Desviar a atenção para os problemas reais do país como desemprego crescente, escândalos de corrupção, inflação galopante, precarizações da saúde, educação e segurança pública é uma prática comum no Brasil, afinal somos o país do carnaval, onde tudo acaba em festa. Ah! Não temos tradição de luta, não é isso que ouvimos constantemente, ignorando a população indígena e conquistas ao longo da nossa história que foram transformadas em benesses do poder e não lutas da população. O país esta parando e vai parar, não por greves, mas pelo abismo construído ao longo dos tempos por nossos representantes que legislam em causa própria, onde a corrupção impera.
Recentemente publiquei um artigo que colocava em xeque se realmente estamos sendo representados desvendando o jogo político que se forma com as organizações políticas partidárias e sindicais. E neste jogo ficam bem claras as regras, os partidos políticos com seus cabos eleitorais advindo dos sindicatos, estando a frente das diretorias dos chamados sindicatos nacionais que deveriam defender a classe trabalhadora estão a serviço do poder político partidário. Um exemplo na prática de como tudo esta regiamente estabelecida são os movimentos grevistas que funciona como termômetro para o período eleitoral.
Os movimentos políticos partidários e sindicais possuem muito em comum, haja vista, o grande número de partidos políticos e representações sindicais, a prepotência de se considerarem agentes do campo ideológico e por pressupostos os únicos capazes de representar qualquer movimento, por se tratar de um campo de domínio de profissionais que seguem a cartilha a serviço do poder. Tanto na representação política como sindical os conflitos são apenas simulacros de conflitos que acontecem internamente no campo político. No cenário atual o que estamos assistindo, inflação galopante, cortes de recursos destinados a setores essenciais e ao mesmo tempo denuncias de corrupção e desperdícios de dinheiro público, que alimentam os cofres das agremiações e bancam as negociatas de seus dirigentes. Assim funciona a regra do jogo político com as organizações políticas partidárias e sindicais.
Quando se falam em reforma política, não devemos esquecer também da reforma sindical do país, pois um é reflexo do outro. Eu me atrevo afirmando que os sindicatos sempre foram escolas de formação de corruptos. Hoje frente ao avanço tecnológico assistimos uma enxurrada de escândalos de corrupção em todas as esferas da nossa representação, aí incluídos os sindicatos. Se o poder político partidário no país é passado de pai para filho nos sindicatos também assistimos a mesma versão com a simples alternância de cadeiras do mesmo grupo por anos afins no poder.
Recentemente tivemos o caso do Grupo Mata Roma do Sindicato dos Comerciários do Rio de Janeiro entre outros, pois o problema ocorre em todo o país onde o Ministério Público do Trabalho tem em média 4 mil investigações abertas de irregularidades em todos os sentidos para um universo de 11 mil sindicatos de trabalhadores. Assim como na representação política, a sindical também legisla em causa própria, onde o interesse individual esta acima do interesse coletivo.
É simples o entendimento de toda a malha, ou seria melhor a máfia, que se instalou em nome de representação sindical, de onde vieram os envolvidos nos grandes escândalos como mensalão, Petrobras no caso Lava Jato, não é por acaso que a intervenção do ministro Gilmar Mendes dizendo que “ladrões de sindicato transformam o País em um sindicato de ladrões”. O PT esta administrando o país como um grande sindicato onde práticas comuns em sindicatos apareceram nas contas reprovadas como fraudes e maquiagens detectadas pelo TCU, caracterizando crime de responsabilidade fiscal.
Agora eu pergunto, até quando iremos permitir fazermos parte dessa grande comédia do faz de conta, dos salvadores da pátria, dos grandes discursos eloqüentes em favor da minoria. Será que estamos comprometidos com a verdade. Comprometidos em lutarmos para revertermos este cenário, exigindo modificações no campo político e sindical do país.
(Oyama Daroszewski Rodrrigues, professora da Rede Federal de Ensino, aposentada, mestre em Engenharia de Produção)