você vai”, perguntou ele, e continuou: “Eu perdi a hora.” Ao que ela respondeu: “Perdeu a hora, como pode? Faltam cinco minutos para as 13 horas.” Então caiu a ficha: ele tinha se enganado; o cérebro aceitou a ideia de que ele tinha se atrasado e não raciocinou mais nada.
Enganos acontecem e podem causar prejuízos ou não. No caso aqui relatado foi fácil resolver, mas quando olhamos as condições de vida no Brasil e na América do Sul, onde o dinheiro se tornou artigo escasso e os juros elevados, gerando crises políticas, econômicas e sociais, vemos que os enganos dos gestores públicos causaram muitos estragos. Com gestão mais séria, a situação poderia ser muito melhor.
Incapazes de se ajustar à situação, muitos governantes preferiram chutar o balde indo ao encontro das teorias socialistas para atrair a massa despreparada. Na verdade, poderiam ter feito esforços para se adaptar à situação da economia global sem se submeterem às pressões externas. Deveriam, em primeira linha, ter cuidado do orçamento, do controle dos gastos, da boa aplicação dos recursos, da inflação e taxa de juros, da adequada paridade com a moeda líder – o dólar –, evitando as desastrosas flutuações. Deveriam ter dado grande atenção à educação e ao preparo das novas gerações, formando seres humanos ativos e com clareza no pensar, empenhados na busca de um futuro melhor. Mas com o desejo de se perpetuarem no poder, não se preocuparam com os meios, deixando tudo ao sabor dos interesses particulares, desde que satisfizessem as suas cobiças.
Mas há no mundo uma geopolítica de mando e controle. Os governantes precisam saber se equilibrar para não “darem com os burros na água”, isto é, devem buscar autonomia sem subordinação, sem tomar partido. Vivemos no mundo ocidental, então temos de nos ajustar, zelando para manter a autonomia sem cair na dependência dos empréstimos externos, para assim podermos gerar empregos, utilizar bem os recursos de que dispomos, preparar as novas gerações, permitir a boa circulação da moeda, tudo visando à construção de um país digno da espécie humana, que preserva a natureza, que organiza as cidades promovendo o saneamento e a reciclagem do lixo. Enfim, gerir o país sem branco na cabeça, com a consciência da responsabilidade.
(Benedicto Ismael Camargo Dutra, graduado pela Faculdade de Economia e Administração da USP, e associado ao Rotary Club de São Paulo)