A quaresmeira, tipo de jacatirão que tem esse nome porque floresce na quaresma, está em plena florescência, talvez a temporada com mais flores de que me lembro. Em Rancho Queimado, na grande Florianópolis, há um trecho da 282 que está uma beleza, tingido de vermelho e vinho dos dois lados da estrada. Na serra gaúcha também há muitos deles, principalmente nos jardins, e a quantidade de flores é um espetáculo à parte.
Este tipo de jacatirão, a quaresmeira, tem as flores menores do que o jacatirão nativo, que floresce no final da primavera e entre pelo verão adentro, mas é mais colorido, tem cores mais vivas, mais vibrantes. Então não dá pra não notar uma quaresmeira fechada de flores. O manacá-da-serra, outro tipo de jacatirão que floresce no inverno, é mais parecido com o nativo. E, por incrível que pareça, por causa da indefinição do tempo e do clima, alguns manacás-da-serra ainda estão florescendo, como o meu e alguns outros por aí, esticando o seu tempo de florescência, que é em julho, até o início do ano seguinte, dando as boas vindas às flores do jacatirão nativo e tornando este nosso 2016 mais bonito.
Fico encantado com as manchas vermelhas que as quaresmeiras deixam na mata, nos jardins, nas beiras das estradas. Mas não é um encantamento comum, simples, é um encantamento mágico, pois meus olhos são atraídos pelas cores das pétalas vermelhas e lilazes, no meio do verde, e meu olhar flutua em direção a elas, como se minha alma seguisse com ele, rumo às cores. E então meus olhos brilham, como faróis, e o raio de luz é o canal de ligação com meu coração.
É assim que me sinto encantado com a generosidade das flores do jacatirão, encantamento que envolve meu olhar, minha alma, meu coração.
Pois então não sou filho da terra, irmão gêmeo da natureza, como a árvore de jacatirão?
(Luiz Carlos Amorim, escritor, editor e revisor, fundador e presidente do Grupo Literário A Ilha, que tem 35 anos de trajetória literária, Cadeira 19 na Academia SulBrasileira de Letras. http://luizcarlosamorim.blogspot.com.br)