Na travessia do século XX para o século XXI, muitas mudanças surgiram em toda a humanidade, não apenas no aspecto tecnológico e/ou científico; mas também no que diz respeito ao comportamento e a psique humana. Passamos por grandes transformações em todos os aspectos, entretanto, não podemos negar que estas transformações têm custado um alto preço ao ser humano desatento e materialista, que valoriza as ilusões, as vaidades exacerbadas e aos devaneios do ego.
Vícios têm escravizado milhares de pessoas psiquicamente imaturas, que desfilam nos corredores da morte pelo álcool, tabaco, crack, maconha, cocaína, etc., outros milhares envaidecidos ao culto do corpo perfeito também se deixam levar pelos profissionais inconsequentes em transformações desnecessárias do corpo através de cirurgias plásticas, sem um auxílio de outros profissionais que valorizam e prezam a vida humana: psicólogos e psicoterapeutas espiritualistas despertos.
Nosso País ocupa hoje um dos primeiros lugares em cirurgias plásticas e centenas de vidas ainda jovem tem sido ceifadas e tantos outros jovens ficam mutilados e cheios de cicatrizes que o perseguirá por toda existência: sequelas na alma!
O ter continua cedendo lugar ao ser e a vida humana parece estar sendo desvalorizada a cada dia. Os valores éticos e morais cederam lugar à banalização da vida, do ser em evolução, da espiritualidade que habita todos nós.
Através dos avanços da ciência moderna, a humanidade passou a acreditar na capacidade de controlar o desgaste biológico, retardando o envelhecimento e aumentando a longevidade, almejando a juventude, a beleza e a qualidade de vida. Diante disso, algumas técnicas surgiram para solucionar esta insatisfação pessoal, entre elas, a cirurgia plástica.
De acordo com Colaneri, a cirurgia plástica sempre esteve associada à psicologia, devido às mudanças psíquicas que ocorrem principalmente relacionadas à autoestima. Inicialmente esta modalidade médica surgiu como cirurgia reparadora, há relatos de casos de construção nasal datados da idade média.
Estudiosos perceberam que através da reparação de deformidades congênitas ou adquiridas, minimizariam as consequências psicológicas no campo pessoal, afetivo e profissional. Com o aperfeiçoamento das técnicas cirúrgicas e anestésicas, a cirurgia plástica passou também a visar o aprimoramento estético e vem a todo vapor perdendo os limites sobre as reais necessidades de cada ser, justificado pela crescente busca do sentimento de auto aceitação e elevação da autoestima.
Em nosso meio encontramos pessoas que creem que a beleza é um recurso viável na obtenção de atenção de seu ambiente social. Este fato pode ser sustentado pela ideia de que seus parentes, amigos ou companheiro sentirão mais afeto caso sua aparência diferente. Embora quase tudo isso não passa de ilusão e manipulação de nosso ego.
Sentir-se e estar bem consigo mesmo é uma atitude que necessita de manutenção, avaliação e cultivo diários, mas é fator sine qua non que essas atitudes não ultrapasse o crivo da razão e ainda não podemos esquecer que tudo nasce dentro de nós e não fora. Quantas vidas estão sendo ceifadas devido aos exageros de toda ordem.
De acordo com Ferraz e Serralta (2007), quando a fonte do sentimento de mal-estar é o corpo, a cirurgia plástica é convocada a resolver “o problema”. É rápida, em algumas vezes definitiva, e não exige muito investimento e/ou comprometimento pessoal em seu processo. Sinto não poder concordar com tal opinião; haja vista que quando “o mal-estar é o corpo” é porque já percorreu os caminhos da alma e pensamento sem as devidas correções ou ajustamento. Faz mister saber que grande comprometimento pessoal deve fazer parte do grande gasto financeiro acoplado às possíveis decepção pós cirúrgicos e vários Frankenstein tem ganhado vida e desfilam entre nós com a alma dilacerada.
O psicoterapeuta espiritualista desperto não impõe ao desejo do paciente; mas cabe a ele mostrar caminhos outros que não passe pelo bisturi no corpo físico; mas que seja ‘elaborado’ no processo da disciplina e do equilíbrio Em contrapartida, a psicoterapia, pode instrumentalizar o indivíduo a viver de maneira mais saudável e equilibrada. O processo é um pouco mais longo, exige motivação e comprometimento pessoal. Contudo, proporciona transformações no mundo interno, deixando o corpo diferente não em sua estrutura, mas na maneira como é interpretado. Quando o corpo adoece é porque a alma já está doente e precisa expurgar para o corpo suas mazelas dessa e de outras vidas.
Segundo Colaneri, a massificação da mídia e imposição do padrão de beleza vigente tem também trazido distorções psicológicas. Pessoas que estão insatisfeitas consigo mesma e projetam na cirurgia plástica a resolução dos seus problemas, permanecem insatisfeitos com os resultados obtidos, por melhores que sejam, pois a cirurgia não resolve conflitos pessoais, familiares e profissionais.
Nesse caso deveríamos sugerir a cirurgia da alma e não no corpo.
“Uma importante particularidade da cirurgia plástica estética, e que no meu ver é de uma grande vantagem em relação aos outros campos da medicina, é que não há necessidade nem urgência em fazê-la. Isso permite que ela seja realizada apenas no momento ideal, ou seja, quando o paciente esteja compensado nos planos físicos e psicológicos.” Dr. André Colaneri. Mas qual seria esse momento ideal, se não buscarmos primeiro os aspectos psicológicos? Um fato que muitas vezes tem deixado de lado pela ansiedade de profissionais imaturos e infantis psiquicamente em busca do enriquecimento e do paciente que perdeu a si mesmo pelas cobranças do ego contrariando os recursos da natureza individual de cada ser.
A cirurgia plástica deve ser um benefício para aqueles que não dependem unicamente deste procedimento para se sentirem mais felizes e satisfeitas. Pois estas pessoas não recorrem a fantasias sobre os resultados obtidos, pelo contrário desenvolvem habilidades sociais como:
Habilidade de conversação e discussão a respeito de assuntos diversos;
Promover destaque em seu grupo social;
Disseminar e explorar a habilidade de ser desejada;
Ter consciência do seu valor utilizando suas características e habilidades de maneira adequada.
Já se ama antes do procedimento.
Ao se submeter à modificação de sua aparência, a pessoa desfrutará de sua nova aparência de forma saudável e plena, pois a cirurgia será um adendo em sua vida social e pessoal. Uma pessoa que aceita a si mesma, sabe buscar seus valores na sua própria experiência, se sente digno e importante, terá na cirurgia um grande complemento dessas conquistas.
(José Geraldo Rabelo, psicólogo holístico, psicoterapeuta espiritualista, parapsicólogo, filósofo clínico, artista plástico, prof. Educação Física, especialista em família, depressão, dependência química e alcoolismo, escritor e palestrante)