Não entendo o porquê de tanta mesmice no País. O povo é pobre, agora sofrendo rigores sem precedentes. As pessoas estão juntando as moedinhas esparsas pelas gavetas, cantos, em cima de armários, quebrando cofrinhos com formato de leitões e juntando moedas até de um centavo. Pretendem com isso vendê-las a quem mais prescinde delas, para trocos. Mas não dispensam certos luxos. É o caso do bacalhau no lugar da carne vermelha. Outro peixe, não! “Pode, responde o (a) infeliz, mas é mió o bacalhau”... Bate aquele monte de notas no balcão e sai com uma sacola de plástico, feliz, como se tivesse cumprido uma obrigação social. Mas é quase todo mundo! Nunca fui apegado a esses costumes coletivos. Época de chuvas todo canal de Tv tem que mostrar, repetidas vezes, cada buraco que aparece na rua e todo escombro de casas que caíram com o efeito das águas, nos bairros que recebem as enxurradas que vêm das ruas sem rede de esgoto. É uma amostragem televisiva extensa, todo ano tem. Os locutores das tv’s atuais vão bem. Só que usando um termo bem povão – quase a todo instante, repetem “viu?”. Exemplo: “Não saiam daí, já voltamos, viu?” Descobri essa inovação quando toda vez a empregada responde: “Viu. Mas não demora! Tenho o que fazer, antes que a patroa volte”... Ou né? E a serviçal. “É”. Fazer o quê? Sinais de novos tempos. Evolução “toconológica”.
Vem aí a época do ovo de Páscoa: ovinhos, ovos e ovões. E as lojas atulhadas deles. Deliciosos. E todos preocupados em como adquiri-los.
Respondendo aos repórteres, viu, as pessoas dão sua opinião: – A gente tem que cortar a cerveja de final de semana, ver se consegue substituir “pelo menos a verdura, para comprar o ovo para cada fio, né”? Agora uma senhora explica: – A gente fica sem comprar carne os sete dias, mas o ovo não pode faltar nesse dia! Né?
Por que não? Simples. Por conta da Nestlé, das grandes empresas de chocolates. Fica mostrando nos intervalos dos programas populares, lindas moças comendo chocolates e chamando a galera toda para a farra e todos vão! Mas o povo tem essa mania. Tudo que vê quer comprar. Até o tijolinho da sua futura casa própria está glamourizado. Pelo pastor. Que isso devia evitar. Mas compram a dez reais até as pedrinhas britas na frente da igreja com a unção do Pastor. Confere o milagre da riqueza à sua família! O dízimo vira trízimo. Vendem “o perfume de Jesus Cristo”; gente! Viram na internet, oferecem o sabonete da Universal (e há os maldosos que insinuam ser outra coisa...). “Por apenas 110 reais, o fiel lava a alma e o Bispo lava a égua.”
Mas tudo que se fala o povo crê ou quer. Acreditaram que o Lula era um pobre operário, sem casa e sem terra e, conhecendo o ricaço que ele é, o mentiroso-mor do Brasil, ainda não acreditam que o Lula seja a raposa que eles puseram para vigiar o galinheiro, seja o tesoureiro do Erário público e, mesmo pobre, não teve nem uma família, um amigo onde ele pudesse passar o “Dia do Trabalhador”. O povo é fácil de iludir, viu? Muito fácil. Fizeram uma gigantesca manifestação para tirarem Dilma e Lula do governo, o que vimos depois foi que colocaram no palácio dois presidentes, Lula e Dilma, por hoje, vejamos amanhã.
Oi? Tem alguém chegando aqui. Deixe-me ver o que ele quer... Fala, meu?
– Estou vendendo esse saquinho “prástico” com sete lambaris que pode fazer o milagre da multiplicação dos peixes e dos pães na sua casa, quer comprar? Está ungido pela igreja.
Respondi somente:
– Quero não, viu? A vida tá difícil, né? Vai com Deus, irmão! Ouviu o que o Teori Zavascki acabou de dizer?
– Se puxar uma pena, aparece uma galinha.
É isto.
(Iron Junqueira é escritor)