Pronto... Embarcamos todos nós, direitistas e esquerdistas; liberais e marxistas; estatais e anarquistas em um 2016 que promete muito. Como não poderia deixar de ser muito do falecido e malcheiroso 2015 vem junto.
Por exemplo: a oposição mais deletéria de toda a América Latina encabeçada por educados e bem vestidos yuppies do sistema bancário e rentista brasileiro; sensíveis degustadores de vinho da melhor safra portuguesa; consumidores contumazes da mais fina e olfativa cocaína colombiana; passistas discretos e charmosos da Avenida Paulista; cujo principal braço político é o emporcalhado grêmio DEM/PSDB seguirá com seu já bastante envelhecido e manjando discurso da crise econômica o que justifica, portanto, o impeachment da Presidente Dilma Roussef.
A mídia, como sempre, seguirá com seu sensacionalismo rameiro, proselitista e de quinta categoria onde, dessa perspectiva, a velha e endêmica corrupção brasileira é obra e ação dos movimentos trabalhistas do país, dos movimentos sociais de esquerda e, é claro, de nossos comunistas.
A esquerda, segundo sua própria tradição seguirá se "modernizando" em favor e serviço da "real politik" o que quer dizer, pelo menos, muita conciliação com toda sorte de oligarquia brasileira e, é claro, se distanciando sempre e cada vez mais dos movimentos sociais e do povo, na exceção dos períodos eleitorais e por razões óbvias.
Este beligerante 2016 será o "noves fora" do PT. Vamos ver como será o desempenho político-eleitoral do Partido dos Trabalhadores das eleições municipais e que acontecerão no segundo semestre.
Estou seguro de que a Operação Lava Jato que investiga contratos superfaturados da Petrobras com empreiteiras e prestadoras de serviço não irá extinguir o PT, embora a oposição e parte da mídia, assim deseje. Finalmente, a legenda trabalhista, entre pecados e virtudes, não está acabada e seguirá nas disputas eleitorais rivalizando com o PSDB nos próximos pleitos eleitorais.
Sua estratégia única e possível de real sobrevivência? Dar uma guinada à esquerda; resgatar bandeiras esquecidas; dar fôlego e vida ao debate das reformas estruturais que o país clama faz tempo, tais como reforma fiscal, tributária, patrimonial, urbana, rural e educacional.
Não podemos olvidar que tais reformas são essencialmente burguesas: ampliam e aperfeiçoam o mercado interno; redefinem a lógica e a dinâmica das trocas internas garantindo algum sentido e possibilidade de êxito às "livres iniciativas" o que altera; por conseguinte, nosso próprio papel sócio-produtivo na infame divisão internacional do trabalho que mantem de pé e atualizada o velho pacto colonial quatrocentista.
As pelejas tenderão a ser mais renhidas e intensas também e, principalmente em pequenas e médias cidades onde os abusos econômicos e eleitorais beiram o impossível.
Finalmente, as velhas e cristalizadas contradições de classe continuam firmes, afinal, as classes, expressão concreta e material da exploração do homem pelo homem, continuam firmes, fortes e ameaçadoras.
(Ângelo Cavalcante, economista, cientista político, doutorando em Geografia Humana (USP) e professor da Universidade de São Paulo (USP))