Já se vão quase três meses desde o desastre de Mariana em Minas Gerais. Centenas de pessoas prejudicadas por perdas materiais e muitas por perdas irreparáveis de familiares. A cada dia novas notícias daquele que se configura como o maior desastre ambiental em nosso país.
O Rio Doce e seus afluentes estão “mortos” e por mais que se fale de recuperação, numa visão extremamente otimista o prazo mínimo seria de uma década para uma total recuperação. Não se trata de pessimismo, mas sabemos que em nosso país não podemos lidar com o otimismo na maioria das coisas, principalmente quando se envolve poder e dinheiro. Assim, especialistas da área ambiental são unânimes em dizer que a fauna e a flora daquele lugar, estão prejudicados e consequentemente a população sofrerá pelos próximos anos.
Ao longo da história do mundo, a natureza sempre foi aquela capaz de alimentar o homem. Muitas culturas tem na terra uma verdadeira divindade especial e lhe dedicam tributo. Em países como o Peru, ela recebe até nome próprio como Pacha Mama, tamanha a admiração que lhe é devotada. Acontece que o homem foi se fazendo senhor de tudo, tirando proveito dos frutos que a terra lhe dá e entrando num processo de ganância inenarrável.
Até bem pouco tempo atrás, se imagina que as riquezas da terra eram inesgotáveis e que teria sido criada exatamente para o deleite do ser humano. Assim o ser humano vem agredindo de forma profunda a natureza atrás de acumulação de riquezas, e permitindo que a fome e a necessidade alheia não lhe toque o coração.
Na tragédia de Mariana ao menos 23 municípios foram atingidos. Muitos deles já vinham sofrendo com uma crise hídrica (resultado da falta de zelo com nossos mananciais). O abastecimento de água destas cidades e a economia pesqueira foram afetados e a população severamente prejudicada.
O desastre de Mariana nos fez ver nossa vulnerabilidade frente ao mundo que nos mesmos criamos. Em um lugar onde se destrói a natureza para lucrar, onde as cidades crescem de forma desenfreada e rios são poluídos, onde o ar que respiramos está cada dia mais imundo, fica claro os riscos naturais que estamos correndo. As mudanças climáticas a cada ano mais rigorosas vem como formas de aviso das intempéries que nos próximos anos veremos de forma ainda mais drástica, como inundações, ondas de calor, erosão dos solos, escassez de água, dentre tantas outras que
A triste experiência ocorrida em Mariana nos mostra que é preciso mudar. A exacerbada ganância por lucros acima de qualquer coisa, a falta de conscientização ambiental de nossas crianças que a cada dia produzem mais lixo e desperdiçam água, adultos que poluem de forma desenfreada e não se importam com a previsão constitucional de extrair sim da mãe natureza, mas de forma sustentável para que as futuras gerações a ela tenham também acesso e por fim mais tão ou mais grave, a omissão do Poder Público, que permite concessões para empresas e não fiscaliza adequadamente, tendo um único objetivo: mais arrecadação de impostos.
A pergunta que fica, é quantos desastres mais veremos como o de Mariana? Quantas vezes mais a natureza sofrerá com ação humana. Qual é nossa responsabilidade com o meio ambiente e com as futuras gerações? O eco da tragédia, nos faz refletir que não sabemos a resposta, ou preferimos não vê-la.
(Regiane Rosa de Alcântara, cursando gestão em segurança pública na faculdade Lions de Goiás)