Dia 21 de abril, leitor, constitui marco indelével, data histórica da luta de nossos antepassados, sublimados por Tiradentes, ousada peleja, pela nossa independência do jugo da coroa portuguesa, antes houve outras tentativas libertárias, dentre elas, a de Filipe dos Santos, que pagou, como Tiradentes, com a própria vida seu sonho de liberdade, recebeu como castigo punição atroz, foi atrelado a dois cavalos e arrastado até a morte. Joaquim Xavier da Silva tinha a alcunha de Tiradentes, porque aprendeu ainda moço, com um de seus tios, a profissão prática de dentista, não havia na colônia dentistas formados. Além disso, foi Alferes de Cavalaria, minerador, comerciante e tropeiro. Acima de tudo, foi o principal líder, líder ardoroso, da luta, pela nossa independência, quando liderou a Inconfidência Mineira, cuja Bandeira trazia como lema o slogan: “Libertas Quae Será Tamem”- Liberdade ainda que tarde fosse - os conjurados, Conjuração Mineira como ficou conhecida, eram muitos, várias famílias faziam parte da elite colonial, revoltadas com a coroa por causa dos impostos, a derrama, como ficou conhecida, que consistia no pagamento do quinto do ouro extraído das minerações, 25% do ouro extraído eram enviados para a coroa, em Portugal, a nossa carga tributária atual é de 36% do PIB, o dobro daquela.
Outras riquezas produzidas pelas capitanias, como prata, açúcar mascavo pagavam também tributos, mas, no caso do ouro, a cobrança era abusiva, nivelada por cima. A capitania, que rivalizava, em projeção política com a de São Paulo, vivia conjuntura revoltante, por causa da perseguição, execrável flagelo da cobrança, seguida de confisco de bens dos que não tinham condições de pagar. A majestade do reino, na época, rainha Maria I, tinha como ministro plenipotenciário, Márquez de Pombal, o que seria hoje, no poderoso presidencialismo brasileiro, o ministro chefe da casa civil. Naquela época, a rainha abraçou voto de pobreza, a inquisição aterrava os súditos, mesmo os jesuítas, única fonte de educação da colônia, não escapou da ira de sua majestade, monarca absolutista, seus desatinos reino afora, por isso, foi apelidada de rainha louca, “Maria a louca”.
Descoberta a trama, delatada por Silvério dos Reis à corte, os principais inconfidentes foram presos, condenados a morte, porém, o receio de tanta crueldade, levou-a a comutar a pena de morte, exceto Tiradentes, os demais, foram degredados para a África. Joaquim Xavier da Silva – O Tiradentes – foi condenado à forca, era ele o principal líder da conspiração, sonho libertário, independência, da corte espoliadora, por isto, para imprimir medo aos demais súditos, tinha que ser enforcado, esquartejado e as partes do corpo, salgadas e expostas, em pontos diferentes da colônia. Tiradentes, antes de ser enforcado disse à multidão que assistia seu martírio: “Mil vidas eu tivesse, mil vidas eu daria, pela libertação de minha pátria, do jugo Português.”. A oração, Liberdade, Liberdade, ainda que tardia, lema da bandeira dos inconfidentes, era de Virgilio, 70 a.c, inspirou os conjurados a começar pelas Minas Gerais e, a partir dela, todas as demais capitanias, de igual forma que as colônias na América do Norte, aderiram à emancipação da Inglaterra.
Louvemos o gesto singular, primeiro grito marcante de libertação do reino, feito pelos inconfidentes, passado, pouco mais de uma década, ele começaria a si consumar, pois, D. João VI acossado pelo sonho, outro sonho, sonho de grandeza de Napoleão Bonaparte, imperador de França, consubstanciado a formação de um império mundial como foi, outrora, o Império Romano, em vingança ao amor incontido do reino Português à Inglaterra, sua ferrenha adversária na briga pelo domínio do mundo, invadia Portugal. Antes que se tornasse prisioneiro do Imperador de França, escoltado pela sua benfeitora, que apoderou de quase todo o ouro que extorquiu da colônia, partiu, as pressas, para a então, colônia brasileira. O Rei, em gesto visionário, histórico, elevou o Brasil à condição de estado, reino unido Portugal, Algarves, Brasil este cetro do reino, hurra! Declara abertos os portos, então proibidos a todas as nações do mundo, tornando realidade o desejo, há muito acalentado, pela colônia brasileira.
Nem bem, por ironia do destino, o Brasil emancipa tornando-se Reino Unido, injunções internacionais derruba a sanha plenipotenciária de Napoleão Bonaparte, ao ser derrotado, na batalha naval de Trafalgar, pela Inglaterra. Começa, com a mudança abrupta, a luta pela volta do rei à Portugal, e, respectivo rebaixamento do Brasil, a condição de colônia de outrora, isto, reacende a sua ânsia libertária, assim, para não perder a coroa e conservar a colônia, agora, parte do império, volta a Portugal deixando aqui, seu filho, o príncipe D. Pedro. Ao voltar, oficiosamente, teria dito ao filho esta frase textual: “Pedro, o Brasil, brevemente, separar-se-á de Portugal, em assim sendo, coloco a coroa sobre tua cabeça, antes que algum aventureiro lance mão dela”.
De igual forma, as cortes passaram a tramar contra a continuação do Brasil como parte do Império, tudo fazendo, agora, para a volta do príncipe herdeiro ao reino, em Portugal, o que se torna imperativo, com a morte de D. João VI. Isto acelerou a luta bem mais, pela independência, quando D. Pedro I, as margens do ribeiro Ipiranga, província de São Paulo, bem ilustrada na tela de José Américo, instado à volta perante as tropas e autoridades que o acompanhava da província do Rio de Janeiro para São Paulo, ao ler as determinações chegadas do reino, proclama: Brava gente! As cortes portuguesas querem mesmo escravizar o Brasil, fazendo o brado de Independência ou morte! Consegue o imperador reinar por algum tempo, no entanto, autoritário, a cada dia mais e mais irado com seus súditos, inclusive, ministros, como José Bonifácio, ardoroso inspirador da proclamação, acaba para não perder o trono de além-mar, abdicando, em favor de seu filho, ainda infante, Pedro II.
A persistente conspiração da corte, a volta do Brasil à condição de colônia, induz à luta pela maioridade do Príncipe, o que levou a instituição da Regência Trina, a qual, com a ação resoluta, maestria do regente e padre, Diogo Feijó, consumou a sua maioridade, consolidando o Império. Em seu gesto visionário, Diogo Feijó perdeu a popularidade do momento, afrontando toda a trama, contrariedade da corte, sempre conspirando, mordomias, privilégios, entretanto, desafiando-as consolidou o Império, conquistando a admiração das gerações vindouras.
Tudo isto leitor, para chegar - embora, o mártir Tiradentes, D. João VI, D. Pedro I, os proclamadores caudilhistas-positivistas da república - aos quase duzentos anos de independência da coroa portuguesa, sem a nossa, de fato, libertação sociopolítico-econômica, pois o estado foi criado para servir a sociedade, mas por falta da cultura, sempre regateada pelos sucessivos ocupantes do poder, a principio, a corte acabou ou não, serva do estado? Veja só, paga tributos de primeiro mundo, a nossa carga tributária atual é de 36% do PIB, era 25%, a 20 anos. Entretanto, por causa da má gestão, recebe serviços mormente, em áreas vitais, como educação, atente para dados da realidade atual: 53% dos professores ministram mais de uma matéria, na física 59% dos que ministram aulas, não tem formação adequada. Na matemática 51%, no português 42%, são inadequados: saúde, segurança, abaixo do sofrível.
Por isso, você contribuinte, tem que cutucá-los com vara curta, para esta ingente tarefa, há que se montar um sistema de controle externo, para atuar, agir, de forma concatenada, com o agora nascente controle interno: Ministério Público, Tribunais de Contas, STF e o próprio poder legislativo que vive ainda, mais na base da cooptação, do que coalizão, senão atente para os escândalos recentes e atuais: Mensalão e Petrolão. Que tal um projeto de lei canalizando para a adequação de professores, combate a delinquência, no caso, os meninos abandonados, toda verba propinada da Petrobras? Portanto, leitor, faça corrente, forme opinião, tanto exaltando a figura estóica de Tiradentes, no passado, pátria livre do jugo português, como agora, livre dos maus gestores, aves de rapina, que vem mascarando nossa independência sociopolítico-econômica, pois, virtualmente, você continua burra de carga do estado, e, de carruagem luxuosa dos ocupantes do poder, maus gestores públicos. Dia 21 de abril, exaltem a memória de Tiradentes, engajando, desta feita, na luta, pela libertação da república dos corruptos e corruptores, inimigos da democracia.
(Josias Luiz Guimarães, veterinário pela UFMG, pós-graduado em filosofia política pela PUC-GO, produtor rural)