“Eu não gosto de mandar. Gosto mesmo é de convencer e ser convencido”, palavras de quem exerceu o cargo máximo do poder no Brasil: o ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso. Dono de uma carreira acadêmica invejável e autor de clássicos como a “Teoria da Dependência”, não necessita de maiores apresentações no campo político.
No exercício da presidência, FHC mostrou-se avesso ao dia a dia do rame-rame burocrático. Ciente de seu papel de líder, o autor de “Escravidão no Brasil Meridional” definiu bem qual era o seu negócio. “Meu negócio é apontar o rumo. Disso não abro mão”, disse.
E, apontando rumos provenientes de uma visão clara de futuro a ser construído, o então inquilino do Palácio do Planalto liderou uma verdadeira equipe de mentes brilhantes - Pérsio Árida, André Lara Resende, Gustavo Franco – que concebeu o plano que finalmente venceria a inflação no país: o Real.
Os bastidores de concepção do plano geraram em torno de seu líder um ambiente excepcionalmente estimulante. Aliás, era ele quem fomentava as discussões nas quais prevalecia tão somente a força dos argumentos. As ideias se materializavam como nos versos do poeta. Tudo léguas distante do maior argumento dos pobres de espírito, conhecimento e arrogância: “Quem manda aqui sou eu!” Coisas assim saem da boca daqueles que, alçados ao poder de mando, sentam num grão de areia pensando que estão no cume do Himalaia.
Cá no meu mundo menor, fazendo um balanço de mais de três décadas na condição de servidor da Celg, confesso que convivi com as duas lideranças que este artigo intenciona avaliar: a do conhecimento e a do medo.
A luz da minha experiência evidenciou a seguinte situação: quem realmente tinha conhecimento conseguia, pelo carisma, pela humildade e com uma clara visão de futuro convencer e ser convencido antes de tomar decisão. De igual forma, convivi com certas lideranças que se impunham pelo autoritarismo “do quem manda aqui sou eu”. Esses sempre fogem de discussões como o diabo foge da cruz. E têm razão para isso, pois, no fundo, sabem o que são e o que sempre serão: fracos.
O problema maior desses “líderes!” , é o estrago psicológico que provocam na gente que, por um azar da vida, são-lhes subordinados. O dano psicológico que causam e causaram em inúmeros colegas movidos a Rivotril ou coisa parecida, tornou-se evidente.
Eis aí a face mais visível dos dois estragos que promovem as lideranças impostas pelo medo. O primeiro na absoluta falta de visão para apontar um rumo. O segundo fica debitado na dor da alma à qual todos nós ficamos submetidos quando estamos à merce do mando de nulidades.
(Salatiel Soares Correia é engenheiro, bacharel em Administração de Empresas, mestre em Planejamento Energético. É autor, entre outras obras, do livro A Energia na Região do Agronegócio)