O andarilho segue seu caminho lentamente, pois a jornada é continua e não precisa de pressa.
A continuidade da jornada é o que mais importa, roupas rasgadas, suor escorrendo pela testa, assim o viajante segue.
Quando vê um homem se debatendo contra o tempo, aperta o passo, pois talvez aquele ser esteja precisando de ajuda.
O andarilho aproxima-se e pergunta ao homem.
Você precisa de algum tipo de ajuda?
O homem não para e, ao invés disso, acelera mais ainda seus movimentos.
De repente para.
E diz ao andarilho.
Hein moço, você espantou as borboletas.
O andarilho olha em volta e não vê nada. Mas se desculpa, não era minha intenção.
O homem se vira em sua direção e diz.
Tem nada não, elas sempre voltam. Não me deixam em paz.
O andarilho agora se fixa naquela figura, um homem magro, franzino olhos azuis esbugalhados, e a pele cheia de sardas.
Não tem um aspecto de pessoa normal, parece ter alguma debilidade mental.
Está tão magro que os ossos da face são aparentes.
O andarilho se apieda daquele ser e oferece dividir o almoço com ele.
Convite que é aceito de imediato.
A matula é boa, farofa de frango, e um resto de suco quente, pois geladeira e só para quem tem casa, na rua se ajeita como dá.
O homem é inquieto, o andarilho mal consegue estabilizar seus pensamentos, é difícil se conter diante daquela figura estranha.
A vontade do andarilho de viajar naqueles pensamentos é muita, não é todo dia que se tem oportunidade de se conversar com uma pessoa tão diferente.
Um ser que diz palavras desconexas, uma mente aparentemente tão subdesenvolvida.
Será que essa mente acompanhou este corpo na mudança de dimensão, ou ainda está presa em outro tempo?
O andarilho não se contém, e pergunta ao estranho.
Você está com algum problema, amigo?
O homem olha para o andarilho e lhe pergunta.
Você acha que eu sou louco, né?
O andarilho tenta disfarçar, mas não convence o estranho.
É, amigo, te achei um pouco estranho.
O homem sorrindo, diz ao andarilho.
Loucos são todos aqueles que me acham loucos.
De onde eu vim os valores são outros, os valores de vocês são de coisas que estão fora do corpo físico espiritual.
Vocês têm uma falsa percepção da realidade, só estão atrasando sua evolução.
Persigo as borboletas porque são livres, enquanto que seus corpos só servem para o aprisionamento de suas almas e suas mentes.
E enquanto viver desse jeito nunca vou me sujeitar a uma vida de servidão mental e social, pois assim como sou ninguém vai me querer por perto, e assim fico livre para seguir meu caminho.
O andarilho se surpreende com as palavras saídas daquele que parece não ter coordenação mental, e acaba por dar corda ao louco.
O andarilho então lhe pergunta.
Então, amigo, o que realmente faz neste plano astral?
O louco lhe diz com toda calma que o mundo pode suportar.
Olha, andarilho, eu sou engenheiro do sistema planetário, e estou em viagem de estudos para melhor entender a velocidade de adaptação de um espírito no contexto evolutivo de viagem cósmica.
O andarilho não se contenta com a resposta, e diz ao homem.
Explique-se melhor, engenheiro cósmico.
Pois não, meu caro.
É que a medida usada em viagens pela galáxia é contada em anos-luz, e nossa viagem espiritual, no contexto evolutivo, vai se dar em função de como cada ser administra a luz em seu interior.
O andarilho fica pasmo com as palavras do homem, e lhe diz: continue, comecei a gostar da conversa.
Deus não pertence a nenhuma religião, Deus não é tribal, ele é uno.
Deus é cósmico, ele é o elo de ligação entre os mundos, ele é a própria luz.
A nossa medida evolutiva tende em ir em direção à luz pelos caminhos do Pai Universal, a nossa medida de tempo é ínfima.
Não tem como cruzar as fronteiras do universo revestidos de carne, o universo se une em função da luz, onde o pai é único, e a unicidade planetária.
Deus existe em várias formas, e em múltiplos tempos, pois a função é a mesma desde que o objetivo seja comum.
A cosmicidade da fé é movimento contínuo da luz, pois a luz é o fim das trevas.
A luz é o próprio viajante, e o condutor dos desígnios da mente criadora. As criaturas, não importam suas formas, são sempre a imagem e semelhança do Pai, pois a casa do Pai tem muitas moradas.
Elohim, em suas múltiplas formas, se adéqua aos seres. Numerosos espíritos puros viajam pelo multiverso levando as mensagens da fonte da criação cósmica.
O Criador tem seu conselho permanente de arquitetos da criação, com desígnios executórios específicos, que viajam pelas galáxias.
A hierarquia celeste se sobrepõe aos seres, sendo uma busca constante na infinidade cósmica.
Os enviados têm em seus desígnios funções específicas, ditadas pelo próprio Pai, como fonte criadora e multiplicadora de mundos.
O próprio Deus em nosso plano não precisa estar presente para cumprir sua missão, pois basta uma palavra sua e serás salvo.
Ele faz curas até nos dias de hoje, por homes agindo em seu nome, guiados por anjos de luz.
O andarilho não sabe o que falar, e agora olha para o caçador de borboletas de forma diferente. Parece que até sua forma física mudou, depois que ele passou a irradiar a luz em seu olhar e suas palavras.
E humildemente o homem prossegue.
E olhe bem, meu caro, já se passaram mais de dois mil anos de sua vinda, e ele ainda está presente dentro da maioria dos seres.
O andarilho concorda com aquele que de início pareceu um louco, mas com suas ideias conseguiu entrar em sintonia com aquele que também é viajante e construtor do sistema de pensamento universal.
O andarilho pede ao homem que continue.
E assim o homem prossegue em sua linha de pensamento.
E o tempo é que da significado em sua vida, pois é no tempo e pelo tempo que aprendemos a caminhar, a conhecer o que somos, e pelo tempo que conhecemos e perdemos as pessoas que amamos.
Foi pelo tempo que as pirâmides deram lugar a edifícios. Culturas vão e vêm junto com seus povos e tradições.
Uma coisa sempre vai dar lugar a outra, não podemos retroagir e nem transpor o tempo, pois se assim fosse colocaríamos a vida de uma forma sem sentido, pois é o conhecimento que nos move.
Meu caro, andarilho, as civilizações primitivas adoravam o universo em todas as suas formas e manifestações, os elementos da natureza, como a chuva, os raios, o fogo, adorava o deus sol, a própria lua era elemento de adoração.
Na sua inocência quase que primitiva faziam sacrifícios de animais, de virgens, de crianças, comiam seus inimigos para tomarem sua inteligência e força.
Reflita andarilho, tudo está dentro de você. Nada parou, o ciclo nunca se completa, e você mesmo faz parte do ciclo eterno da evolução do multiverso.
A busca é continua, está latente, há uma lei suprema que rege o universo em suas múltiplas dimensões, a própria lei evoluiu e continua a evoluir com os avanços que a humanidade conquista em sua jornada evolutiva.
A mente do andarilho viaja em cada frase do engenheiro do multiverso, o sabor do conhecimento e um tempero único que só a alma em seu infinito paladar consegue sorver.
E assim o caçador de borboletas continua sua explanação da trajetória humana em seus múltiplos planos evolutivos.
Meu caro, andarilho, a mente é um portal, pois ela cria múltiplas passagens no universo interior do multiverso existencial, nos levando para mundos paralelos, nos fazendo viajar no tempo de uma dimensão para outra.
Se déssemos conta de dominar os portais poderíamos recriar nossa própria existência, como uma (história alternativa), criando um ponto de divergência e convergência (Ucronia), mudando o sentido da própria história.
Ou seja, além da nossa própria, também da humanidade, envolvendo um grau de desenvolvimento diferente, dividindo as linhas da história, e por esse caminho iríamos em direção da utopia existencial.
O andarilho parece saber de tudo aquilo que ouve, o entendimento é pleno, mas tais informações parecem ter desaparecido da sua mente, mas tudo aquilo te faz sentir vivo e se devotar a uma vida em busca de evolução em todas as suas formas, inclusive no conhecimento.
E assim o homem prossegue.
Caro, viajante, não existe um lugar comprovado por sua inexistência, pois toda história vem de uma mente criadora que percorreu um lugar em que nenhuma outra mente esteve. Pois cada mente no universo é fonte criadora, de um mundo próprio e particular, e por que não dizer utópico, tudo existe em algum lugar, se não real, ao menos na mente de quem a criou.
O (Retrofuturismo) é um exemplo do que digo, pois a mente volta ao passado para criar novas formas para um futuro em evolução.
Isso, amigo, é tudo parte da mente criadora, que é a fonte da evolução cósmica nos seres que vagam pelos multiplanos existenciais.
A conversa foi longa pelo curto espaço de tempo gasto pelos dois seres que vivem em função da multiplicação dos ideais do arquiteto do universo.
Os dois se despedem e as jornadas se dividem em caminhos diferentes com objetivos comuns.
(Paulo César de Castro Gomes, graduado em Direito pela Universidade Salgado de Oliveira Goiânia, pós-graduado em docência universitária pela Universidade Salgado de Oliveira Goiânia, pós-graduando em Criminologia e Segurança Pública pela Universidade Federal de Goiás - E-mail. [email protected])