Opinião

Jesus cura um jovem possesso

Diário da Manhã

Publicado em 3 de abril de 2016 às 01:57 | Atualizado há 9 anos

No dia seguinte, ao descerem eles do monte, e chegando Jesus junto aos outros discípulos, ele viu uma grande multidão em redor deles e uns escribas discutindo com eles.

E logo que toda a multidão o viu, ficou surpreendida e acorreu para saudá-lo.

Então ele perguntou-lhes: “Que é que discutíeis com eles?”

E eis que respondendo-lhe um homem do meio da multidão, ajoelhou-se diante dele e disse:

“Senhor, tem compaixão de meu filho, porque é lunático e sofre muito, porque muitas vezes cai no fogo e frequentemente na água. Suplico-te que venhas ver o meu filho, porque é o único que tenho, e eu o trouxe à tua presença possesso de um espírito mudo. E eis que, quando o espírito o toma, imediatamente o faz gritar, lança-o por terra, sacode-o com violência, fazendo-o espumar, range os dentes e vai definhando. E dificilmente se retira o espírito, deixando-o dilacerado. Pedi a teus discípulos que o expulsassem, mas eles não puderam”.

Jesus respondeu: “Ó geração incrédula e perversa, até quando estarei convosco? Até quando vos suportarei? Traze aqui teu filho”.

E eles o levaram. Quando se aproximava, logo que o espírito viu a Jesus, agitou com violência o menino e o lançou por terra, onde se contorcia espumando.

Jesus perguntou ao pai: “Há quanto tempo lhe sucede isto?”

Respondeu ele: “Desde a infância. Muitas vezes o tem lançado no fogo e na água para fazê-lo morrer. Mas, se alguma coisa podes, tem compaixão de nós e ajuda-nos”.

Então Jesus lhe disse: “Se podes?! Tudo é possível àquele que crê!”

Imediatamente o pai do menino exclamou, dizendo com lágrimas:

“Eu creio! Ajuda a minha incredulidade!”

Vendo Jesus que a multidão afluía, repreendeu o espírito impuro, dizendo-lhe: “Espírito mudo e surdo, eu te ordeno: Sai deste jovem e nunca mais entres nele!”

E ele, gritando e agitando-o violentamente, saiu; e o menino ficou como se estivesse morto, de modo que muitos diziam: “Está morto”.

Jesus, porém, tomando-o pela mão, o levantou e ele se ergueu, e Jesus o restituiu a seu pai. E maravilharam-se todos com a grandeza de Deus.

E depois que entrou em casa, perguntaram-lhe os discípulos, em particular: “Por que não pudemos nós expulsá-lo?”

Respondeu-lhes Jesus: “Por causa da vossa incredulidade, pois em verdade vos digo: se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a esta montanha: Passa daqui para lá, e ela passará, e nada vos será impossível. Quanto a essa espécie de demônios, não é possível expulsá-la senão pela oração e pelo jejum”. (Evangelhos de: Mateus, cap. 17, vv. 14 a 21 – Marcos, cap. 9, vv. 14 a 29  – Lucas, cap. 9, vv. 37 a 43a).

Jesus curou um jovem que era filho único, portador de uma possessão espiritual desde a infância, causada por um espírito mudo e surdo. Nesse episódio, verifica-se que muitas curas eram operadas por meio dos discípulos de Jesus, sob a influência do poderoso magnetismo da presença do Cristo. No entanto, esse caso de possessão espiritual não foi solucionado pelos apóstolos porquanto, segundo Jesus, eles ainda necessitavam de elevada condição evolutiva espiritual para operar curas diante de casos semelhantes a esse.

Tal fato é típico de uma perseguição contumaz, de uma vingança, provavelmente em decorrência de alguma atitude do espírito do jovem numa encarnação pretérita que feriu profundamente o espírito obsessor. Quase sempre, o espírito obsessor é alguém que busca fazer justiça com as próprias mãos. A traição no campo da afetividade é uma das principais causas das relações entre obsessores e obsidiados. Todavia, naquele instante, Jesus impediu que a tortura espiritual prosseguisse e que a vingança se consolidasse mais tarde com a morte do jovem.

Esse episódio ocorreu no dia seguinte depois da transfiguração. Logo que desceram do monte, Jesus e seus apóstolos Pedro, Tiago e João encontraram os outros apóstolos no meio de uma multidão e observaram alguns escribas discutindo com eles. Ao indagar a respeito do motivo da discussão Jesus recebe como resposta a súplica de um pai aflito em favor de seu único filho que sofria de uma possessão espiritual desde tenra idade.

As características da possessão espiritual que atuava no jovem são incomuns. O espírito obsessor não apenas torturava o jovem com a sua influência, mas também parecia querer humilhá-lo diante de seus familiares, dos amigos da família e da sociedade. O espírito gerava dolorosos espasmos e constrangimentos físicos e morais por meio da desconfiguração e da violência ao atirar o jovem no fogo e na água, gesto simbólico representando a contradição e a falsidade. Curiosamente, esse espírito obsessor nada falava, mas tinha poderes sobre a sua vítima, a qual também estava em sintonia e em endividamento perante a lei divina, sem o qual a possessão não teria ocorrido.

Diante do quadro apresentado e da impossibilidade dos apóstolos em curar o enfermo, Jesus respondeu ao pai do enfermo: “Ó geração incrédula e perversa, até quando estarei convosco? Até quando vos suportarei? Traze aqui teu filho”. Nesse momento, Jesus censura a má vontade do ser humano em mudar o seu comportamento em prol de um mundo melhor. O Mestre não aceita o recalcitrante, o perseguidor, o incrédulo e o ardil. Questiona até quando o nível primário de atraso intelecto-moral permanecerá na Terra. Jesus nunca negou o seu amor por toda Humanidade, mas sempre se opôs à crueldade e ao egoísmo dos ignorantes, dos poderosos e dos déspotas.

Também Moisés, antes de entrar na Terra Prometida, permaneceu no deserto, andando em círculos, esperando que a geração viciada de hebreus, libertos da escravidão egípcia, fosse substituída por outra que não havia sido contaminada por hábitos danosos à sagrada fé do Deus Único. Somente depois dessa renovação, o povo de Deus estaria apto a entrar na “Terra onde se brotava leite e mel”. Do mesmo modo, somente os “mansos e pacíficos” podem herdar a Terra, ou seja, merecem viver eternamente num mundo venturoso, seja corpóreo ou extracorpóreo.

Ao apresentarem o jovem enfermo ao Mestre, o espírito obsessor reagiu com violência. Depois de detalhar as características da obsessão, o pai incrédulo ainda disse ao Mestre: “Se alguma coisa podes, tem compaixão de nós e ajuda-nos”. Jesus censurou a incredulidade do homem ao responder: “Se podes?!” E completou, revelando um mandamento: “Tudo é possível àquele que crê!” Ao escutar essas palavras de Jesus, o homem, em lágrimas, arrependido por duvidar dos poderes de Jesus, afirmou que acreditava, mas ainda solicitava ao Mestre que o ajudasse apesar de sua incredulidade. Depois desse diálogo entre o pai aflito e o Messias, o espírito obsessor saiu definitivamente do jovem, sob a ordem poderosa do Mestre, que ergueu o jovem e o restituiu a seu pai. Desse modo, a discussão quanto à possibilidade da cura do jovem havia terminado e todos ficaram maravilhados e agradecidos a Deus.

Os discípulos, no entanto, não compreenderam porque não puderam expulsar o espírito obsessor. Jesus explicou-lhes que foi devido à incredulidade deles. A fé que possuíam não era suficiente para operar tal cura. Ainda faltava aos apóstolos nível espiritual suficiente para confiar na misericórdia do Pai, nível capaz de superar todas as barreiras do medo e das inseguranças da alma. Mais uma vez, o divino Amigo aproveitou a oportunidade para revelar que se tivermos uma pequena fé, ainda que seja do tamanho de um grão de mostarda, haveremos de transportar montanhas. Todavia, essa fé é construída por meio de uma perfeita sintonia com Deus decorrente da prática da oração e de uma vida física e mental proba, justa e caridosa, ou seja, de uma vida de jejum ou de abstinência de injustiças e de desamor.

A cura do jovem possesso é uma grande mensagem de fé, ou melhor, de certeza de que Deus tem o controle de tudo e que nada acontece sem a Sua autorização. Não estamos entregues aos nossos caprichos, ilusões e desmandos. As lei de Deus são perfeitas, precisas, rigorosas e misericordiosas. Ai de quem duvidar disso! Jesus demonstrou essa Verdade em todos os momentos de sua estadia sobre o orbe terrestre. Todos os ensinos e ações do Mestre foram para demonstrar a presença de Deus em nossas vidas. Curemos, portanto, as a nossas possessões decorrentes da incredulidade, as quais nos atiram no fogo das paixões desgovernadas e na água pantanosa da ociosidade espiritual, iniciando com a recomendação do Mestre: “Vai e não peque mais” (João, 8:11).

 

(Emídio Silva Falcão Brasileiro é membro da Academia Espírita de Letras do Estado de Goiás, autor da obra A Caminho do Deserto)

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