É a primeira vez que uma marcha nacional acontece no Distrito Federal, visando reunir o máximo de organizações de mulheres negras, assim como outras entidades do movimento negro, mobilizando essas pessoas em homenagem aos ancestrais e em defesa da cidadania plena das negras do Brasil. Intuito básico: combater o racismo. Foi na tarde da quarta-feira, 18 de novembro de 2015, que ocorreu a marcha, deixando grande repercussão no país, evidenciando muita violência, pânico e outros transtornos causados pelo, já indiscutível, ódio aos negros e pobres do Brasil, como nunca se viu anteriormente.
Realmente, num país onde não haveria racismo, mesmo estando legalizado pela Constituição Federal e leis ordinárias, causa estranheza falar-se em “ódio racial”. Ao certo, somos um dos países mais racistas do mundo, onde o racismo, por incrível que pareça, é o mais difícil de ser combatido, pelo fato de ser dissimulado, tentando esconder também o sentimento de ódio que, segundo a escritora e notável cronista Maria José Silveira, é uma verdade comprovada desde os primeiros humanos das cavernas, que reagiram e manifestaram o seu ódio, às vezes bárbaro e cruel, desde que “se viram ameaçados, ou viram outros homens querendo sua comida, seu abrigo etc., lembrando a história de Caim, outras várias passagens bíblicas e o recente e deplorável aumento do ódio contra negros e pobres e até ao que lhes pertença, imaginem, os partidos políticos! Podendo ser um “exemplo”, o caso do PT, já combatido no Brasil como se fosse uma tremenda maldade.
A Marcha das Mulheres Negras em Brasília, sem a menor dúvida, além de uma forte e notável resistência contra o racismo no Brasil, foi um ato heróico contra o ódio racial ora querendo se impor no país, ferindo a lei e a ética. Essa Marcha das Mulheres Negras é um dos mais belos exemplos de resistência da mulher negra e dos seus apoiadores na historiografia recente que, oportunamente indignados, enfrentaram a violência do ódio racial começada pelo barulho de bombas, presença de policiais civis responsáveis por inúmeros disparos, querendo acabar com a Marcha das Mulheres Negras nas proximidades do Museu da República, ao lado da Catedral de Brasília, só não conseguindo porque as mulheres, com realce as negras, são ousadas, aguerridas, resilientes, a bem dizer, irresistíveis, sendo um bom exemplo à reação ou lição de tantas outras, igualmente vitimas do ódio racial, como o caso da desembargadora baiana Luisinha Valois, que fez valer o seu direito constitucional de mulher livre, hoje reconhecida no Brasil e mundo afora.
Notem que eram aproximadas 10 mil pessoas participando daquele ato cívico, de bravura rara, coragem inusitada, destacadas por uma caminhada, às vezes até em silêncio, certamente a forma mais emblemática na história da resistência humana contra abusos e desmandos dos poderosos, onde alguns ainda estavam em favor da intervenção militar, imaginando retorno do golpe de 1964, lançando rojões na Esplanada, disparando tiros, como dois policiais acampados em frente ao Congresso Nacional defendendo a volta dos militares ao poder, causando pânico entre os manifestantes. De acordo com a PM, sob o pretexto de ter sido ameaçado pelos integrantes da marcha, um dos policiais disparou quatro tiros para o alto. Segundo o major da PM Juliano de Farias, um dos homens que atirou foi o mesmo que foi preso na noite da última quinta-feira (12) com um revolver e armas brancas escondidas em seu carro. Outros, ainda causando corre-corre, confusão e choro, talvez nem perceberam que o terrível sentimento de medo que passaram – característica dos humanos – não passou de intrepidez ou tática de resistência antirracismo. A deputada federal Érika Kokay (PT-DF), integrante da Comissão dos Direitos Humanos, presente no ato, relata em rede social os momentos de pânico na Esplanada dos Ministérios. Expõe fotos de mulheres do movimento ao chão, da prisão do suspeito e de uma das balas encontradas no local.
Enfim, o Abraço Negro, que alcançou a marca de 14 edições somente em Goiânia, é mais uma resistência na luta contra o racismo, idealizada inicialmente pelo Movimento Negro em (2001), no intuito de promover discussões e debates de conscientização contra o racismo. Essa oportuna atividade, que reúne alunos das escolas públicas de Goiás desde 2002, liderada e pedagogicamente orientada por professores da Secretaria da Educação de Goiás, especialmente Iêda Leal, vice-presidente do Sintego, secretária de combate ao racismo da CNTE e vice-presidente da CUT-GO; Bia de Lima, presidente do Sintego, que vem fazendo esse importante trabalho de “abraçar espaços públicos para mostrar à sociedade que é preciso o envolvimento de todos para eliminar o racismo, o preconceito e a desigualdade”.
De sua parte, Iêda Leal afirma que o “Abraço Negro simboliza as atividades de combate ao racismo na educação pública”. Avalia que “o evento é o momento para demonstrar para a sociedade o esforço dos educadores e dos sindicalistas em levar para as escolas uma educação sem racismo e sem intolerância”, com a participação dos alunos, acredito menos isentos do engodo ou astúcia do racismo brasileiro. Bia de Lima e a combativa Iêda Leal, dentre outras abnegadas professoras, reforçaram a Marcha das Mulheres Negras, mostrando bonitas imagens do Abraço Negro ocorrido em várias cidades goianas, publicadas no jornal do Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Goiás (Sintego), edição de Dezembro/2015.
Além de Goiânia, Abraço Negro em cidades do interior: Trindade, Aparecida de Goiânia, Itapuranga, Anápolis, Luziânia, Minaçu, Jussara, Uruaçu, Posse, Campos Belos, São Miguel do Araguaia, não esquecendo que o Abraço Negro é promovido em parceria com a CNTE e a CUT-GO. Fico devendo simbologia, modalidade e o lado amoroso do Abraço.
(Martiniano J. Silva, advogado, escritor, membro do Movimento Negro Unificado (MNU), da Academia Goiana de Letras e Mineirense de Letras e Artes, IHGGO, Ubego, AGI, mestre em História Social pela UFG, professor universitário, articulista do DM ([email protected]))