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OPINIÃO

Qual presente de Natal você merece ganhar?

Primeiro deixe o pensamento viajar pelos lugares comuns do Natal. A grande mágica do pensamento é proporcionar essa viagem. Humanos são seres extremistas e cabe a cada um domar o que pensa, podendo passear por memórias boas e ruins de natais ou carnavais. Para cada pensamento um sentimento. Pode se deixar levar pela crítica fácil ao consumismo, entender papai-noel como uma aparição polar ridícula num dia fervente, mensurar os exageros na comilança e compromissos desvairados, onde metade poderia ser descartada.

Alguns veem o Natal como uma festa falsa, na qual abraços e sorrisos forçados comparecem nas dezenas de fotos postadas no Facebook. Outros relembram tragédias do período, enumerando desastres, mortes, perdas e prejuízos. Culpam o espírito do Natal e não a insânia humana. Os mais sensíveis mostram-se amargurados com a data e mencionam que perderam alguém que amava o Natal ou pela época do Natal e então assumiram o negativismo.

Há quem fique agarrado ao passado, falando de hábitos que não voltam mais. Contam como eram as festas de fim de ano de décadas antes, tempo bom, de rezas e tradições e não de pessoas desumanizadas correndo pelos shoppings, digitando em seus celulares. O mal-falado celular ajuda na resolução de problemas, ninguém duvida, e neste período leva fotos viajadas no WhatsApp para ajudar em decisões.

Os não cristãos, naturalmente, não comemoram o Natal, dia do nascimento de Cristo. Várias denominações cristãs também não. Reúnem-se para rituais de fim de ano, mesmo que seus calendários contem números diferentes e não gregorianos, e somem números muito maiores do que o 2016 ocidental que se avizinha.

Os apaixonados pelo Natal, a cada ano, decoram a sua casa mais cedo, curtem, envolvem-se, projetam, inspiram-se, desde outubro (acusam os contrários ao capital). Tudo funciona como uma catarse do que já passou para um renascer convicto e purificador. Abraçam o otimismo, planejam, se doam em abraços, presentes, visitas, carinhos, amores e atenções. O período, para quem é assim, serve para mudar seu espírito e o dos outros, numa prestação de serviço em nome do bem, oferecendo os préstimos, e distribuindo o que tem de melhor.

O período do Natal chegou. Ele não se importa com o seu mau-humor, suas perdas, os buracos da sua vida, suas críticas, sua falta de saúde ou de dinheiro. De qualquer maneira ele vai acontecer, com ou sem você. Os que o odeiam trancam-se em lamúrias, inspiram-se na raiva contra a farsa e o consumo. Pensam nas tragédias de todos os dias, no terrorismo, lama, seca, crise moral, política, econômica, dengue, chikungunya, zika. No outro extremo, os sonhadores sentem que cada segundo conta, assim como cada gota conta, seja de carinho, seja de água. Vão fazendo seu périplo pelas lojas e supermercados, constroem festas e confraternizações, dão o melhor de si, valorizando-se e aos outros. Entendem que o fim-de-ano é um pretexto para se fazer dois róis, o que já passou e o que se pretende fazer. Se for corajoso, repassa cada item do último rol, para se certificar de que foi todo cumprido.

A individualidade de pensamentos e sentimentos precisa ser respeitada. Lucre, escolhendo o caminho leve do perdão e da ausência de culpas. Que se possa viver simplesmente como se queira, sem apontar o dedo para os demais. Cada um deve viver como conseguir. Não culpe a ninguém pelo que não fez até agora. É cômodo, mas inútil. Não permita que o negativismo destrua as memórias dos natais da boa criança que você já foi. Pegue um sorriso emprestado, caminhe na direção do outro, acolha, compreenda, aceite, refaça laços, perdoe. Presenteie se quiser.

Em tempos de sucessivos escândalos e fraudes, não veja nos gestos humanitários sinais de falsidade. Como sugestão, mude seu modo de pensar. Junte-se aos que ajudam. Todos merecem luz, paz e dignidade no Natal, até o mais negativo, aquele que se lamenta por ter perdido tempo lendo mais um texto banal. A época do Natal é isso: puro sentimento, sentimento puro. Dê a você e aos outros este presente. No Natal e no restante do ano.

(Mara Narciso, médica e jornalista)

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